Vivemos uma era em que a aceleração tecnológica — especialmente por meio da Inteligência Artificial (IA) — impõe às empresas um dilema: abraçar o novo com entusiasmo ou permitir que ele nos controle. O investimento global em IA já ultrapassa US$ 250 bilhões, e 78% das organizações afirmam utilizá-la em seus processos.
A promessa de eficiência ecoa em todos os setores. Mas à medida que a tecnologia avança, cresce a necessidade de fazer a pergunta que realmente importa: estamos usando a IA para ampliar o que temos de mais humano — ou estamos nos tornando reféns daquilo que criamos?
Pesquisas da Harvard Business School revelam que o maior ganho não está na automação pura, mas no encontro entre máquinas e mentes — na soma entre criatividade, pensamento integrador e execução tecnológica. O Stanford Digital Economy Lab alerta, porém, que trabalhadores jovens em funções altamente expostas à IA já sofrem perdas de até 13% no emprego relativo, enquanto profissionais mais experientes — e com pensamento crítico consolidado — crescem em relevância. A Universidade de Savoie Mont Blanc complementa: a IA aumenta algumas competências gerenciais, mas jamais substituirá liderança, empatia e imaginação.
Embora a IA tenha potencial para reduzir desigualdades, seu uso inconsciente pode ampliá-las. Empresas que adotam tecnologia sem desenvolver cultura e governança correm o risco de digitalizar processos e desumanizar decisões. O problema não está na máquina, mas na visão limitada de quem a opera.
A narrativa de que a IA “vai substituir” o intelecto humano é sedutora — e perigosa. Acreditá-la é negligenciar o desenvolvimento humano e a complexidade das organizações. Não se trata de substituir, e sim de complementar. Quando a empresa vê a IA como “o novo funcionário”, perde o essencial: a capacidade de pensar, imaginar e decidir com profundidade.
É hora de promover uma mentalidade de aprendizagem contínua, que estimule curiosidade, experimentação e senso crítico. Mesmo com maturidade menor que países de ponta, o Brasil acelera sua adoção de IA. Mas o alerta vale em dobro: em um país diverso, a tecnologia deve ser ponte para o desenvolvimento humano — não um atalho que o substitui. A revolução já começou.
O debate não é mais se a IA transformará o mundo corporativo, mas como. E é justamente nesse “como” que mora o paradoxo: as empresas que acreditam que a tecnologia sozinha trará vantagem perderão. As que a usarem para libertar o humano e elevar sua potência intelectual e ética, vencerão.
Não deixemos que a IA nos torne reféns. Façamos dela o alicerce sobre o qual a humanidade corporativa se ergue. Que o humano — com suas perguntas inquietas, sua intuição e sua ética — permaneça no centro da estratégia. Porque, no fim das contas, os trilhos da mudança só fazem sentido quando percorridos por quem escolhe liderar — e não por quem se deixa levar.
Cuidem-se. Abraço,
Simone Moura
