Nas últimas décadas, a crescente conscientização dos consumidores sobre questões sociais, ambientais e éticas vem alterando o comportamento do consumo global
Como sociedade, estamos cada vez mais atentos aos impactos que nossas ações do dia a dia geram no mundo. Nunca se falou tanto em “consumo consciente” e práticas responsáveis. Apesar de ainda estarmos engatinhando na implementação de modelos sustentáveis, a boa notícia é que temos percebido uma evolução na maneira que estamos atuando como indivíduos e como empresas.
Como consultora da Cambridge Family Enterprise Group (CFEG), atuo diretamente com famílias empresárias que buscam integrar sustentabilidade em seus negócios e gerar impactos positivos na relação com todos os seus stakeholders. O foco passa a ser não apenas no lucro, mas também no fortalecimento da reputação (da família e da empresa), na melhoria das relações com clientes e com a mídia e na qualidade de vida de seus colaboradores. Hoje, não basta reduzir os impactos negativos: é essencial que nossas ações e hábitos de consumo gerem um impacto positivo.
Para começar, vamos esclarecer o conceito de consumo consciente e quais os fatores que vêm impulsionando esse movimento.
Consumo consciente é a prática que considera os impactos sociais, ambientais e econômicos gerados em todo o ciclo de vida dos produtos e/ou serviços. Trata-se, como o próprio nome diz, de ter consciência no momento do consumo, de se interessar pelo processo de produção para, com base nesse conhecimento, tomar decisões mais responsáveis.
Um consumidor consciente é aquele que entende as implicações de seus hábitos na aquisição de um produto ou um serviço. Isso inclui questões como produção, cadeia de suprimentos, direitos dos trabalhadores, pegada de carbono e impacto social das empresas.
Os principais fatores que vêm impulsionando esse movimento são:
- Meio Ambiente: opção por produtos que minimizam o impacto ambiental, como aqueles feitos de materiais reciclados (incluindo embalagens), biodegradáveis e produzidos de forma sustentável. A preocupação com o aquecimento global, a poluição e a escassez de recursos naturais são os motivadores centrais.
- Ética e Responsabilidade Social: as condições de trabalho dos produtores são questões relevantes. Consumidores conscientes preferem apoiar marcas que tratam seus trabalhadores de forma mais justa, respeitando os direitos humanos. Trabalho infantil ou escravo são pontos que merecem extrema atenção.
- Governança: com mais acesso à informação, consumidores vêm exigindo mais transparência das empresas e das lideranças. Eles valorizam marcas que fornecem informações claras sobre como seus produtos são feitos e comercializados e estão mais dispostos a apoiar as que demonstram um compromisso real com a sustentabilidade.
- Saúde: há uma crescente demanda por produtos que promovem a saúde e o bem-estar, como alimentos orgânicos e cosméticos naturais que não utilizam testes em animais.
Vamos aos dados. De acordo com a pesquisa Global Consumer Insights Pulse Survey 2023, da PwC, apenas 10% dos entrevistados ainda não se preocupam com questões socioambientais nem mudaram nenhum de seus hábitos de consumo, enquanto mais de 40% disseram que se preocupam bastante com essas questões e vêm transformando de forma ativa suas formas de consumir.
O importante papel das empresas nesse cenário
Para atender a esse novo perfil de consumidor, muitas empresas decidiram se adaptar e inovar. Passaram a investir em práticas de sustentabilidade, adotando políticas de transparência e responsabilidade social e comunicando de forma eficaz seus valores para construir uma relação de confiança com o seu público.
Além disso, para atender à pressão do mercado, muitas empresas estão buscando certificações, como selos de comércio justo, orgânico, cruelty-free, entre outros, que ajudam a garantir o cumprimento de critérios éticos e ambientais.
A realidade é que, apesar do crescimento do consumo consciente, ainda existem desafios significativos que dificultam o acesso e a adoção dessa prática em todo o mundo, entre eles:
- Greenwashing: falta de transparência e disseminação de informações enganosas fornecidas por empresas que se dizem sustentáveis, mas não são;
- Custo e preços praticados: geralmente os valores de produtos éticos e sustentáveis são mais altos, o que dificulta o acesso pela população de baixa renda.
O movimento de consumidores mais comprometidos com a sustentabilidade está ganhando força, influenciando como empresas operam e como produtos são desenvolvidos e comercializados. Essa tendência marca uma mudança cultural significativa, na qual o poder do consumidor está cada vez mais atrelado à consciência de suas escolhas. Apesar de estarmos ainda longe do ideal, o futuro parece caminhar em direção a um maior equilíbrio entre crescimento econômico, cuidado ambiental e responsabilidade social.
Em nossa longa jornada apoiando famílias empresárias na CFEG, temos observado um crescente interesse pela integração dessas práticas sustentáveis aos negócios. Se você tem interesse em entender como a evolução do consumo consciente pode impactar seu negócio, venha conversar com nossa equipe. Teremos muito prazer em trocar ideias sobre esse tema para que possamos caminhar juntos em direção a um consumo com novos valores.
Sobre Claudia Travassos:
Claudia Travassos é Consultora Sênior na Cambridge Family Enterprise Group e possui experiência em gestão de Family Office, governança familiar e desenvolvimento de futuros acionistas. Atuou em consultoria de comunicação, sendo responsável pela gestão de projetos de cultura organizacional e planejamento estratégico. É graduada em Direito pela Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais Vianna Júnior, em Minas Gerais. Cursou desenvolvimento organizacional na FGV-SP, governança em empresas familiares na PUC-RJ, Comitê ESG no IBGC, Social Construction pelo “The Taos Institute” e Educação Executiva em Gestão pela Universidade de St. Gallen, na Suíça.