Em ambientes de trabalho onde coexistem diferentes gerações, desde os tradicionais veteranos aos jovens da geração Z, a escolha da linguagem adequada torna-se fundamental, com respeito às normas culturais e às preferências individuais visando a promover uma atmosfera colaborativa e produtiva.
Nesse cenário, o consultor, mentor e professor Elber Mazaro explica que o primeiro desafio é evitar os rótulos associados às gerações citando isso como “verdadeiras armadilhas” e destacando que a figura da liderança deve se portar como modelo e referência, demonstrando a capacidade de ouvir a todos, e se adaptando às características de cada grupo. “A linguagem é responsável pela compreensão da mensagem, então é fundamental na construção de uma cultura organizacional, que normalmente estimula a colaboração e busca mais produtividade”, afirma.
A linguagem é responsável pela compreensão da mensagem sendo fundamental na construção de uma cultura organizacional. Elber destaca que é importante que esta tenha a amplitude para alcançar a todas as gerações, sem criar conflitos e, para isso, faz-se necessário os eventos pensados e planejados para a construção de um ambiente mais humanizado e com diálogos construtivos visando a orientar as atitudes e comportamentos que desenvolvem a cultura da organização de maneira a que todos se sintam bem.
Assim, o especialista, que há mais de 30 anos lidera e assessora profissionais e negócios de diversos portes e segmentos, salienta que as empresas devem perceber que a inovação só ocorrerá por meio de uma comunicação fluída, diversa e inclusiva, onde a tradição precisa ser atualizada para que os jovens entendam o seu sentido e queiram participar, e a linguagem na comunicação deve ser ampliada para contemplar o público-alvo da mensagem, que se for para todas a gerações, pode ser simples, mas clara, objetiva, direta e respeitosa. Na busca por um bom convívio, ele ressalta: “os canais devem estar abertos para ouvir e, se necessário, viabilizar a adaptação da mensagem e de seu formato sempre buscando o diálogo construtivo, pois na colaboração não há espaço para imposições unilaterais”.
Neste contexto, a tecnologia pode ser aproveitada de muitas maneiras. Como exemplo, Mazaro cita a nova demanda de interação com sistemas de inteligência artificial, onde é preciso comunicar e pedir ao sistema o que se deseja, exigindo certo vocabulário e clareza. “Muitos das gerações mais novas podem se apoiar nos mais experientes com um repertório mais amplo para criar os ‘prompt’ que trarão as melhores respostas”. A tecnologia, segundo ele, também permite o acesso a múltiplas mídias, facilitando assim a criação multimídia, que viabiliza sons, vídeos, fotos etc.
Roberta Tavares, coordenadora de Jornalismo (TV e redes sociais) da Jangadeiro, é um exemplo de uma liderança jovem nessa nova conjuntura no ambiente de trabalho. Em uma redação com profissionais dos 18 aos 60 anos, ela destaca que liderar pessoas de várias idades e gerações se tornou uma oportunidade de crescimento: “eu aprendo muito com eles, coisas que vão além do trabalho. Todos ficamos no mesmo ambiente, o que facilita a comunicação e ajuda na quebra inicial da possível barreira que poderia vir a surgir.” Ela enfatiza que ter várias gerações em um time é o ponto forte de uma equipe, e não o seu gargalo.
A respeito dos feedbacks e sugestões dos membros mais velhos, Roberta ressalta que os recebe com escuta ativa e levando em consideração as sugestões de todos, independente da faixa etária ou do tempo de empresa, reforçando que as diferentes gerações precisam se conhecer para poderem se compreender, ao invés de reforçar qualquer disputa. Ela revela que para diminuir essa “lacuna digital”, uma das ações promovidas pela Jangadeiro foi um curso de captação e edição de conteúdos pelo smartphone, como forma de impulsionar e dividir conhecimentos com as gerações que não “nasceram” com um celular na mão. Nessa prática, diferentes gerações puderam compartilhar experiências e superar a dificuldade inicial com o aparelho e os aplicativos.
Gerações diferentes são sinônimo de comunicação diferente? Nem sempre. As reuniões são presenciais com a possibilidade de participação virtual, trabalho remoto para alguns setores em situações pontuais, grupos de WhatsApp para compartilhamento de informações, disparo de newsletter com novidades da empresa mostrando que esta está cada vez mais atenta ao digital. “Isso vem sendo introduzido, de forma muito tranquila e gradativa na mente e no dia a dia dos colaboradores, seja qual idade tenham. No final das contas, ter várias gerações em um só time não deve ser considerado um conflito; mas, sim, um encontro, onde cada uma pode surpreender e mostrar o seu poder de se adaptar ao velho e ao novo”, defende Roberta.
“’Pra quê e-mail se eu tenho como enviar uma mensagem e já receber a resposta de imediato no Whatsapp?’; ‘Essa matéria é a cara do Instagram!’; ‘O vídeo precisa ser gravado na vertical, porque vai ser postado como reels’. Essas falas são as que mais escuto de membros da equipe. E você me perguntaria convicta: “é alguém mais jovem?”. A resposta é “não”. São frases de pessoas de 50, 60+. Ou seja, as tecnologias já estão enraizadas neles também. Mas como? A resposta é simples, não tem segredo, eles estão dispostos a se adaptar e estão gostando de viver isso. Você ter o privilégio de fazer parte de uma equipe assim é incrível”, complementa.