Você atendeu seu celular hoje? Arrisco dizer que, se o número não estava salvo na sua agenda, você provavelmente ignorou a chamada. Me peguei refletindo sobre isso outro dia: o que já foi o maior canal de vendas de todos os tempos foi quase destruído pelo excesso. Agora, sinto que o mesmo fenômeno está acontecendo em alta velocidade nos nossos feeds.
As redes sociais, que nasceram como plataformas de conexão humana, estão se transformando em redes comerciais. A sensação é a de andar por um shopping center digital onde todos gritam, tentando vender tudo, o tempo todo. O resultado? O excesso de ruído quebrou a conexão. Estamos cansados de interrupções. Esse cansaço não gera só indiferença; ele afasta clientes de marcas que, talvez, até tivessem algo bom a oferecer. Mas, em meio a esse cenário, um movimento oposto, mais silencioso e muito mais poderoso, vem ganhando força.
A diferença crucial é que essas marcas entenderam que o jogo não é sobre o que elas vendem, mas sobre o que elas representam. Essas marcas não constroem apenas clientes, mas uma verdadeira legião de fãs. Pessoas que compram a marca antes mesmo de decidirem qual produto vão levar. Elas não compram apenas, elas pertencem. Elas confiam. Elas defendem.
Isso me remete diretamente à visão de Steve Jobs. Ele dizia que, em um “mundo complicado e barulhento”, o marketing não é sobre produtos ou especificações técnicas; é sobre valores. O cliente precisa saber com clareza o que a sua marca defende. Essa é a essência do “Golden Circle”, de Simon Sinek. Essas marcas possuem um “Porquê” claro, que vai muito além do produto. Elas não vendem um “O que”; elas convidam o cliente a fazer parte de uma crença, de um movimento. Elas cumprem suas promessas e geram experiências marcantes porque sabem que seu valor real está na transformação que provocam.
Tentando fugir de tanto ruído e buscando essa conexão verdadeira, as marcas mais atentas estão mudando o playbook. Elas entenderam que a era da comunicação unilateral acabou. A busca agora é por conteúdo “humanizado”. Vemos marcas trocando o megafone de grandes celebridades pela voz autêntica dos microinfluenciadores, que mostram os bastidores e criam conexões reais, não roteirizadas. O público anseia por essa autenticidade.
E talvez o movimento mais estratégico seja o fortalecimento dos canais próprios. Diante da incerteza sobre o futuro das plataformas e da dependência dos algoritmos, há um redirecionamento de esforços para blogs, podcasts e, principalmente, newsletters. Esses são terrenos onde a marca controla a narrativa, onde o público escolhe estar, e onde a conexão pode ser cultivada sem a interferência do leilão de atenção.
O “bad marketing” olha para o cliente como um alvo a ser atingido. O bom marketing enxerga o cliente como um humano a ser conectado. No fim das contas, as marcas que vão sobreviver e prosperar não são as que fazem mais barulho, mas as que conseguem se conectar com seu público e construir uma relação duradoura.
