Por Thayson Melo, estrategista de marketing e especialista em posicionamento digital
“Enganei o bobo na casca do ovo”. Se tivesse que resumir as últimas ações do Canva nas redes sociais, seria bem isso. E digo isso com admiração, porque o nível de planejamento, execução e timing foi simplesmente impecável.
Enquanto muitas marcas ainda insistem em anunciar como se estivessem distribuindo panfleto no sinal, o Canva fez o oposto: contou histórias, criou conversa, gerou conexão — e só depois vendeu. Resultado? Todo mundo viu, compartilhou, comentou e entendeu exatamente o que eles queriam comunicar. Mas sem cara de propaganda.
Xuxa e Gracyanne: duas narrativas, um mesmo efeito
Primeiro veio a Xuxa, protagonizando a nostalgia com uma série de conteúdos que pareciam — honestamente — um desabafo divertido, daqueles que viralizam naturalmente, inclusive mostrando “produtos” criados para aquele público. Depois, Gracyanne Barbosa, envolvida em outro enredo: uma marca de ovos premium. Algo inusitado mas que é relacionado diretamente à imagem dela. Então, veio a virada: era publicidade.
“E quando o público descobriu que era publi?”, ao contrário do que normalmente acontece, ninguém se irritou. Pelo contrário: as pessoas aplaudiram. Porque o roteiro estava redondo, a história estava bem contada e tudo parecia tão natural que a revelação virou parte do espetáculo. Isso é marketing bem-feito!
Ponto 1: Chamar atenção sem gritar: “olhem pra mim!”
O que o Canva fez foi simplesmente usar o maior gatilho da internet: curiosidade + narrativa.
Não começou dizendo “use o Canva”; não abriu o vídeo com efeitos de venda; não colocou um locutor dizendo “agora ficou mais fácil…”. Eles começaram com história. E uma boa história tem uma força que nenhuma verba de tráfego substitui.
Aqui está o ponto: ninguém quer mais publicidade com cara de publicidade. Querem ser entretidos. Querem rir. Querem descobrir algo. Querem acompanhar uma novelinha digital.
Ponto 2: Planejamento, porque nada ali foi por acaso
Quando ações assim viralizam, sempre aparece alguém dizendo: “Nossa, mas eles deram sorte!”. Não deram. Nada ali foi improvisado. Por trás do “enganei o bobo” existe: estudo de audiência, análise de comportamento, roteiros bem amarrados, timing perfeito para entrar na conversa, escolha cirúrgica dos influenciadores e um objetivo claro: mostrar que o Canva está cada vez mais integrado ao universo real das pessoas.
Planejar é essencial — mas executar bem é o que separa marca boa de marca inesquecível.
Ponto 3: Execução perfeita da narrativa à revelação
A execução foi tão bem alinhada que, quando veio a virada — “era publi!” — ninguém se sentiu enganado. Pelo contrário: riram, elogiaram e continuaram assistindo. E por quê?
Porque no final das contas, as pessoas querem histórias. Elas querem ser parte de algo. Querem acompanhar o enredo, o drama, o exagero, a reviravolta. Quando a publicidade entra como parte natural da história, ela não interrompe: ela completa.
A grande lição do Canva: não venda, conte!
Num mundo saturado de anúncios, o Canva mostrou que a fórmula não é aparecer, mas engajar. O público de hoje pula anúncio, ignora post patrocinado, desconfia de toda copy “too polished”, mas acompanha fielmente toda novela digital que envolva gente real fazendo coisas divertidas. E o Canva entendeu isso com maestria.
Se a gente fosse transformar essa análise em uma frase só, seria assim: Marketing bom não parece marketing — parece história bem contada. E quando a marca consegue amarrar narrativa, planejamento e execução como o Canva fez, não tem jeito: viraliza, vende e ainda faz o público pedir bis. No fim das contas, o que eles fizeram foi isso: “Enganei o bobo na casca do ovo…”, e o bobo gostou.
