Entenda o que as marcas estão fazendo nesse ambiente ainda em construção que indica a fusão entre o on e o off bem além do mundo físico
A brasileira de moda masculina Aramis divulgou sua nova campanha de inverno toda ambientada em uma cidade digital, a Meta Aramis. Estrelada por Cauã Reymond, a coleção conta com a jaqueta phygital (física e digital) MetaHeat, que tem três níveis de aquecimento e poder de controle de temperatura através de um powerbank, além do primeiro produto digital e NFT Aramis que permite aos compradores a entrada ao clube VIP da marca. A peça esteve disponível de forma limitada no Open Sea, o maior mercado de NFTs do planeta.
Já a plataforma Decentraland, um game que também é um marketplace para itens digitais utilizados dentro do mundo virtual, apresentou, em março deste ano, o primeiro desfile de grande porte no metaverso. Assim, a Fashion Week ganhou uma versão totalmente virtual e imersiva. Desfiles de moda em ambientes digitais já haviam acontecido antes, mas o evento de quatro dias foi um dos esforços de maior visibilidade para reunir grandes marcas ao redor – ou dentro – do conceito de metaverso, mundo virtual onde pessoas podem interagir, trabalhar e fazer compras. Na ocasião, Dolce & Gabanna, Tommy Hilfiger, Forever 21 e Paco Rabanne estiveram presentes, comercializando, inclusive, NFTs de roupas e acessórios dos desfiles.
Ainda neste segundo semestre, a Louis Vuitton promete lançar uma coleção de NFT. A novidade será disponibilizada no jogo Louis: The Game, criado em 2021 para comemorar o aniversário de 200 anos de seu fundador. A série terá quantidade limitada de tokens distribuídos aos fãs da grife e será viabilizada em parceria com Beeple, conhecido pela venda de um NFT por quase R$ 325 milhões (US$ 70 milhões), em março do ano passado. O artista digital é dono da startup Venew Labs, que está desenvolvendo conceito de NFT para outras marcas.
O que essas marcas têm em comum? Todas buscam ser pioneiras no metaverso, com foco em aproximar suas respectivas reputações dos conceitos de inovação e tecnologia que perpassam esse novo ambiente repleto de camadas digitais.
Na prática, o que é metaverso?
Não se trata apenas de um mundo 3D, realidade virtual e realidade aumentada. O metaverso é toda a fusão de on e off do nosso atual cenário. Para isso acontecer, os indivíduos foram constituindo camadas de experiências digitais, desde e-mail, sites, jogos e mundos 3D, e-commerce etc.
Segundo a especialista e autora de livros Martha Gabriel, deve-se destacar que desde o início da era digital temos vivido gradativamente uma fusão entre os mundos físico e digital. Com a aceleração da digitalização causada pela pandemia de 2020, essa fusão também acelerou, configurando um ambiente fluido entre ambientes online e offline, não apenas no trabalho, que está se tornando cada vez mais híbrido, mas em todas as dimensões das nossas vidas — relacionamentos, educação, entretenimento, negócios, etc. Assim, o metaverso evoluiu e já traz oportunidades para aqueles que o identificam muito além dos games ou dos óculos de realidade aumentada.
Atualmente, podemos ter múltiplos mundos virtuais 3D interagindo com o físico. Entre as tecnologias que ajudaram a construir e pavimentar esse caminho, destacamos Inteligência Artificial, Internet das Coisas (IoT), 5G e 6G, Blockchain, Big Data, nanotecnologia, impressão 3D, robótica e computação quântica. Todas essas tecnologias são importantes, mas o carro-chefe para a formação do metaverso é a integração entre o nosso mundo físico e digital. E a tecnologia mais importante para vencer a complexidade de todas as conexões tecnológicas é a Inteligência Artificial.
As marcas no metaverso
Nesse caminho ainda de descoberta, grandes marcas já estão explorando o futuro. Flávio Azevedo, coordenador do curso de Pós-graduação Master em Big Data Aplicado ao Marketing da ESPM explica que é um movimento ainda inaugural e experimental, mas repleto de avanços:
“As marcas estão aproveitando a onda ‘hype’ do metaverso e começam a ‘surfar’ dentro desse universo para um posicionamento com ar de inovação, criatividade e modernidade. A Nike, por exemplo, criou um mundo no Roblox para a prática de esportes, além de divulgar a sua linha de produtos. Já a Lacoste e Puma investiram em seus mundos dentro do Minecraft para explorar a venda física, aproveitando o engajamento do público com a marca. E não somente empresas do setor de moda estão marcando território, museus como o Museu de Arte Moderna (MAM), estão utilizando artistas, no caso o ator Lázaro Ramos, que tem o seu próprio avatar, para construir uma réplica também no Minecraft. Outro ponto que vai além das marcas, é o próprio marketing pessoal, quando artistas como Anita, Alok e Ariana Grande mergulham de cabeça no metaverso do Fortnite, com os seus próprios avatares”, exemplifica o professor.
Realidade brasileira
No Brasil, questões primárias como acesso à internet, consolidação do e-commerce, implementação do 5G e aperfeiçoamento da comunicação com o consumidor ainda precisam ser resolvidas para se pensar numa evolução digital direcionada à Web3 e ao metaverso. Para o professor Flávio Azevedo, é necessário fazer uma análise crítica sobre a atual conjuntura: “No caso do Brasil, um grande desafio é aumentar a presença digital do consumidor, melhorar a infraestrutura tecnológica e apresentar recursos como óculos VR e celulares mais acessíveis somados com o poder computacional adequado. Outro ponto a ser levado em consideração é romper com as barreiras da sensação de estar juntos mesmo fisicamente distantes, e tendo o metaverso como ponto de encontro para interagir, unindo diversão e entretenimento com situações que exigem maior concentração como salas de aula”.
O especialista ainda faz uma análise crítica sobre esse cenário que diverge entre o futuro dos negócios e das marcas e o presente da cultura digital brasileira: “A tecnologia no cenário atual é considerada como uma extensão do corpo humano, o que uma linha filosófica chama de transhumanismo. Nesse sentido é fundamental que exista uma separação clara do que é ficção e realidade dentro do mundo dos negócios. Essa separação será fundamental para transmitir confiabilidade e transparência aos consumidores, que nitidamente tiveram uma alteração comportamental diante do processo de transformação digital com o fator pandemia. Essa consideração será o fator da balança para a sobrevivência dos negócios dentro do metaverso”.