3ª edição - Brasília

Executivas em foco | Propósito, cultura e humanização: a força do intangível na liderança feminina

Por Redação

23/10/2025 08h30

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Evineide Dias (Banco do Nordeste) e Paula Sayão (Banco do Brasil) refletem sobre como transformar propósito em prática, cultivar cultura em instituições centenárias e equilibrar tecnologia e humanização em um setor cada vez mais digital. Em um ambiente historicamente masculino, elas mostram que firmeza e sensibilidade caminham juntas na construção de legados que vão além dos números: confiança, proximidade e impacto social. Confira a entrevista:

NOSSO MEIO | Nos últimos anos, o discurso de propósito ganhou espaço. Como garantir que ele se traduza em decisões concretas, principalmente em instituições financeiras públicas com grande responsabilidade social?

Evineide Dias: Propósito não é palavra bonita em discurso, é bússola. Ele se revela quando orienta decisões difíceis e se traduz em impacto real na vida das pessoas. No Banco do Nordeste, cada recurso aplicado precisa ter sentido para quem mais precisa: o agricultor que expande sua produção, a empreendedora que abre caminho, a família que conquista dignidade. É quando vemos histórias de transformação que o propósito deixa de ser conceito e se materializa diante dos nossos olhos. Garantir esse alinhamento é transformar o propósito em prática diária, fazendo dele a régua que mede nossa entrega. É sobre manter coerência entre o que dizemos e o que fazemos, sempre lembrando que nossa missão não é apenas oferecer crédito, mas realizar sonhos e transformar vidas. 

Paula Sayão: O propósito precisa ser mais do que uma frase inspiradora, ele deve orientar decisões, investimentos e relações. No Banco do Brasil, traduzimos isso em ações concretas que promovem inclusão, sustentabilidade e desenvolvimento. Seja por meio de programas voltados à agricultura familiar, crédito sustentável ou apoio à cultura e ao esporte, nosso compromisso é com o Brasil e os brasileiros, em todas as suas realidades.

NOSSO MEIO | Como manter uma cultura forte e conectada ao longo do tempo em instituições tão grandes e com equipes distribuídas em diferentes realidades geográficas e sociais?

Evineide Dias: A cultura se constrói no dia a dia, no jeito de fazer e de se relacionar. Ela é viva, respira nas pessoas e atravessa fronteiras territoriais. Em uma instituição que atua em tantas realidades distintas, o nosso desafio é manter um fio condutor que una a todos em torno de um mesmo propósito, sem apagar a riqueza da diversidade regional. E é justamente aí que mora a força e a potência: transformar diferentes histórias em uma só narrativa de pertencimento. Reconhecer e valorizar as singularidades locais, mas ao mesmo tempo cultivar valores que nos ligam como um todo, tais como ética, compromisso social e orgulho de ser parte de uma missão maior. É isso que faz a cultura permanecer forte ao longo do tempo. 

Paula Sayão: A cultura do BB é viva e plural. Mantê-la forte exige escuta ativa, comunicação transparente e valorização da diversidade. Investimos em formação contínua, programas de engajamento e canais que aproximam as equipes, respeitando as especificidades regionais. A cultura se fortalece quando cada funcionário se reconhece como parte essencial na relação do Banco com clientes e sociedade, que é ser próximo e relevante na vida das pessoas, em todos os momentos.

NOSSO MEIO | Em um cenário de polarizações e pressão por posicionamentos institucionais, qual tem sido o papel da reputação para atravessar momentos sensíveis e como blindar a confiança da sociedade?

Evineide Dias: A reputação é como uma herança invisível: leva tempo para ser construída, mas se revela como o maior ativo em tempos turbulentos. Ela nasce da consistência, da transparência e da capacidade de cumprir o que prometemos. Nos momentos de polarização, é a reputação que garante serenidade, porque sabemos que não estamos sustentados em palavras soltas, mas em uma história de coerência. Proteger essa confiança exige coragem e equilíbrio. Muitas vezes, significa falar com clareza; outras, escolher o silêncio estratégico. Mas sempre significa estar em sintonia com os valores da sociedade. É um trabalho de cuidado contínuo, que garante que a confiança nunca se quebre, mesmo em cenários de tensão. 

Paula Sayão: A reputação é construída com consistência, coerência e responsabilidade. Em momentos sensíveis, ela funciona como uma capa protetora, que construímos durante toda a história desta instituição, mantendo todas as nossas bases de governança, com foco no papel institucional do Banco, interesse público e comunicando com clareza e empatia.

NOSSO MEIO | Como mulheres em posições de liderança em instituições centenárias e tradicionalmente masculinas, quais foram os maiores aprendizados e onde o intangível (como empatia, escuta ativa e influência) fez a diferença?

Evineide Dias: O maior aprendizado foi perceber que o que muitas vezes chamam de “intangível” é, na verdade, a essência da liderança. Empatia, escuta ativa, capacidade de influenciar e gerar conexões sinceras com os liderados: são essas qualidades que abrem portas e transformam resistências em colaboração. Longe de serem fragilidades, elas são poder em sua forma mais genuína. Ser mulher em ambientes tradicionalmente masculinos me ensinou a importância de criar pontes, de transformar ambientes competitivos em espaços colaborativos. Liderar com firmeza e sensibilidade é provar que não precisamos negar quem somos para ocupar posições de decisão. Pelo contrário: é nossa autenticidade que nos fortalece. É sobre termos coragem e sermos gentis. 

