Impresso

Matéria de Capa: Metade dos consumidores do mundo já consideram que práticas ESG influenciam o relacionamento com as marcas

Por Redação

02/06/2022 12h00

Compartilhe
  • Whatsapp
  • Facebook
  • Linkedin

Em consonância com o resultado da pesquisa global mais recente da PWC, o Ceará se destaca no cenário brasileiro como forte protagonista no desenvolvimento sustentável, com cases de sucesso como das empresas M. Dias Branco, Aeris Energy e Banco do Nordeste.

 

ESG representa uma mudança crítica de postura das organizações, que está reorientando os objetivos e as relações do mundo empresarial. Por meio de práticas sustentáveis e compromissos de longo prazo, os princípios da já famosa sigla ESG (Environmental, Social and Governance que em tradução para o português significa Governança Ambiental, Social e Corporativa) estão difundidos no mercado europeu e nos Estados Unidos. Agora, chegam ao Brasil para marcar um novo momento na forma de pensar os negócios do século XXI.

 

Do ponto de vista do mercado, o cumprimento desse indicador representa a capacidade da empresa de interpretar valores efetivos na sociedade e integrá-los ao negócio. Ou seja, as marcas estão atentas ao comportamento do consumidor, que cada vez mais levanta questões sobre propósito, contribuição com a sociedade, consciência ambiental e posicionamento claro diante de pautas emergentes, tudo para incorporar ações de convergência com o novo tempo.

 

Assim, o termo tem feito parte da agenda estratégica de organizações de diferentes setores como base para a tomada de decisões financeiras e de investimentos. No Ceará, iniciativas como o Ceará Global, projeto de internacionalização da economia cearense com foco no desenvolvimento sustentável, e o FIEC Summit, fórum aglutinador de ideias sustentáveis do setor produtivo, são alguns exemplos que se destacam com pioneirismo para discutir a temática junto ao poder Público, indústrias, entidades de pesquisa e sociedade civil organizada. Mas é necessário que as empresas privadas também se apropriem da pauta.

 

Segundo a pesquisa Global Consumer Insights Pulse, realizada pela PWC, preocupações ESG influenciam metade de todos os consumidores no mundo. Curiosamente, porém, fatores sociais e de governança parecem ser mais influenciadores do que os fatores ambientais quando se trata de decisões de compra. Os jovens estão particularmente sintonizados com a temática. Na análise, millennials e a Geração Z são significativamente mais propensos a considerar ESG em relação à confiança, advocacia de marca e decisão de compra. O estudo entrevistou 9.069 consumidores em 25 territórios.

 

Em conformidade com os indicativos globais, no Brasil, 39% dos consumidores estão mais atentos aos fatores ambientais, com ênfase no compromisso com a redução das emissões de carbono, uso de materiais reciclados ou redução de resíduos plásticos em seus produtos. Já 49% dos entrevistados frequentemente se preocupam com fatores sociais, como o apoio aos direitos humanos, à diversidade, à inclusão de trabalhadores e às comunidades locais. Em destaque, 55% dos respondentes consideram mais relevante os fatores de governança, como ser transparente e ético, cumprir os regulamentos ou gerenciar dados e privacidade do cliente de forma adequada.

 

O conceito de ESG 

Apesar de ter ganhado notoriedade nos últimos anos, a origem da sigla ESG remete há mais de uma década. O termo foi criado em 2004 em uma publicação pioneira do Banco Mundial em parceria com o Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) e 20 instituições financeiras de 9 países. O documento é resultado de uma provocação do então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, a 50 CEOs de grandes instituições financeiras do mundo. A proposta era obter respostas dos bancos sobre como integrar os fatores ESG ao mercado de capitais.

Para estabelecer o compromisso com um futuro mais sustentável, um bom começo é orientar a conduta dos negócios para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), conjunto de 17 objetivos globais definidos em 2015 pela ONU, que devem ser alcançados até o ano de 2030 . A resolução identifica 160 metas junto com indicadores que estão sendo usados para medir o progresso de tal iniciativa.

