Desvio padrão

Publicado em

05/02/2024 15h01

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Guerra e paz. Qual a dinâmica? Silêncio e entusiasmo textual: como afetos passivos, que inibem o agir, coexistem com os afetos ativos, que revelam a potência da agência? Não versarei nesta croniqueta sobre Espinoza. Reclamo afastamento padrão. Estréio 2024 remetendo polarizações. No domínio da experiência do ator-usuário (UX), expresso desvinculações durante uma interação, referentes a desvios e mudanças de direção.

É certo que a linguagem preterida por diferentes grupos conversacionais tematizadas (ex: “grupo de futebol”, ou “grupo de política) pode variar ao longo do tempo. O fato sugere observar se há padrões de estabilidade simbólica, indicando “consistência” nas discussões, ou “flutuações”, indicando mudanças na modalidade de como os grupos se comunicam.

A teoria do “tempo de relaxamento” propõe usar o conceito estatístico de desvio padrão para medir a dispersão ou variabilidade na linguagem ao longo do tempo. Exprimo, assim, formas para aferir as dinâmicas de comunicação com repetidos atores-usuários. Como esses intérpretes podem se manter coesos ou passar por transformações em suas interações ao longo do tempo?

Destaco que ao examinar a variação dos valores médios, é possível obter sagacidade sobre a estabilidade da comunicação in tempore, contrapondo-se à expectativa de diminuição constante. Ou seja, sobre o ponto comum da Guerra e da Paz conversacional.

Redesenhar itinerantemente ferramentas computacionais, tal como o Qualichat, o primeiro software open-source brasileiro que analisa grupos de WhatsApp, torna-se imperativo ao verificar experimentalmente abstrações teóricas. Farei isso ao conduzir o leitor em “tempo de relaxamento” conversacional. Aprimorar a compreensão da dinâmica textual em conversações, contribuindo para análises estatísticas mais precisas e uma interpretação mais profunda dos dados linguísticos também é mandatório a pessoa pesquisadora de experiência.

Em síntese, uma pesquisa sobre experiência conversacional imbrica atentar ao desvio padrão (ou afastamento padrão). Indica a interpretação de uma medida de dispersão de uma distribuição. Amola-se à esperança matemática ou média aritmética. Na lusofonia, sua introdução ocorreu desde o século XV do tempo comum.

Meu avô Felinto, homem dos cálculos, referenciava-o afastamento quadrático médio da média, afastamento unitário e desvio unitário. Neste instante, na pesquisa de UX, a dicção é “mais chique”: SD (standard deviation). Naturalmente, o mesmo teor. Sugiro considerar premissas qualitativas em relação a comportamentos extremos quantificável. Defendo haver intersecção entre os frames de “grande interesse” e “desinteresse” quando uma interação agenda similar ambiência interativa.

Sustento: Ao avaliar o desvio padrão durante a análise de elementos textuais em uma conversa, a pessoa pesquisadora pode averiguar as variabilidade e consistência nas respostas e interações. Especialmente, quando atores estão no âmbito comparativo. 

Recentemente, cientistas da Polônia e da Ucrânia, liderados por Dr. Krzysztof Przystupa, investigaram o desvio padrão em medidas modeladas (Standard deviation in the simulation of statistical measurements, 2023). Intentara-se validar o conceito temporal como variável do cálculo. Explorara-se diferentes estádios (equilíbrio e não equilíbrio estacionário) ao remeter a premissa de “tempo de relaxamento”.

Fitar atenção a esta tese, sugere explorar padrões de estabilidade ou flutuações na linguagem utilizada progressivamente por distintos grupos.

Explico: Ao examinar o desvio padrão, na conceituação de tempo de relaxamento, pode-se observar como os termos empregados pelos participantes se dispersam em relação à média. Busca-se, assim, elementos para medir a “consistência” ou “diversidade” nas expressões linguísticas em grupos conversacionais comparáveis.

Entendo que o desvio padrão em diferentes estádios conversacionais, ao ponderar o “equilíbrio ou não equilíbrio estacionário”, considera revelar dinâmicas específicas relacionadas à durabilidade e aos parâmetros do contexto da interação. Traduzo em dois casos fictícios: grupos tematizados como vínculos esportivos e políticos. Distintos, abre-se bases para medição da consistência e da diversidade supramencionada.

Medição da Consistência:

  • Grupo de Futebol: Na roda interativa, os participantes mantêm um padrão consistente nas expressões linguísticas. Utilizam terminologia específica do esporte, compartilham um estilo de comunicação uniforme e apresentam menor variação nas formas de expressar-se textualmente. Isso poderá ser expresso graficamente por barras equilibradas, ou seja, desvio padrão menor nas interações.
  • Grupo de Política: No grupo Político, observamos uma diversidade de expressões mais ampla. Os participantes empregam uma variedade de terminologias, estilos de comunicação e abordagens para discutir os assuntos Políticos em pautas versáteis, tal “ecologia”, “impostos”, “greve” e “ações de governo”. Essa diversidade resultaria em um desvio padrão mais elevado em comparação com o grupo de Futebol.

Medição da Diversidade:

  • Grupo de Futebol: A consistência teórica aplicada a um “grupo de Futebol” possibilita abstrair-se uma tendência para uma abordagem comum ou um pensamento coletivo em relação ao esporte tematizado. Indicaria uma menor diversidade nas expressões linguísticas dentro do contexto futebolístico.
  • Grupo de Política: Por outro lado, a diversidade no grupo de Política indica que os participantes trazem diferentes perspectivas, terminologias e estilos para a discussão política. O desvio padrão mais alto refletiria expressões linguísticas variadas, evidenciando maior diversidade nas interações políticas.

Na pesquisa de experiência conversacional, a relação entre diversidade e consistência nas expressões linguísticas não é inamovível inversamente proporcional; é exíguo conforme o contexto. Cabe um frame qualitativo explorar.

Um grupo com maior consistência nas expressões pode indicar um consenso ou padrão comum, levando a uma menor diversidade. Por outro lado, grupos com maior diversidade podem apresentar menor consistência, uma vez que os participantes adotam uma variedade de termos, estilos e abordagens. 

Impera-se cogitar no diálogo com ambivalências, sem embargo, primando que consistência e diversidade habitam espaço comum. Manter um equilíbrio entre um padrão comum e suas variações de expressões é espontâneo e inibível. Guerra e paz, tal silêncio e grito, coexistem! A dinâmica entre esses dois elementos não seguiria uma regra fixa, dependendo das características específicas do grupo, do contexto da conversa e dos objetivos da análise. 

Kochav Nobre
Auditor de pesquisa na Ernest & Young
Kochav Nobre é auditor em pesquisa na Ernst & Young (EY). Professor designado na Universidade do Estado de Minas Gerais. Pesquisador visitante do Zentrum für Medien- Kommunikations- und Informationsforschung (ZeMKI) da Universidade de Bremen na Alemanha (2022) e Max Kade German-American Center da Universidade de Kansas (2018). Graduado em Publicidade pela Escola Superior de Propaganda em Marketing, mestre em Sociologia e doutor em Estudos da Mídia.Possui mais de dez anos de experiência em pesquisa e oito anos em docência. Inventor do software Qualichat, desenvolvido em seu pós-doutoramento na UNICAMP, entre 2020 e 2022. Fundador do Ernest Manheim Laboratório de Opinião Pública.