O executivo e especialista em Gestão de Pessoas, Carlos Mororó, explica os impactos deste comportamento no mundo corporativo
No mundo da Gestão de Pessoas, as transformações são constantes. Recentemente, a novidade – que na verdade, não é tão novidade assim no mundo corporativo – é um vídeo na rede social TikTok que popularizou o termo “quiet quitting”. No português significa demissão silenciosa. A expressão vem sendo usada para caracterizar profissionais que defendem estabelecer limites bem definidos entre trabalho e vida pessoal, correspondendo às obrigações para continuar empregado, mas não fazendo mais ou menos do que o combinado.
Relatos nas redes sociais indicam que, apesar do que o nome sugere, os adeptos não desejam ser demitidos, mas apenas cumprir com o acordado: sair no horário, não trabalhar no final de semana e não adotar funções extras, por exemplo, são atitudes defendidas pelos trabalhadores. Os executivos e gestores em RH passaram a se questionar: “Esse é um problema dos colaboradores ou da minha capacidade de liderança?”.
No Ceará, o Grupo Camarmo é uma consultoria especializada em capital humano, com foco em recrutamento de profissionais em posição de liderança. Com atuação exclusiva no Norte e Nordeste, o CEO do grupo, Carlos Mororó, faz uma análise do perfil da geração Z e dos millenials que estão dominando o atual mercado de trabalho e são o centro da discussão no fenômeno quiet quitting:
“Estamos atravessando uma nova era em que o ecossistema de inovação está ganhando protagonismo, com destaque para as start ups, empresas de tecnologia e novas formas de negócios. Nesse contexto, as novas gerações transferem valor não só para a remuneração e o conjunto de benefícios básicos que a empresa pode oferecer, mas também estão atentas à cultura e qualidade de vida dentro do universo corporativo. Na prática, eu observo um movimento que busca equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Hoje, para uma marca ser percebida como uma boa empregadora já é necessário que ela pense em convênios com academia, espaços de lazer para o colaborador compartilhar com a família, um plano de saúde, oferta de psicoterapia, entre outros. É bem claro que a geração Z está disposta a ser protagonista da sua carreira, mas cumprindo estritamente aquilo que foi combinado com o empregador, sempre respeitando as dimensões do seu eu para além do trabalho”, conta o executivo.
A tendência chega em meio à chamada grande renúncia (“The Great Resignation”), movimento dos Estados Unidos que começou com jovens compartilhando a saída do emprego em redes sociais. Já no Brasil o número recorde de demissões mostra que os profissionais de maior escolaridade foram os que mais pediram para deixar o emprego.
Entre janeiro e maio 2,9 milhões de trabalhadores brasileiros pediram para sair do trabalho, segundo levantamento da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) a partir de dados do Caged, maior índice da série histórica iniciada em 2005. A alta nos casos de burnout também é motivo de alerta para especialistas. Mais pessoas sofrem com o esgotamento relacionado ao trabalho, o que é atribuído também à dissolução de limites entre trabalho e vida pessoal, influenciada pelo trabalho remoto durante a pandemia.
De acordo com o instituto Gallup, cerca de metade dos americanos adotaram o “quiet quitting”. No entanto, os dados da pesquisa do Gallup sugerem que isso não é novidade e nem uma tendência. Pouco menos de um terço dos trabalhadores americanos mostravam “engajamento” no trabalho, e quase um quinto deles exibiam “desengajamento ativo” (o Gallup define os “quiet quitters” como um grupo que não atende a nenhuma dessas duas descrições). As proporções oscilaram um pouco ao longo do tempo, mas estão completamente em linha com a média que existe desde 2000. De fato, as empresas que construíram seu modelo de negócios sobre uma base formada por pessoas que constantemente vão “além” das funções que seu cargo envolve estão em terreno perigoso.
Carlos Mororó explica: “Estamos identificando muitos casos de burnout. Acompanhamos processos de recolocação e transição de carreira, além de desenvolvimento de lideranças. É perceptível a crescente do esgotamento mental dos profissionais pelas exigências e expectativas que são colocadas entre empresas e colaboradores. Por isso, a nova geração está migrando para ambientes em que é possível ter mais flexibilidade e transparência na comunicação. Por isso, hoje, fala-se tanto no alinhamento de propósito das empresas e do time. O momento do profissional executar suas atividades precisa fazer sentido, trazer prazer e felicidade ao dia. Essa nova postura muda todo o cenário do mundo corporativo e impacta sim na estrutura dos negócios”, conclui.