Rafaela Machado é diretora de Marketing e Inovação na Mota Machado e integra o Conselho Consultivo e o Conselho Gestor da empresa. A empresária tem formação em análise de Sistemas; além de conselheira de administração pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBCG); Gestão e Coaching; e experiência como trainee em Nova York pelo International Business Machines Corporation (IBM).
Susanna Marchionni é a cofundadora e CEO da Planet Smart City no Brasil. Dedicada a alcançar sua visão de transformar moradias acessíveis no mundo inteiro, por meio da integração de soluções inteligentes e programas de inovação social. Sua carreira imobiliária começou na Itália, onde gerenciou a compra, venda, renovação e revitalização de projetos. Hoje, a Planet Smart City tem uma equipe multicultural baseada em escritórios no Reino Unido, Itália, Brasil e Índia.
O impacto do envelhecimento do Brasil no setor imobiliário e suas atuais demandas para o público 50 +
A diretora de Marketing e Inovação, da Construtora Mota Machado, Rafaela Machado, e a fundadora e CEO/Brasil, da Planet Smart City, Susanna Marchionni, falam sobre a atuação do mercado imobiliário para suprir as necessidades das pessoas com mais de 50 anos na aquisição de imóveis.
NM: A oitava edição impressa do Nosso Meio aborda a temática do envelhecimento no Brasil. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2050 o número de pessoas com idade superior a 60 anos ultrapassará 2 bilhões. No Brasil, estima-se que, em 2030, seremos a quinta população mais idosa do mundo. No que isto pode influenciar no ramo imobiliário?
Rafaela Machado / Essa estimativa impacta diretamente o mercado imobiliário. Hoje, as pessoas possuem uma maior consciência e desejo de envelhecer com qualidade. A população está vivendo mais e, consequentemente, atualizando seu estilo de vida. O local para morar faz toda a diferença nesta expectativa. Construímos nossos empreendimentos, também, pensando em oferecer locais seguros e modernos. Um dos pilares da Mota Machado é seguir desenvolvendo empreendimentos que proporcionem, além do contato com a natureza e práticas sustentáveis, os principais serviços do cotidiano no seu entorno.
Susanna Marchionni / Mesmo com uma população acima de 50 anos fisicamente e economicamente mais ativa, o mercado precisa modificar seus projetos para se adaptar às demandas deste público. Por exemplo, muitos idosos procuram casas que sejam acessíveis, seguras, com recursos adaptados para a mobilidade reduzida e localizadas em áreas com serviços e comodidades próximas. Além disto, acabam desenvolvendo comunidades e anseiam por participar de atividades em comum. A construção de espaços propícios para tal são grandes diferenciais para quem quiser, realmente, se destacar no mercado. Nós, da Planet Smart City, temos um setor que atua junto aos moradores de nossas cidades inteligentes, para executar ações que despertem o sentimento de pertencimento e coletividade, estimulando a interação para toda as idades e contribuindo para seu desenvolvimento social, econômico e pessoal.
NM: De acordo com estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), pessoas com mais de 65 anos são 17% da fatia dos 5% mais ricos do país. Também, o Sebrae afirma que o consumo de produtos e serviços por pessoas dessa faixa etária é responsável por movimentar R$ 2 trilhões por ano no Brasil. Em sua análise, atualmente, como é o poder de compra no ramo imobiliário com relação à faixa etária e gênero?
Rafaela Machado / Notamos que o público 50+ possui uma maior facilidade e interesse de compra. Esta decisão, também, é uma escolha emocional e racional, em que o indivíduo alinha todas as suas perspectivas do presente em relação ao futuro. Nessa faixa etária é quando muitos conseguem realizar o sonho de adquirir um novo imóvel, com foco nos investimentos. Diversas pesquisas apontam as mulheres como o gênero que demonstra interesse nesta aquisição, mas, percebemos que o público da Mota Machado é bem diverso em gênero e em áreas profissionais de atuação. Ficamos felizes em conseguir contemplar estes nichos com os mais diversos modelos e empreendimentos: sejam entre os mais compactos, com espaços de coworking, pensando na nova configuração das famílias ou nos ambientes completos com playground, fitness, cozinha premium.
