Na era da distração, líderes que escutam e se conectam com suas equipes constroem resultados duradouros
Por Jaquelinne Lira, administradora, especialista em Gestão de Saúde e Negócios da Saúde pela FDC e INSPER, executiva do setor de saúde, consultora estratégica para hospitais, clínicas e consultórios na região
Vivemos a era da superexposição, onde notificações, mensagens e estímulos externos competem pela nossa atenção o tempo inteiro. No setor de saúde — um dos mais exigentes e sensíveis — esse cenário é ainda mais desafiador. Os profissionais da linha de frente, que lidam com vidas diariamente, precisam manter o foco, a empatia e a excelência, mesmo em meio à exaustão.
Durante os seis anos em que atuei como Superintendente Executiva do Real Hospital Português, em Recife, tive a responsabilidade — e o privilégio — de liderar uma equipe de aproximadamente 2.500 colaboradores. Um time multidisciplinar, diverso, atuando em diferentes níveis da assistência e da gestão hospitalar. E, acima de tudo, um time que me ensinou, na prática, o real significado de conexão humana na liderança.
Não era possível — nem eficaz — liderar no grito. Em um ambiente onde a pressão é constante e a margem de erro é mínima, o que mantém os times engajados é a confiança, a escuta e o exemplo diário. Foi preciso estar presente, não apenas fisicamente, mas de forma autêntica. Saber o nome das pessoas, entender seus desafios, valorizar suas entregas e criar espaços para diálogo franco. Isso é o que conecta. E é isso que engaja.
Essa conexão se tornou ainda mais evidente durante a pandemia. Enfrentamos um dos momentos mais desafiadores da história da saúde, e foi nesse contexto que a união entre as áreas se mostrou essencial. A assistência precisou caminhar lado a lado com a operação — facilities, hotelaria, experiência do paciente, comercial e tantas outras frentes. O trabalho em equipe foi o grande diferencial.
A comunicação clara, a empatia entre setores e a preocupação genuína com o outro não apenas sustentaram a operação, como também fortaleceram a cultura do hospital. Vimos nascer ali um novo tipo de colaboração — mais humana, mais próxima, mais alinhada ao propósito maior de cuidar de vidas. Esse movimento nos fez crescer, amadurecer e consolidar ainda mais a posição do Real Hospital Português como referência nacional em saúde.
Na disputa por atenção que vivemos hoje, é tentador cair na armadilha do aumento de pressão, da comunicação impositiva, do “mais barulho”. Mas equipes de alta performance não respondem ao grito — respondem à liderança coerente, que inspira pela ação e constrói vínculo.
Ao longo dessa jornada, vi na prática como a escuta ativa pode transformar ambientes. Quando um colaborador sente que sua voz importa, sua atenção naturalmente se volta ao propósito do trabalho. E quando a cultura organizacional reconhece que resultados sustentáveis vêm do engajamento genuíno — e não do medo — temos equipes mais comprometidas, resilientes e conectadas ao que realmente importa: o cuidado com o outro.
É claro que liderar em um hospital de grande porte exige técnica, método, indicadores. Mas nada disso se sustenta sem um time emocionalmente engajado. E engajamento não nasce de fórmulas prontas. Ele se constrói na rotina, nas conversas de corredor, nas escutas não apressadas, no reconhecimento sincero.
O paradoxo da atenção no mundo atual é claro: quanto mais gritamos, menos somos ouvidos. No setor de saúde, onde tudo pulsa mais forte, isso é ainda mais evidente. Por isso, acredito — e vivenciei — que o papel da liderança hoje é ser ponte, não megafone. Conectar pessoas aos propósitos, escutar antes de cobrar, cuidar para depois exigir.
Mais do que nunca, liderar é humanizar. É dar nome e rosto aos números. É ter coragem de estar próximo, mesmo nos momentos difíceis. É saber que a conexão não vem do cargo, mas da presença real. Porque no fim, não é quem grita mais alto que transforma. É quem sabe se conectar.
Hoje, sigo atuando como consultora estratégica para hospitais, clínicas e consultórios, ajudando outras lideranças a construírem esse mesmo caminho: mais humano, mais presente e mais eficaz. Acredito que esse é o futuro da saúde — e da liderança.