9ª edição

Inteligência Artificial e a Nova Dinâmica do Mercado

Por Redação

18/09/2023 15h12

Compartilhe
  • Whatsapp
  • Linkedin

Ensaio sobre os usos, os riscos e os limites éticos do uso da tecnologia na Era Digital

O ano era 1950, quando Alan Turing escreveu o artigo chamado “Máquinas de Computação e Inteligência”, lançando as bases da informática moderna. O matemático inglês já era famoso por ter ajudado com decodificação durante a II Guerra Mundial, história contada no filme “O Jogo da Imitação” (2014). Anos depois, Alan Turing chamaria atenção ao escrever o artigo que faria dele “o Pai da Computação”. Na primeira linha de tal texto, estava contida a pergunta que iria mudar para sempre os rumos da Tecnologia: “as máquinas podem pensar”? 

Alan Turing respondeu à provocante pergunta, dizendo que as máquinas podem emular o pensamento humano; desde que sejam programadas com algoritmos que reproduzam as etapas que os seres humanos usam para construir seu pensamento. Em tese, seria possível que uma máquina pensasse como um ser humano, se tivesse capacidade suficiente e fosse programada de maneira adequada. Daí a origem do famoso “Teste de Turing”, método que avalia se uma máquina pensa, a depender de sua capacidade de estabelecer uma conversa em um nível equivalente ao de um ser humano.

Até hoje, considera-se que nenhuma máquina passou no Teste de Turing, mas muita coisa aconteceu desde 1950. Seguindo a Lei de Moore, a capacidade de computação das máquinas aumentou bilhões de vezes; os computadores ficaram menores, mais baratos e se tornaram comuns em todas as casas; a linguagem natural dos computadores veio em constante progressão; e a internet conectou o Mundo inteiro em uma fração de segundos. Os computadores ainda não são capazes de pensar por si mesmos, mas mesmo assim a sua inteligência merece atenção.

Desde que o Deep Blue (da IBM) se tornou o primeiro computador a vencer um campeão mundial de xadrez (o russo Garry Kasparov), as máquinas não pararam de surpreender com sua crescente inteligência artificial. Progressivamente, computadores passaram a controlar estoques de mercadorias; linhas de montagem de bens; navegadores de veículos; precificação dinâmica de transportes; etc. Nos últimos anos, o uso geral da inteligência artificial se tornou tão disseminado, que se tornou praticamente impossível imaginar alguma atividade humana que não tenha contato com esse nível de tecnologia.

Como não poderia deixar de ser, o mercado como um todo foi impactado pela Revolução Digital, gerando uma nova dinâmica entre os atores das relações comerciais. Dentre os inúmeros usos da inteligência artificial no mercado, cabe destacar a Ciência da Dados para minerar informações; o uso de Big Data para integrar informações dispersas pela rede; a classificação de risco potencial de concessão de crédito; orientação de marketing direcionado à demanda; e seleção de currículos com base em perfis padronizados. No Século XXI, a eficiência da empresa está vinculada à sua capacidade de usar a inteligência artificial para lidar com seus vários tipos de parceiros.

Acontece que o uso da inteligência artificial não traz consigo apenas aspectos positivos, mas também riscos que devem ser considerados. Na medida em que o processo decisório do mercado é sistematicamente transferido para as máquinas, é preciso ter atenção a uma série de possíveis problemas, como a) discriminação algorítmica contra alguns grupos sociais; b) violação da privacidade das pessoas; c) opacidade de algoritmos intrincados; e d) desequilíbrio nas relações de consumo. Tais riscos decorrem do fato de que as máquinas podem ser muito eficientes, mas não possuem qualquer padrão ético que possa guiar suas decisões.

O enfrentamento do problema exige que se pense sobre alguns limites éticos (muitos deles já incorporados à legislação brasileira), que possam ser impostos ao uso da inteligência artificial na dinâmica do mercado. Como forma de exemplificar essa perspectiva, é possível citar a) a exigência de que os algoritmos tenham um bom nível de transparência (mas que preserve o sigilo comercial); b) a restrição ao uso de dados pessoais sensíveis (como orientação religiosa ou sexual); e) a imposição de que o processo de machine learning seja supervisionado; e d) a busca da confecção de termos de consentimento que traduzam real acordo do usuário.

A Revolução Digital é uma realidade e a Inteligência Artificial veio para ficar, de maneira que qualquer abordagem construtiva deve aceitar essa realidade incontornável. O grande desafio é encontrar uma maneira de aproveitar o potencial da tecnologia, preservando os aspectos éticos que tornam valiosas as relações humanas e a vida em sociedade.