Marco uma estação em que o rompimento de uma bolha estrangeira fundamenta minhas decisões futuras. Confinamento e aprendizado para aprimorar processos: é disso que abordo nesta croniqueta. Remonto o último estádio do UX Planning Strategy, que trata de interiorizar os aprendizados e agenciar melhorias contínuas com base nas pesquisas de experiência.
A pessoa pesquisadora deve atuar como uma espécie de “mago”, digo, “mágico”, garantindo que futuros ciclos sejam marcados por refinamentos e novas percepções sobre o produto em questão. Explico.
A metáfora do “mágico” no contexto do UX Planning Strategy ganha profundidade quando contrastada com a narrativa de The Magician of Lublin, de Bashevis Singer. Enquanto o personagem Yasha Mazur busca equilibrar múltiplas demandas — pessoais, emocionais e espirituais —, o profissional de UX assume um papel semelhante: navegar por sendas desconhecidas, refletir sobre aprendizados e se posicionar em meio a celebrações e autoexames do processo criativo.
Explorar o “interior” no planejamento da pesquisa de UX parece exigir um afastamento simbólico de zonas de conforto, abalançar-se em soluções externas, interiorizes, ainda não concebidas. Em outras palavras, o desejo de criar algo inovador, aliado ao compromisso com os usuários e à responsabilidade de gerar valor para o negócio, impõe ao profissional a necessidade de harmonizar essas tensões no refinamento do planejamento.
Essa tríade reflete a tensão constante entre pertencimento e transformação, semelhante à jornada de Yasha em busca de propósito e equilíbrio. No final, assim como Yasha renuncia ao caos de sua vida passada, o “mágico” do UX, ao interiorizar aprendizados, deve se reinventar continuamente — refinando não apenas o produto, sem embargo, também o processo. Abro um parêntese acerca do mágico da Polônia.
A obra The Magician of Lublin, datada em 1960, narra a história de Yasha Mazur, um mágico que, após uma vida de feitos expansivos e luxúria desenfreada, se retira para um confinamento autoimposto, privando-se de todas as tentações externas. Ambienta-se em torno da cidade de Lublin, em uma era pré-moderna, mas não específica.
Yasha é um homem que se encontra em um ambiente estrangeiro onde sabe que não o pertence. A figura capitaliza voluntariamente sua habilidade extraordinária como showman, perdendo seu equilíbrio no processo. Yasha, o mágico, equilibra três relações paralelas. Uma esposa judia, que ele toma como garantida, uma amante não-judia e parceira de performance, que ele maltrata, e uma bela viúva não-judia, que idealiza.
O derradeiro remonta que o personagem renuncie a toda intimidade com mulheres, mas não antes de sua amante cometer suicídio e seu amor distante o abandonar. Bashevis Singer, autor do romance, explora temas de identidade, pertencimento e a luta entre o desejo e a fé.
A obra reflete a própria experiência de Singer como um judeu profundamente religioso que se sentia psicologicamente distante de seu novo ambiente nos Estados Unidos, apesar de ser aceito superficialmente. A recepção crítica da obra em inglês foi de interesse e entusiasmo, mas muitas vezes revelou uma falta de compreensão sobre a visão de humanidade retratada por Singer.
Críticos intrigam-se, até hoje, com a evocação “folclorística” de uma Polônia atrasada onde os judeus eram mal tolerados. A obra é um exemplo do conflito constante de Bashevis entre a memória e os eventos atuais, entre a comemoração e o autoexame, afetando tanto seu público iídiche quanto seu público inglês.
Essa relação simbólica ilustra como o ato de interiorizar é mais do que uma estádio; é um espaço de reflexão profunda, onde passado e futuro convergem para orientar novas direções.
Assim, o contexto do UX Planning Strategy, o confinamento autoimposto de Yasha Mazur, ou a pessoa pesquisadora, pode ser associado ao momento de interiorizar aprendizados e refinar processos. Assim como Yasha se retira das distrações externas para refletir e buscar equilíbrio após uma vida marcada por excessos, o pesquisador de UX, ao final do ciclo, se volta para um espaço de introspecção estratégica.
É nesse confinamento simbólico que as descobertas são analisadas, as lições são incorporadas e se planejam as melhorias contínuas — um gesto que não visa apenas fechar o ciclo atual, mas dispor o terreno para os desafios e soluções futuras.