Liderar com propósito se tornou um diferencial diante de um cenário corporativo cada vez mais dinâmico e exigente. Flávia Laprovitera, CEO da Briejer, e Anna Carolina Martins, diretora de Marketing da M. Dias Branco, mostram como a consistência, a escuta ativa e o respeito à identidade regional são forças estratégicas para engajar times, fortalecer culturas organizacionais e criar conexões autênticas com o mercado.
NOSSO MEIO | O que realmente chama sua atenção como líder, em tempos de excesso de informação?
Flávia Laprovitera: Hoje, o que realmente me chama atenção é a consistência. Vivemos uma avalanche de conteúdo, opiniões, tendências, mas poucas coisas permanecem. Então, quando vejo alguém ou alguma ideia que se sustenta no tempo, com propósito claro, coerência entre discurso e prática, e com uma identidade verdadeira, isso me atrai de imediato. Na Briejer, nosso foco é justamente esse: não ser só mais uma marca bonita, mas uma marca com alma, com história, com verdade. E isso se percebe nos pequenos detalhes.
Anna Carolina Martins: Estar conectado com o ambiente externo é fundamental para qualquer profissional, mas especialmente para profissionais de Marketing que precisam entender o mercado, o consumidor e as tendências de comportamento. Eu destacaria três elementos-chave para tornar as informações acionáveis e produtivas: leitura contínua dos reports relevantes (notícias, trends sociais, mercado, economia, comportamentos); estar no mercado: circular e conversar com clientes e consumidores, para ter um pulso da realidade; report consolidado de informações que consolidem visões distintas de mercado, concorrência, performance. Estes elementos permitem ter sensibilidade de onde e quando aprofundar.
NOSSO MEIO | O que você tem feito, na prática, para cultivar presença, escuta ativa e qualidade nas interações com sua equipe?
Flávia Laprovitera: Tenho uma gestão muito próxima dos líderes da Briejer e, nos últimos tempos, tenho priorizado ainda mais a escuta ativa nas interações com eles. Mantenho uma rotina de conversas individuais semanais, com foco em entender os desafios reais de cada área, oferecer suporte e alinhar expectativas com clareza. Nessas conversas, deixo o celular de lado, escuto com atenção total e sempre busco devolver com ações ou respostas rápidas, mesmo que não seja a solução final. Isso tem fortalecido muito a confiança e o senso de parceria.
Acredito que presença e escuta são o ponto de partida para uma liderança consistente. Quando um líder se sente ouvido, ele se sente validado e mais preparado para cuidar do time dele também. Tenho buscado ser esse exemplo, criando uma cultura onde o diálogo é valorizado, o retorno é ágil e cada interação tem qualidade, e não apenas quantidade.
Anna Carolina Martins: Garantir um time confiante, autônomo e principalmente feliz e com senso de realização são meus propósitos de vida. Por isso, acredito que cada encontro precisa ser um ambiente para extrair os maiores potenciais das pessoas.
Temos encontros semanais presenciais, em que começamos com um check-in sobre nosso final de semana e expectativas da semana, assim criamos uma maior integração como time, e empatia para a nossa rotina; além de momentos trimestrais com o time completo (mais de 100 pessoas e alguns milhares de promotores de merchandising), com o objetivo de esclarecer nossos objetivos, celebrar nossas conquistas e trazer inspiração e provocação externa.
NOSSO MEIO | Liderar no Nordeste traz particularidades, sejam elas culturais, sociais e até emocionais. Para você, como isso influencia a forma de gerenciar essa “disputa por atenção” no dia a dia?
Flávia Laprovitera: Totalmente! Aqui no Nordeste, especialmente no Ceará, percebo que as relações são mais afetivas, próximas, e isso muda tudo. Existe um senso de comunidade muito forte, e também um desejo de ser reconhecido pelo esforço. Então, na gestão, eu equilibro muita objetividade com carinho, com o cuidado em reconhecer as histórias e as dificuldades do time. É como se precisássemos conquistar a atenção pelo vínculo emocional, antes de cobrar qualquer entrega. Isso exige da liderança mais sensibilidade e autenticidade.