Susanna Marchionni / Como acontece em outros lugares do mundo, as faixas de renda mais baixas e as mais altas são mais estáveis financeiramente, porque são os dois extremos: um consegue comprar uma casa via subsídio do governo e o outro vai lá e compra. A classe que está mais suscetível às mudanças econômicas e, portanto, mais oscilante, é a população com faixa de renda intermediária. Para nós, da Planet Smart City, as pessoas que mais compram são jovens de 24 a 35 anos, com faixa de renda baixa/média, que se casaram recentemente ou que têm, no máximo, dois filhos. Ou seja, que desejam realmente realizar o sonho da casa própria.
NM: No ramo imobiliário existem preferências e algum padrão de imóvel mais adquirido por clientes +50? Fale um pouco sobre isto.
Rafaela Machado / Geralmente esse público procura praticidade, facilidade e conforto como: empreendimentos localizados em pontos que possibilitem fazer as atividades do dia a dia a pé; sem muita demanda de trânsito ou deslocamento – é o que chamamos de walkability ou caminhabilidade; estar a poucos metros de lojas e serviços, gastronomia e cultura. Outro fator importante em que a Mota Machado está atenta é a inovação e sustentabilidade, pois já dispomos de locais para carregamento de carros elétricos por apartamento. Também, trabalhos voltados para os pilares em relação aos consumos de energia, água e energia incorporada em materiais.
Susanna Marchionni / No Brasil, não é algo muito usual, mas, em outros lugares do mundo, como nos Estados Unidos e Europa, já é normal a construção de prédios dedicados a essa faixa etária. Há preferências e padrões. Estes prédios estão localizados próximos a hospitais e dispõe de soluções inteligentes como, por exemplo, médicos que podem ser consultados via aplicativo. Estamos pensando em trazer este formato de imóvel ao Brasil.
NM: A economia prateada é considerada a terceira maior atividade econômica do mundo, movimentando mundialmente US$ 7,1 trilhões por ano, segundo o Sebrae. Como se dá a abordagem desse público no setor imobiliário? Qual o diferencial e por quê?
Rafaela Machado / Conseguimos ter um ótimo relacionamento com essa faixa etária. Encontramos um público maduro que entende o que precisa e, em sua maioria, já teve outras experiências com imóveis. Portanto, demonstra com mais facilidade as necessidades e expectativas para o seu novo lar. Nossos profissionais e parceiros conseguem se alinhar de forma conjunta ao desejo desse cliente tornando a escolha do imóvel mais fácil e assertiva. Acreditamos que esse seja um dos fatores de possuirmos um ótimo índice de sucesso em vendas.
Susanna Marchionni / As instituições financeiras têm certas ressalvas com o público 50+, pois os prazos para financiamento são menores se comparados às pessoas de outras faixas etárias, ainda devido à perspectiva de vida. Porém é um perfil de consumidor bastante ativo e que deve ser observado com bastante atenção, pois costuma ser fiel e defende uma marca com unhas e dentes. É preciso considerar que a população está vivendo uma velhice com maior qualidade e a expectativa de vida continua em ascensão.
NM: De acordo com dados do IBGE, mais de 4 milhões de idosos vivem sozinhos no Brasil. Para o setor Imobiliário, atualmente, como está sendo o impacto na aquisição de imóveis por homens e mulheres acima de 50 anos?
Rafaela Machado / O Senior Living é um assunto que estamos conversando bastante internamente para entender as necessidades e oferecer o melhor para o idoso que vive sozinho. Este é um desafio que estamos sempre aprimorando.
Susanna Marchionni / O mercado imobiliário precisa entender que todo ser humano tem a necessidade de se socializar. Há toda uma questão social e psicológica envolvida. O público 50+ deseja espaços compartilhados e com atividades de socialização que os faça sentir que são ainda úteis e queridos
NM: Qual mensagem você deixa para mulheres seniores, tanto empresárias quanto as que ocupam grandes cargos de liderança no meio corporativo?
Rafaela Machado / Nós possuímos uma rica habilidade de gestão e esse olhar feminino faz toda a diferença no mercado, por isso, precisamos continuar trabalhando unidas para que outras mulheres também conquistem grandes feitos em seus cargos de liderança. Tenho muito orgulho em ter mulheres na gestão da Mota Machado e promover incentivos à liderança feminina. Nosso desejo é continuar ampliando essa rede.
Susanna Marchionni / O mesmo que digo para todas as pessoas que me perguntam como lidar com os desafios: nunca deixe de ser você mesma, trabalhe bem e siga em frente, firme e forte, independentemente da idade. Se cair, levante-se com um sorriso!
