Como uma liderança sensível reflete na organização interna
No cenário corporativo e público, em que propósito, cultura e bem-estar se impõem como motores de resultados, a antiga figura do líder autoritário dá lugar a um novo modelo: a liderança sensível. Pautado pelo cuidado, pela escuta ativa e pela construção de confiança, esse conceito se consolida hoje como alicerce de equipes engajadas, resultados sustentáveis e reputação corporativa sólida.
A pressão por metas e a alta competitividade são realidades, mas de acordo com o psicanalista e diretor da Cápsula, especializada em Saúde Mental no Trabalho, Newton Molon, a “equação problema” dos trabalhadores modernos tem variáveis humanas muito parecidas, como reconhecimento, satisfação com o trabalho, e necessidade de tempo de não-trabalho.
“Acredito que liderança sensível é aquela que sabe e gosta de escutar as pessoas; que acolhe sem se misturar com a dor do outro; que é consciente de suas limitações; que é capaz de autocrítica e que consegue ajudar o seu liderado a formular uma equação subjetiva de trabalho que seja suficiente e sustentável. Entendo que uma organização desatenta para com a dimensão humana de seus trabalhadores compromete sua imagem, sua solidez e sua longevidade. Nesse sentido, liderança sensível, liderança empática, ou qualquer que seja a nomenclatura, me parece o início de uma mudança de paradigma e uma necessidade urgente”, enfatiza Molon.
Organização interna
No setor privado, essa sensibilidade é traduzida em cultura organizacional e vantagem competitiva. Para Jonas Marques, CEO da Pague Menos, propósito, reputação e cultura são os pilares do sucesso da rede. Em relação ao manejo com a equipe, o empresário aponta que a empresa possui uma cultura “baseada em cuidado, ética e excelência, o que nos permite ter equipes engajadas e alinhadas com nosso propósito. É ela que garante que, mesmo em uma operação com mais de 1.600 lojas em todo o país, tenhamos um diferencial que nos destaca no mercado. Os três pontos são indispensáveis para sustentar nosso crescimento contínuo a fim de continuar sendo uma referência no setor de saúde e bem-estar no Brasil”.
O CEO acredita que o maior diferencial da marca está na forma como cuidam das pessoas. E exemplifica: “o Atendimento do Coração (programa de treinamento) é a essência da nossa cultura organizacional e a base da nossa estratégia. Investimos continuamente na capacitação de nossos colaboradores para que cada interação com o cliente, e até mesmo interna, seja marcada por empatia, atenção genuína e acolhimento”.
Liderança pública
Na esfera pública, a liderança sensível é igualmente crucial, pois impacta diretamente a reputação institucional. Cristiano Araújo, Secretário de Turismo do Distrito Federal, enfatiza que o diálogo aberto, a clareza nas metas e a confiança na equipe são prioridades. Em momentos de pressão, como na organização de grandes eventos, ele busca “estar sempre próximo da equipe, reforçando a importância do trabalho coletivo e reconhecendo cada entrega”.
“Priorizamos reuniões para alinhar informações e manter todos na mesma direção, ao mesmo tempo em que estimulamos um ambiente no qual cada servidor se sinta parte essencial do resultado final. Outro ponto importante é que os servidores têm paixão por Brasília e por sua história, o que colabora para que, ao final de cada evento, todos sintam a sensação de dever cumprido”, disse Araújo.
O secretário define a escuta ativa e a empatia como habilidades emocionais determinantes para o sucesso na gestão pública. “Saber ouvir com atenção, compreender os desafios individuais e coletivos e se colocar no lugar da equipe ajuda a construir confiança e engajamento”, explica. Ele ressalta que, na gestão pública, o desafio é ir além dos indicadores; “é preciso inspirar, acolher e motivar. Esse equilíbrio entre resultados e cuidado humano é o que garante uma liderança sólida e duradoura”.
Na prática, Jonas Marques aponta que no escopo da Rede de farmácias Pague Menos umas ações de alinhamento interno são realizadas para efetivar rotineiramente a aproximação dos colaboradores com os propósitos da empresa e de seus líderes, sempre atentos às necessidades dos profissionais. Entre os programas está o “Pulse de Clima”; ferramenta de escuta ativa que coleta percepções sobre ambiente, liderança e engajamento, orientando ações para melhoria contínua, além do programa “Conversa da Gente”, um espaço dedicado ao diálogo entre o time de Gente e colaboradores, com foco em desenvolvimento, trilha de carreira e cultura.
Dentre os destaques de incentivo organizacional, o “Programa de Formação de Líderes” tem formado e desenvolvido lideranças, no âmbito nacional, reforçando a cultura da companhia na prática da liderança, promovendo uma gestão mais próxima, empática e orientada para resultados.
Em concordância com as práticas, Newton Molon conclui apontando que, para que uma empresa seja enquadrada dentro do radar de exemplo de cuidado com equipes, alinhando sensibilidade e profissionalismo, é preciso “não ter medo de se posicionar e tentar restabelecer o princípio de realidade sempre que possível”.
“Saber escolher a melhor hora para falar e dizer as coisas certas de maneira clara. Atitudes como essas podem mostrar que a força de lideranças sensíveis é de outro tipo. Eu não sei se poderíamos chamar de diferencial competitivo, apenas acho que empresas vão nascer e empresas vão morrer, como sempre aconteceu. E prevejo que nesses nossos tempos, empresas que não ouvirem a singularidade de cada um dos seus trabalhadores, vão morrer antes”, enfatiza o psicanalista.
Seja no ambiente corporativo de alta concorrência ou na gestão pública de grandes responsabilidades, a liderança sensível emerge como a força motriz para o engajamento sustentável. Ao priorizar a dimensão humana, as organizações e os gestores pavimentam o caminho para a confiança, a reputação e, inevitavelmente, o sucesso a longo prazo, refletindo em seu consumidor final.