Anna Carolina Martins: O Nordeste é realmente um “país” à parte com todas suas peculiaridades e vai além, pois seus estados trazem um tempero a mais de complexidade. O que vemos na prática é que consistência e autenticidade são ingredientes fundamentais para garantirmos conexão genuína com o público nordestino e para isso precisamos entender suas necessidades, falar sua língua, usar seus códigos, ser parte da cultura local e promover pontos de contato que celebrem esse engajamento.
Isso exige times locais formados por pessoas locais e todo ecossistema de parceiros, veículos etc., garantindo regionalidade. Tudo isso fica muito mais fácil em uma empresa que tem sua origem nordestina e que ajudou a transformar toda uma região, bem como construir o tamanho da relevância da categoria de Biscoitos e Massas no Nordeste brasileiro. Basta destacarmos a nossa essência e legitimidade.
NOSSO MEIO | Como você equilibra o foco em resultados com a construção de uma cultura organizacional saudável em longo prazo?
Flávia Laprovitera: Eu acredito que resultado sem cultura é algo frágil. Pode até vir no curto prazo, mas não sustenta. Então, eu tenho trabalhado com metas claras e bem acompanhadas, mas sempre trazendo o “porquê” por trás delas. O time precisa entender que bater a meta não é só uma cobrança, é um movimento coletivo para construir algo maior. A cultura da Briejer tem muito do nosso DNA familiar e da excelência artesanal, então ela nos dá o norte. Hoje, estou com uma consultoria justamente para estruturar isso de forma mais sólida, e fazer com que a cultura não dependa apenas de mim, mas seja multiplicada.
Anna Carolina Martins: Acredito que clareza de propósito e uma liderança participativa sustentam o equilíbrio do curto e do longo prazo. Aprendi ao longo dos mais de 20 anos de liderança que um dos maiores fatores motivacionais é entender a que propósito você está servindo; qual a jornada que nos leva até lá. Reconhecer que é uma jornada e não uma corrida é fundamental também; e buscar seus pontos de conexão com este propósito são elementos que criam essa saúde organizacional. A M. Dias Branco é uma empresa com uma grande história e clareza de onde quer chegar, isso facilita muito a condução dos times.
NOSSO MEIO | De que forma você tem desenvolvido lideranças internas, com capacidade para sustentar a estratégia e a cultura da empresa no dia a dia?
Flávia Laprovitera: Estou em um processo intencional de formação de líderes. A gente começou mapeando os talentos da casa e trabalhando individualmente com eles: feedbacks mais frequentes, acompanhamento mais próximo, delegação com propósito e, claro, confiança. Também envolvemos esses líderes nas decisões estratégicas, para que eles entendam o impacto do que fazem. Recentemente, criamos rituais de cultura para que eles mesmos passem a ser guardiões daquilo que acreditamos como empresa. E cada passo tem sido com paciência e constância, porque formar líderes é mais profundo do que simplesmente promover bons executores.
Anna Carolina Martins: Difundir a história da companhia; toda sua origem e fundação; os valores e anseios de seus fundadores e, hoje, enxergar a potência que a companhia se tornou é parte elementar da sustentação da cultura. Esses valores, atualizados com os movimentos do mercado e as ambições de crescimento, norteiam nosso dia a dia e, com isso, conseguimos garantir que nossos líderes representem a cultura e os interesses da companhia em todos os momentos.
NOSSO MEIO | Quais indicadores de gestão você considera indispensáveis para acompanhar de perto a performance organizacional e tomar decisões ágeis?
Flávia Laprovitera: Eu acompanho de perto: faturamento diário e mensal por canal de venda; ticket médio e taxa de conversão por loja e por produto; custo de produção versus margem por linha; índice de recompra e satisfação do cliente (feedbacks diretos e NPS informal); rotatividade e produtividade por setor. Além disso, usamos dashboards simples que nos dão alertas rápidos para ajustar a rota, principalmente no comercial e no financeiro. O segredo está em transformar dado em ação, e não ficar paralisado pela análise.
