17ª Edição

Executivas em Foco | Duas líderes, um propósito: transformar ideias em resultados reais

Por Redação

04/11/2025 14h00

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Nesta edição, a editoria Executivas em Foco destaca duas mulheres que representam a força, a visão e a sensibilidade de quem transforma ideias em resultados concretos. Ivna Moraes, diretora comercial da Mota Machado; e Lia Quinderé, CEO e fundadora da Sucré, compartilham suas experiências e reflexões sobre liderança, estratégia e propósito.

A partir de olhares distintos, elas revelam o que move quem conduz grandes empresas a inovar, inspirar e gerar impacto positivo na sociedade. Confira:

NOSSO MEIO | Qual foi a decisão estratégica mais transformadora que você tomou recentemente na empresa, e de que forma ela impactou o negócio e as pessoas envolvidas?

Ivna Moraes: Reorientação de toda a estratégia de relacionamento com corretores com a criação da Parceiro Mais Mota Machado integrada a toda uma plataforma multicanal. Ao elevar esse programa ao centro da estratégia, mudou‑se a lógica de campanhas pontuais para um sistema contínuo de valor mútuo: corretores se sentem parte de algo maior e a empresa ganha consistência no pipeline e na confiança de mercado O impacto ainda está sendo medido, mas já é notória a diferença: aumento da produtividade comercial, previsibilidade de funil, sentimento de pertencimento dos parceiros e uma cultura mais meritocrática e colaborativa internamente.

Lia Quinderé: Entendi que a performance precisa estar alinhada ao progresso. E comecei a focar em performance para financiar o progresso. E a nossa performance depende  do sell-out do varejo, não só no sell-in. Então criamos uma Jornada de Sucesso do Cliente integrada (comercial, trade, marketing e redes), com rituais simples: lojas-alvo, métrica de giro por SKU, ativação no piso e reposição rápida, e construção de marca. O impacto foi direto: time mais dono do resultado, relacionamento melhor com as redes e uma operação mais previsível. Foi quando o nosso propósito que inspira encontrou uma rotina que entrega.

NOSSO MEIO | Como você mantém sua equipe engajada e com senso de propósito, garantindo ao mesmo tempo desempenho consistente e autonomia nas entregas?

Ivna Moraes: Definição de metas claras e ações unificadas, além de um rito de gestão simples com dashboards visíveis e autonomia real sobre o “como” entregar. Reforço de propósito com a clareza da estratégia, onde queremos chegar e o como manter nosso principal ativo: a marca Mota Machado. Trabalho efetivo com contexto estratégico e direcionamento claro. Além disso, de delegação com confiança e rituais de celebração por resultado.

Lia Quinderé: Eu conecto propósito, metas claras e autonomia. Cada um define o quê entregar (resultado) e escolhe como (caminho), com OKRs trimestrais visíveis na nossa plataforma de intranet. Celebramos micro vitórias, damos feedback honesto e protegemos tempo de foco. Quando todos entendem o porquê e têm espaço para decidir, a performance vira consequência. O alto alinhamento permite a alta autonomia. Todos trabalham mais focados e mais felizes.

NOSSO MEIO | Quais práticas ou atitudes diárias você acredita que realmente fazem a diferença, aquelas que transformam o planejamento em resultados concretos?

Ivna Moraes: O que aparece nas entregas é fruto de rituais de disciplina: reuniões de priorização, revisão de indicadores, alinhamentos rápidos entre equipes, feedback constantes e ajustes de rota com base nos sinais do mercado. Transformar planejamento em ação exige olhar o dia a dia com olhos estratégicos — cada tarefa relevada ou corrigida carrega impacto no todo.

Lia Quinderé: Três hábitos: (1) Agenda que reflete prioridades. Olhando pro hoje, e dedicando tempo pro futuro. Minha agenda é dividida por cores e por temas. Tem olhar estratégico, tem tempo pra liderança e cultura, tem dia para conexões e inovação. Mas sempre focada naquilo que de fato vai transformar. (2) ⁠Começo o dia no exercício físico, que me faz ter mais energia para tocar as demandas do dia. Todo dia é dia. (3) ⁠O espiritual precisa ser prioridade todos os dias. Tempo de qualidade para escutar a Deus, e para falar com Ele. Meu sustento, minha rocha, e minha salvação. Rezo o terço todos os dias. E ao longo do dia invoco o Espírito Santo em vários momentos diferentes.

