Responsabilidade

Como o posicionamento de veículos de imprensa após o massacre na creche de SC reforça o papel social do jornalismo?

Por Redação

07/04/2023 12h00

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Em uma era de desinformação e incerteza desenfreada para jornalistas e seus públicos, o jornalismo ético desempenha um papel fundamental em ajudar a criar estruturas efetivas na redação e processos de reportagem

 

Após a prisão do homem de aproximadamente 25 anos, que invadiu a creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau, Santa Catarina, matando quatro crianças nesta quarta-feira (5), a grande imprensa decidiu não revelar a identidade e outros dados sobre ele. 

 

Jornais de circulação nacional como o Estadão, O POVO, veículos como o G1 e o Grupo Globo explicaram os motivos pelos quais não iriam mostrar imagens e informar dados como nome aos leitores, internautas ou telespectadores.

 

 

 

 

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No caso do Grupo Globo, a notícia foi dada durante o Jornal Nacional na  quarta-feira (5). Antes, a emissora tinha como norma divulgar os dados do criminoso apenas uma vez.

 

 

 

O Sleeping Giants Brasil também entrou na campanha de mobilização dos veículos e lançou um vídeo onde pede para que as emissoras acatem a decisão de não estampar os rostos e nomes dos autores dos crimes.

 

 

 

A proximidade entre ataques é atribuída ao “efeito contágio” porque as pesquisas mostram que esses incidentes geralmente ocorrem em aglomerados e tendem a ser contagiosos. E a cobertura intensiva da mídia parece impulsionar o contágio, dizem especialistas em psicologia.

 

Certos perfis de assassinos – como o da maioria dos serial killers – agem motivados pelo desejo de virar uma celebridade. Querem aparecer na televisão e despertar a idolatria das pessoas.

 

No ano passado, vimos o exemplo negativo suscitado por ‘Dahmer: Um Canibal Americano’. A produção da Neflix transformou o serial killer Jeffrey Dahmer em figura pop e crush de muita gente. Jovens do TikTok até imitavam dancinhas feitas pelo assassino na série. O horror vivido pelas vítimas foi ofuscado.

 

Estudos realizados principalmente nos Estados Unidos, onde já foram registrados mais de 100 tiroteios em massa até março deste ano de acordo com o Gun Violence Archive, que consiste em um grupo de pesquisa que rastreia esse tipo de ocorrência usando documentos da polícia, confirmam esse efeito contágio e apontaram que para cada um ataque à escola são desencadeados outros três.

 

“Em grande parte isso acontece por conta da visibilidade que esses casos acabam tendo. A partir do momento que você divulga, que você traz muita visibilidade para essa situação, de uma determinada forma, você acaba estimulando casos semelhantes. Esse tipo de exibição é extremamente prejudicial”, explicou Marta Avancini, jornalista e editora da Associação de Jornalistas de Edicação (Jeduca).

 

E não é só a cobertura midiática que impulsiona esse contágio. Na era das redes sociais, a disseminação de informações – ou desinformação – é um dos fatores que podem influenciar no aumento de casos. Logo após o ataque recente na Escola Estadual Thomazia Montoro, em São Paulo (SP), a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo registrou sete boletins de ocorrência com possíveis planos de ataques a escolas feitos por adolescentes. A instituição suspeita que a ampla divulgação de casos pela imprensa contribuiu para esse aumento.

 

Vale destacar que existe um projeto de lei, de número 1585/19, que proíbe a divulgação de nomes e a veiculação de fotos, vídeos e imagens que permitam a identificação de autores de crimes que provoquem terror social, como massacres em igrejas ou escolas. 

 

A proposta tramita na Câmara dos Deputados e é de autoria do deputado Dr. Jaziel (PR-CE)