Anna Carolina Martins: Pesquisa de Engajamento é uma ferramenta fundamental e deve ser sempre analisada de forma neutra. Sem nenhum interesse em atacar pontos que apenas “melhoram os indicadores”, mas sim com intenção genuína de trabalhar questões importantes para o engajamento e satisfação das pessoas no dia a dia. Feedback 360 para os principais líderes também garante visibilidade sobre a atuação do líder em diversos níveis e previne qualquer desajuste cultural ou de liderança que venha a afetar o time como um todo.
NOSSO MEIO | Que tipo de rotina de gestão você implementa para garantir consistência na execução e alinhamento entre as áreas?
Flávia Laprovitera: Temos um calendário semanal com rituais claros. Por exemplo: segunda é dia de reunião comercial, com análise dos números da semana anterior e metas para a atual; às quartas temos checkpoints com a produção e desenvolvimento de produto; às sextas, revisão geral das ações de marketing e redes sociais. Além disso, tenho investido em criar uma agenda individual com os líderes para manter o alinhamento, e uma rotina simples de registro das decisões, nada engessado, mas que evite ruídos. Tudo isso tem me ajudado a sair do 100% operacional e confiar mais no time.
Anna Carolina Martins: A área de Marketing é uma das mais centrais da companhia, tendo interface com absolutamente todas as áreas e sendo responsável pelo ciclo do produto de ponta a ponta. Desta forma, é fundamental garantir um bom alinhamento e trackear cada uma das grandes frentes de forma multidisciplinar. O que sempre gosto de garantir é começar pelo contexto e propósito/objetivo – assim todos se apropriam do projeto e ele deixa de ser algo “da área de marketing”. Depois, garantimos clareza dos passos e acompanhamento. Encontros periódicos com todos na mesa são fundamentais para poder discutir as barreiras, aprendizados, sucessos e insucessos, agilizar a comunicação e execução.
NOSSO MEIO | Em um cenário em que “quem conecta ganha”, como você tem promovido conexões genuínas com os públicos de interesse da sua empresa — sejam eles clientes, colaboradores ou parceiros — para fortalecer a reputação e gerar valor de forma contínua?
Flávia Laprovitera: Na Briejer, tudo começa com o encantamento. A gente quer que cada cliente sinta que está recebendo mais do que um produto: está recebendo carinho, beleza, uma experiência personalizada. E isso vem desde o primeiro atendimento até a última fita da lata. Com colaboradores, promovemos momentos de escuta e celebração, desde aniversários até ações mais simbólicas, como reconhecimento por atitudes alinhadas aos nossos valores. E com parceiros, mantemos uma relação próxima, transparente e de longo prazo. A conexão vem do cuidado com os detalhes e do genuíno interesse em gerar valor para todos os envolvidos. E eu, como líder, preciso ser o exemplo vivo dessa conexão.
Anna Carolina Martins: Em primeiro lugar, nossas marcas são as grandes protagonistas desse desafio, pois Vitarella, por exemplo, além de ser a maior marca de biscoitos do Brasil, é uma das marcas de alimentos com maior penetração nos lares brasileiros. Isso é um feito extraordinário e muito poderoso, pois participamos do dia a dia das famílias e formamos conexão com aquelas pessoas.
Nosso portfólio é bastante extenso, conseguindo se conectar de forma muito regional com certos mercados e consumidores, além de uma vasta gama de segmentos em que atuamos.
Manter essa relevância significa continuamente investir na comunicação dessas marcas, no desenvolvimento de novos produtos que atendam às novas necessidades dos consumidores, em tamanhos de produtos para todas as ocasiões e bolsos e em garantir a capilaridade do portfólio de Norte a Sul do Brasil.
Todo este meandro de variáveis nos ajuda a conectar com clientes, colaboradores e consumidores de uma forma muito genuína e quase “customizada”, pois nosso portfólio regional valoriza as diferenças geográficas e culturais, enquanto nossas marcas nacionais celebram a potência do mercado brasileiro.