NOSSO MEIO | Em uma empresa de grande porte, diferentes áreas enfrentam desafios distintos. Como você adapta seu estilo de liderança às características de cada equipe ou projeto?

Ivna Moraes:  Nas equipes de marketing, o estímulo criativo é mais forte, o espaço para experimentação é maior. No comercial, a cadência e clareza nas metas são essenciais. Em incorporação, rigor técnico e cronogramas guiam. Em sucesso do cliente, atenção ao detalhe e empatia ganham força. O estilo de liderança se ajusta — sem abrir mão de valores fixos — para servir cada time da forma mais eficaz.

Lia Quinderé: Naturalmente sou livre e criativa. Mas aprendi ao longo dos anos a ter processo e cadência. Em operações, olho para processo e padrão; em P&D e marca, sou visão e experimentação; no comercial, tem que ter ritmo e negociação. Sou orientada por dados: desenvolvemos um BI que acompanho diariamente. KPIs diários em operações; agendas semanais em inovação; cockpit diário no comercial. O estilo muda, os princípios não: clareza, autonomia responsável e aprendizado contínuo.

NOSSO MEIO | Como você equilibra a agilidade nas decisões com a análise de riscos em um cenário cada vez mais competitivo e imprevisível?

Ivna Moraes: Nem toda decisão exige sinal verde completo — muitas podem e devem ser tomadas de forma rápida, com hipótese clara e plano de saída. Para decisões estruturais, a fase de reflexão toma mais espaço. O equilíbrio está em diferenciar o que pode ser testado de modo leve e o que demanda certeza antes de avançar.

Lia Quinderé: Acredito no “antes imperfeito que não feito”. Como empreendedora tenho apetite ao risco. Mas tenho usado uma régua: decisões reversíveis tomamos rápido, e as irreversíveis, peço mais dados, cenários e análise profunda de risco. Para lançamentos, a gente usa a metodologia de MVP, em que a gente lança, colhe feedback, melhora e relança. Agilidade com segurança é ritmo e limites claros.

NOSSO MEIO | Quais investimentos ou movimentos têm sido fundamentais para sustentar crescimento e inovação, sem perder eficiência operacional?

Ivna Moraes: O foco está no tripé: tecnologia (dados, automações, plataformas), capital humano (capacitação contínua) e marca (posicionamento consistente). Essas frentes alimentam a inovação sem perder eficiência — pois servem à execução, não à novidade por si só.

Lia Quinderé: Priorizei três frentes: Marketing e Trade é o que fazem construção de marca; P&D conectado à inovação, praticidade e clean label; e capacidade fabril (estamos aumentando em 3x a nossa capacidade produtiva). São investimentos que pagam a si mesmos: geram diferencial percebido, nos fazem alcançar performance e em consequência gerar impacto positivo. Acredito que inovação sem eficiência vira custo e eficiência sem inovação vira commodity.

NOSSO MEIO | Na sua visão, qual é o papel da comunicação (interna e externa) na consolidação da estratégia e da cultura organizacional? E como você atua pessoalmente nesse processo?

Ivna Moraes: A estratégia só se concretiza quando bem comunicada — internamente para alinhar, externamente para construir credibilidade. A voz da liderança atua com clareza, transparência e frequência, filtrando o ruído, reforçando o propósito e traduzindo decisões em histórias que toquem equipes e o mercado.

Lia Quinderé: Comunicação alinha crenças, prioriza energia e acelera execução. Por dentro, transformo estratégia em narrativa simples. Explico o porquê de tudo, e tento deixar todo mundo na mesma página. Por fora, humanizo a marca mostrando vida real e bastidores com transparência. Sou porta voz, e acredito que menos jargão, mais clareza e coerência, trazem verdade. E verdade gera conexão.

NOSSO MEIO | Olhando para o futuro, quais transformações você considera mais relevantes para o seu setor, e como sua liderança está preparando a empresa para se antecipar a elas?

Ivna Moraes: No horizonte, destaca-se um cliente mais informado, jornadas híbridas (físico + digital), exigência por experiência e transparência, e produtos cada vez mais personalizados. A preparação passa por construir vantagens defensáveis: domínio de dados, comunidade de parceiros, cultura adaptável e produtos que conversem com esse futuro.