Paula Sayão: A liderança feminina traz uma perspectiva transformadora. Aprendi que escuta ativa é uma ferramenta estratégica. Influenciar com sensibilidade, construir pontes e promover ambientes inclusivos são formas de liderar que geram resultados sustentáveis e relações mais humanas.

NOSSO MEIO | Qual é o desafio de fortalecer uma marca pública que precisa ser, ao mesmo tempo, técnica, empática, transparente e próxima da população?

Evineide Dias: Fortalecer uma marca pública é equilibrar duas forças: a confiança técnica e a conexão humana. A sociedade espera de nós precisão, transparência e responsabilidade, mas também proximidade, clareza e empatia. Esse equilíbrio é delicado, mas essencial para que a marca seja vista não apenas como instituição, mas como parceira. No Banco do Nordeste, buscamos, incansavelmente, sermos mais do que números. Queremos ser lembrados como quem estendeu a mão no momento certo, como quem acredita na capacidade transformadora da região e de seu povo. Quando técnica e empatia andam juntas, a marca ganha alma. 

Paula Sayão: O desafio está em equilibrar a solidez institucional com a proximidade emocional. O BB é técnico, sim, mas também é feito de histórias, pessoas e propósitos. Fortalecer a marca exige narrativas que conectem com o cotidiano dos brasileiros, traduzindo nossa expertise em soluções acessíveis, relevantes e transformadoras para a sociedade.

NOSSO MEIO | Em um ambiente naturalmente orientado a métricas financeiras, como vocês têm trabalhado para medir e acompanhar o impacto de ativos intangíveis como reputação, engajamento interno e percepção de valor da marca?

Evineide Dias: Aprendemos que o que não se mede, não se valoriza. Por isso, além dos indicadores financeiros, investimos em pesquisas de reputação, de clima organizacional e de percepção da sociedade. São insumos poderosos, que mostram se estamos no caminho certo e nos ajudam a enxergar além do resultado imediato. Esses ativos intangíveis contam uma parte fundamental da nossa história: a confiança, o engajamento e o orgulho de pertencer. Medir o invisível é também reconhecer que são esses elementos que sustentam, no longo prazo, a força e a relevância de uma instituição.  

Paula Sayão: Utilizamos pesquisas, tracking de marca e indicadores de engajamento para acompanhar esses ativos. Com isso, buscamos compreender sentimentos, percepções e vínculos. A reputação, por exemplo, é monitorada em tempo real e integrada à estratégia de comunicação, refletindo nosso compromisso com a transparência e a excelência.

NOSSO MEIO | Com a aceleração digital e o avanço da IA nos bancos, como garantir que a humanização, outra dimensão intangível, continue sendo prioridade na experiência dos clientes?

Evineide Dias: A tecnologia amplia nossa capacidade, mas é a humanização que cria vínculos. Costumo sempre falar que “antes do digital, estão as digitais.” O cliente pode resolver uma transação em segundos com o celular, mas o que o fideliza é sentir-se acolhido, compreendido e respeitado. A inteligência artificial acelera processos, mas o olhar humano continua sendo insubstituível. No Banco do Nordeste, acreditamos que o digital deve liberar tempo para que possamos estar ainda mais próximos dos clientes. Humanizar é transformar atendimento em experiência, números em histórias e dados em relações. Esse é o verdadeiro diferencial em um mundo cada vez mais automatizado. 

Paula Sayão: A tecnologia deve servir às pessoas e não o contrário. No Banco do Brasil, a estratégia figital, que combina o melhor do atendimento físico com a conveniência do digital, é central para garantir uma experiência humanizada e acessível. Estamos presentes em 93% dos municípios brasileiros, com canais integrados que respeitam o perfil de cada cliente, seja pelo WhatsApp, app, agências ou redes sociais.

Além disso, o BB tem apostado em soluções como o bot de investimentos via WhatsApp, que oferece assessoria 24/7 para todos os perfis de clientes, democratizando o acesso à educação financeira e ao planejamento de longo prazo. A estratégia figital é, portanto, uma ponte entre inovação e proximidade, e é por ela que garantimos que a humanização continue sendo prioridade no atendimento aos nossos clientes.

NOSSO MEIO | Qual legado intangível vocês gostariam de deixar nas instituições que representam? E o que esperam que outras mulheres líderes enxerguem a partir desse exemplo?

Evineide Dias: Quero deixar como legado a certeza de que é possível transformar uma instituição sem perder a essência humana da liderança. Que firmeza e sensibilidade não são opostos, mas forças complementares que se tornam ainda mais potentes quando caminham juntas. Meu desejo é que a marca do meu trabalho seja lembrada não apenas por resultados, mas pela capacidade de inspirar confiança, abrir caminhos e mostrar que a cultura de cuidado também gera impacto e prosperidade. Espero que outras mulheres percebam que não precisam se moldar a padrões antigos para ocupar espaços de poder. O que nos diferencia é justamente a coragem de sermos autênticas, de liderarmos com a nossa voz e a nossa verdade. Que vejam no nosso exemplo um convite para sonhar mais alto, ocupar com orgulho os espaços que conquistamos e, acima de tudo, multiplicar oportunidades para que muitas outras venham depois de nós. 

Paula Sayão: Gostaria que o legado fosse o da transformação pela escuta, pela inclusão e pela coragem de fazer diferente. Que outras mulheres enxerguem que é possível ocupar espaços com autenticidade, sensibilidade e força. Liderar é inspirar, e o intangível é o que realmente permanece.