Donnus: proprietário

Por Kochav Koren

12/06/2023 17h40

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O Ceará tem dono.

“Hoje, eu sou Dragão do Mar, no coração cidade”, lembra Calé Alencar. A terceira Figura de Nosso UX revela um framework que identifica o proprietário ante uma interação, de roda (ginga e mandinga), conversa (jeito e trejeito) e ação na mercadoria digital (clique e repentino abandono). Descrevo a pessoa que se representa como Dono: controlador, patrão, amo, chefe, proprietário, possuidor, possuinte ou senhor e senhora.

“Preto velho, preto livre, negro é o canto que virá”, continua Calé. A figura de Dona remonta ao tempo em que vivia como menino no Ceará Moleque, enquanto era o dono da bola. Hoje, evita, supostamente, ser a pessoa que centraliza muitas decisões. Tenderá a ser, se Dono menino da Bola, sem embargo. Na tela do Dono da Bola, há riqueza em ancoragens, mas fragilidades em fabricações. Ao iniciar o ato interativo (ancoragem), posiciona-se com a pompa da bola de gude ou bola de pano. Fraqueja na dissimulação, pois esta figura prefere ser mais útil àqueles que bem fabricam.

“Hoje, eu sou Dragão do Mar. Bate Maracatucar”, prossegue Alencar, Lua do Ceará. Há também o Dono do jogo, quem tecnicamente sempre eleva os desvios padrões dos elementos-vetores dos frames de interação: altos índices em ancoragens, laminações e fabricações. Quiçá engrena o início da roda. Na Capoeira, é o Mestre, Contramestre ou Professor, e ao fazer um PIX, sua maior frustração é quando um impulso criativo UX muda toda a sua tela. Sai com ira, contudo retorna tentando aprender.

Tem quem figure como a pessoa Dona da verdade. É execrável. Atrai apenas semelhantes, também dependentes. Os últimos serão alforriados. As interações entre duas ou mais donas da verdade são um caso pitoresco a ser estudado pelos pesquisadores da experiência. Sempre tem razão e não admite questionamentos em relação aos seus pontos de vista. Cristaliza-se em afirmações e teses. Se jovem, será um cientista repugnante. Se velho, desagradável. Em um ambiente de Realidade Virtual (VR), quando essas duas figuras simulam um jogo interativo, sempre perderão para a máquina. Ancoram-se ao tom da laminação e fabricam às algazarras.

Na última roda do Traço de União na Vila Madalena, conheci o Dono do samba. A jornada do Dono do Samba é uma mistura de ginga e encanto, onde ele dança ao ritmo dos sons de feedback das features. Com uma figuração controladora e dominante, o Dono do Samba revela-se como o proprietário de sua própria experiência. Ele busca ancorar sua presença em cada interação, deixando sua marca por meio de sua habilidade em fabricar e envolver-se com o produto. Ao adentrar uma roda de interações, o Dono do Samba desperta a atenção de todos ao seu redor.  

Registrei em minha segunda semana de estreia no Instagram. Já havia usado todas as funcionalidades aprendidas. Zé, seu codinome, figurou como o Owner, o proprietário. Ele entrou e todos emudeceram. Quando se posicionou ao meu lado, fabriquei. Girei o pé como um capoeirista. Seu Zé respeitou e depois me pegou, fiquei sem ar. Não consegui comboiar. Imaginei vê-lo ativando um lead no Instagram. Passaria, voltaria, subiria e desceria em seu dedo. Após duas semanas, quem sabe, ele viria se tornar o Dono do objeto.

O que digo é:

·        “Sei…” ou “Olha!…” em alto índice de ancoragem, rastreamento de ID registrado;

·        “Vou ou não vou”; em alta laminação, envolvimento com o produto e; por fim,

·        Duas semanas de fabricação: ele lamina sua Figura; “compro quando não percebem”,

Assim, seria a jornada de compras do Dono do Samba. Puro Dono da cabeça, a suposta entidade que acompanha as Personas, epíteto de “Oxoce”? E o Dono do Projeto? Quem tecerá as interações de um PO (Product Owner)? Esta é a Figura da Figura. D’us saberá.

Fernando Koren Nobre

Cientista da mídia e etnógrafo de produtos digitais. Pesquisador visitante do Zentrum für Medien- Kommunikations- und Informationsforschung (ZeMKI) da Universidade de Bremen na Alemanha (2022) e Max Kade German-American Center da Universidade de Kansas (2018). Graduado em Publicidade pela Escola Superior de Propaganda em Marketing, mestre em Sociologia e doutor em Estudos da Mídia.Possui mais de dez anos de experiência em pesquisa e oito anos em docência. Inventor do software Qualichat, desenvolvido em seu pós-doutoramento na UNICAMP, entre 2020 e 2022. Fundador do Ernest Manheim Laboratório de Opinião Pública.

Kochav Nobre
Auditor de pesquisa na Ernest & Young
Kochav Nobre é auditor em pesquisa na Ernst & Young (EY). Professor designado na Universidade do Estado de Minas Gerais. Pesquisador visitante do Zentrum für Medien- Kommunikations- und Informationsforschung (ZeMKI) da Universidade de Bremen na Alemanha (2022) e Max Kade German-American Center da Universidade de Kansas (2018). Graduado em Publicidade pela Escola Superior de Propaganda em Marketing, mestre em Sociologia e doutor em Estudos da Mídia.Possui mais de dez anos de experiência em pesquisa e oito anos em docência. Inventor do software Qualichat, desenvolvido em seu pós-doutoramento na UNICAMP, entre 2020 e 2022. Fundador do Ernest Manheim Laboratório de Opinião Pública.