Lia Quinderé: Consigo enxergar três ondas: produtos funcionais com comprovação (bem estar), cadeias mais sustentáveis e rastreáveis, e orientação a dados. Estamos preparando a Sucré com um pipeline de inovação que conecta com o nosso propósito. Acho que antecipar é prototipar cedo, medir e escalar o que funciona. Seja em produto, seja em gestão ou em liderança.

NOSSO MEIO | De que forma você estimula uma cultura que favorece inovação, colaboração e foco genuíno no cliente?

Ivna Moraes: Quando falhas são vistas como aprendizado e ideias são julgadas por mérito, não por quem as propôs contribui para a inovação. Estruturas temporárias de projeto e espaços colaborativos ajudam a quebrar barreiras. E manter o cliente no centro é regra e não exceção, pois todas as suas dores inspiram o trabalho das quatro áreas.

Lia Quinderé: Inovação está no nosso core. No nosso processo seletivo dos nossos líderes, avaliamos a capacidade inovativa dos candidatos. Valorizamos e celebramos as vitórias das idéias que geram resultado.  E mantemos o cliente no centro: visitar gôndola, ouvir time de campo e consumidores. E a partir da escuta ativa, entender como podemos resolver os problemas dos clientes, de uma forma diferente. É foco na execução. Do ppt ao pdv. Ideia começa como invenção e se tiver aderência, é que pode ser chamada de inovação.

NOSSO MEIO | Quais ações ou projetos você apoia para gerar impacto positivo (social, ambiental e cultural) por meio da empresa?

Ivna Moraes: Comercialmente, a empresa produz valor social quando investe no preparo dos corretores, promove iniciativas que elevam padrões no setor e escolhe práticas sustentáveis. Ao conectar propósito à operação, o impacto positivo deixa de ser periférico para ser parte da identidade da marca.

Lia Quinderé: Nosso propósito é apoiar e transformar a vida de mães. E as ações internas são diversas. Desde contratação prioritária de mães (nosso quadro é formado 63% por mulheres), a bolsa estudo, passando por assessoria jurídica para elas, licença maternidade de 6 meses, até atendimento psicológico dentro da carga horária de trabalho, na própria empresa (1h de terapia semanal, oferecida pela Sucré).

NOSSO MEIO | Em sua trajetória como líder, houve alguma decisão ou posicionamento que gerou desconforto ou resistência, mas que hoje você reconhece como essencial para o crescimento da empresa ou seu próprio amadurecimento como gestora?

Ivna Moraes: Toda transformação relevante vem acompanhada de algum nível de desconforto. Quando um processo precisa ser revisto para ampliar o impacto coletivo, seja acelerando entregas, redesenhando estruturas ou exigindo novas formas de pensar, é natural que o time sinta o movimento antes de compreender sua finalidade. O importante é manter coerência e transparência ao longo do caminho. Com o tempo, os resultados e a fluidez das novas rotinas mostram o valor da mudança. O que inicialmente gera resistência passa a ser reconhecido como um divisor de águas, tanto para o crescimento da empresa quanto para o amadurecimento de toda a envolvida.

Lia Quinderé: Redesenhamos o modelo de loja física para o digital. Foi desconfortável reduzir portfólio e dizer “não” a projetos queridos. Mas o resultado foi uma marca mais nítida, operações mais enxutas e times com tempo para fazer melhor. Aprendi que priorizar é escolher quem você não será.

NOSSO MEIO | Liderar é, muitas vezes, equilibrar razão e intuição. Em quais situações você escolhe ouvir mais sua intuição do que os números, e como costuma lidar com as consequências dessas escolhas?

Ivna Moraes: Há momentos em que os números apontam um caminho, mas uma percepção interna sinaliza que ainda não é hora. Nessas ocasiões, a intuição lidera, sempre com alertas, métricas de verificação e disposição para corrigir rota rápido se necessário. Quando confiança e senso de mercado se alinham, decisões “fora da curva” podem revelar os diferenciais.

Lia Quinderé: Empreender exige tomar risco e seguir muitas vezes a intuição. Nem sempre se tem dados suficientes para a tomada de decisão. Quando se trata de construção de marca, de timing de lançamento de produtos e pessoas-chave, minha intuição tem voz alta. Ouço, defino um limite de risco e testo. Se não performa, tento corrigir rápido. Se performa, a gente investe. Intuição normalmente me dá direção, e dados me dão tração.