 

Assim, os critérios representados pela letra E da sigla ESG analisam o impacto de um negócio no meio ambiente e o esforço para reduzi-lo. Emissão de gases de efeito estufa, proteção da biodiversidade, preservação dos recursos hídricos, preocupação com eficiência energética, gestão de resíduos e combate ao desmatamento são alguns dos pontos avaliados pelos órgãos competentes, investidores e sociedade. É desta forma que a preocupação com o meio ambiente torna-se um diferencial competitivo.

 

Já a letra S diz respeito ao impacto das empresas no âmbito social, ou seja, a relação com seus trabalhadores e a contribuição com as comunidades locais e a sociedade, de forma geral. Aspectos como emprego, saúde, segurança, inclusão e diversidade são os principais critérios levados em consideração.

 

Por fim, a letra G trata sobre os critérios de governança corporativa, que estão relacionados aos mecanismos de governança das empresas, aos direitos dos acionistas e às responsabilidades da diretoria executiva. Nesse aspecto, são analisados os procedimentos de decisão das empresas e sua estrutura organizacional, os mecanismos de controle, cibersegurança, cadeia de suprimentos responsável, sistemas de compliance, remuneração, entre outros.

 

Os desafios de uma empresa que incorpora o conceito de ESG no seu negócio varia de acordo com a indústria da qual ele está inserido e a sua maturidade empresarial. Por isso, os conselhos administrativos têm papel central na orientação da gestão para alocar os recursos e atenção às pautas apropriadas. Assim, empresas com visão de futuro valorizam ser vanguarda em ESG, pois reconhecem a conexão com o sucesso a longo prazo.

 

ESG e a prática empresarial regional

Diante de um cenário econômico instável, com escassos incentivos ao desenvolvimento dos negócios e garantias mínimas no mundo do trabalho, é possível questionar se o debate sobre boas práticas ESG realmente é uma prioridade. Para a grande parte dos CNPJs do Brasil a discussão ainda é tão básica como fechar o mês, pagar os impostos, remunerar os funcionários e manter a operação rodando. Na contramão das realidade brasileira, organizações que atuam no Ceará estimulam ações de destaque no cenário nacional.

 

Doação de alimentos pela M. Dias Branco

Exemplo disso é a gigante cearense M. Dias Branco, que compreendeu, já na década passada, a importância de estabelecer uma agenda de sustentabilidade de forma consistente, estruturada e alinhada com a estratégia da companhia. Em 2013, a líder nacional no setor de biscoitos e massas fez um estudo para definir os principais temas ESG que impactavam o negócio, resultando em oito principais temas: (1) embalagens, (2) insumos, (3) meio ambiente, (4) cultura de sustentabilidade, (5) nutrição e saudabilidade, (6) saúde e segurança organizacional, (7) comunidades e investimento social, (8) energia e emissões. 

 

O gerente de Comunicação, Cultura e Sustentabilidade da M. Dias Branco, Tiago Timbó, explica: “Em nossa jornada ao longo dos anos, fomos evoluindo gradualmente nas nossas práticas ESG. Criamos indicadores de gestão para os temas de sustentabilidade, montamos grupos multidisciplinares com reuniões sistemáticas, aderimos ao Pacto Global da ONU e passamos a reportar os avanços anualmente em nosso relatório integrado, que é divulgado junto com os resultados financeiros, pois queremos deixar claro que o lucro e a sustentabilidade andam juntos”, conta o executivo.

Doação de alimentos pela M. Dias Branco

 

 

Para isso, a agenda estratégica de sustentabilidade da M. Dias Branco até 2030 tem 15 temas prioritários, com metas claras definidas para cada um. Essas metas têm por base três pilares que representam o ESG: cuidar do planeta (ambiental); acreditar nas pessoas (social); e fortalecer alianças (governança).

 

 

 

 

Por sua vez, o gerente de Saúde, Segurança e Meio Ambiente (SSMA) da Aeris Energy, Marcos Valenzi, avalia que o cenário brasileiro para a agenda ESG ainda está em construção.

“Cada vez mais as empresas estão se movimentando para adotar práticas mais responsáveis com o meio ambiente e com as pessoas, orientadas por rígidas políticas de governança e compliance. O que temos percebido de forma mais local é que as empresas do Ceará também se inserem nesse contexto e têm buscado ativamente formas de impulsionar o desenvolvimento e economia sustentável das empresas que aqui estão localizadas. E nós fazemos parte disso. Podemos dizer que as práticas ESG fazem parte do nosso DNA, até pela natureza do nosso negócio, que é focado no mercado de energia renovável e limpa”, compartilha o gestor.

 

Aeris Energy, fabricante brasileira de pás utilizadas em geradores de energia eólica, localizada no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no Ceará.

Em 2020, a Aeris Energy, fabricante brasileira de pás utilizadas em geradores de energia eólica, localizada no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no Ceará, iniciou um trabalho para aplicação das recomendações do Guia de Implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU na estratégia corporativa. Saúde e Bem-Estar, Educação de Qualidade, Igualdade de Gênero, Energia Limpa e Acessível, Trabalho Decente e Crescimento Econômico, Consumo e Produção Responsáveis e Ação Contra a Mudança Global do Clima foram as ODS prioritárias definidas. A partir disso, a empresa tem intensificado esforços em programas sociais, em pesquisa e desenvolvimento e no cuidado com as pessoas.

 

Marcos ainda explica: “Hoje, não temos uma área única para essa agenda, mas cada uma das vertentes possui uma área específica, como a de inteligência social, de meio ambiente e a de governança. Criar e estabelecer essas áreas não foi um desafio, tampouco sua consolidação, pois sempre tivemos uma consciência muito forte para as práticas ESG. Acreditamos em um futuro verde, com uma economia sustentável e muito baseada na transição energética – algo pelo que trabalhamos todos os dias”, arremata.

 

Sede do Banco do Nordeste, na capital cearense.

Para o Banco do Nordeste, sediado na capital cearense, a agenda ESG é estratégica para o desenvolvimento da Região Nordeste e para seu próprio desenvolvimento corporativo. Em 2021, foi efetuada uma reestruturação interna que culminou na criação da de uma área específica para tratar do tema. Entre as atribuições dessa área, destacam-se: disseminar a cultura ESG na instituição; implementar a Política de Responsabilidade Social, Ambiental e Climática (PRSAC); propor e monitorar as métricas de sustentabilidade; promover e apoiar iniciativas socioambientais nas demais unidades do Banco; gerenciar o Sistema de Gestão Ambiental; e gerenciar os normativos de sustentabilidade do crédito.

 

De acordo com o  diretor de Planejamento do Banco do Nordeste, Bruno Pena, a jornada ESG do Banco do Nordeste começou há muitos anos, buscando incorporar e ampliar elementos ambientais, sociais e de governança nas práticas de gestão e de negócios.

“Integramos o tema com maior destaque em nosso planejamento empresarial, com acompanhamento pelos órgãos internos de gestão e governança, orientando nossa operação empresarial e nossa relação com toda cadeia de valor. Assim, pelo lado da precaução e mitigação, todos os nossos financiamentos atendem a requisitos ambientais e sociais definidos em normativos internos e pela legislação, como também em nossa relação com nossos fornecedores. Já pelo lado da promoção e fomento, oferecemos produtos de impacto positivo, podendo destacar nossos programas de microcrédito rural e urbano, nossas linhas específicas de apoio à agricultura familiar e para micro e pequenas empresas, todas promovendo a geração de emprego, renda e inclusão social. Já no aspecto ambiental destaca-se nosso apoio para geração de energia renovável, eólica e solar, na modalidade centralizada e distribuída ajudando a colocar a região em posição de destaque nesta área”, ressalta.

 

Resposta dos consumidores diante das ondas de disrupção

Algumas rupturas no processo de transformação digital estão moldando o comportamento do consumidor, é o que também aponta a pesquisa assinada pela PWC. Indústria e comércio precisam se adaptar com urgência quanto à experiência omnichannel, cibersegurança, cadeia de suprimentos e políticas de precificação, além das práticas ESG.