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Mídia como pesquisador de experiência: três metodologias latinas

Por Redação

28/03/2022 09h14

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Os mídias nunca morrerão, não são marketeiros e vivem a pura essência da pesquisa. Nunca se limitarão à exclusividade de uma estratégia de canal. Fugir dos devaneios de Kotler, em sua usura por decifrar o sujeito em números das versões limitadas de marketing de “sei lá quanto pontos”, é racional. Os mídia não padecerão à ideologia californiana de onde nasceram. “Latinizaram-se” à lógica do produto ante o paradigma da midiatização, da interdependência das mídia quanto conduto da realidade. Os mídia são os novos portadores da experiência, da opinião pública.

 

São pesquisadores da experiência. Kantar e Ipos não são mais seus únicos fornecedores. Já aprenderam com as secundárias e estão no palco das pesquisas de dados primários. Figuram do sujeito que consome a atores das dinâmicas dos dispositivos móveis. Esta é sua nova função: tradução. Elas e eles não se exaurem nas agências. Agenciam nas corporações, nos “times” multidisciplinares. Coexistem com novos redatores e desenhistas, como os escritórios da Madson Avenue, agora, em nossas esquinas. Encontram seu “x”, na Faria Lima e Santos Dumont, a veia de tradução da estética, poética e evidência. “UXW”, “UX” e “UXR” são as novas configurações da Publicidade.

 

Em dez anos de vivências de pesquisas, testemunho os câmbios pelos quais as pesquisas de opinião pública transitam. Aponto três searas do fazimento dos frames de experiência. Antes, retorno à história da Ciência da Mídia.

 

Paul Lazarsfeld é considerado, em significativa literatura, apenas como um metodologista quantitativo. As inovações metodológicas no campo da análise de dados multivariados, com o disseminar das primeiras práticas de grupos focais, constituem apenas uma parte do seu legado. Disseminado por sentidos estritamente quantitativos sobre “opinião pública”, há divergentes ópticas que postulam haver Lazarsfeld utilizado distintos meios e métodos disponíveis – tanto qualitativos como quantitativos – como o recente trabalho apontado pelo colega Dr. Hynek Jeřábek na rede Lazarsfeld’s Legacy FORUM. Os pupilos mídias pouco aprenderam sobre os trabalhos de Lazarsfeld, pois se limitaram ao que o mercado editorial impõe na venda de Kotler como o doutor da realidade corporativa. Desprezam, alguns, os trabalhos das redes latinas da pioneira Dra. Margarida Kunsh, e bobeiam ao adquirirem, acriticamente, os manuais embalados pelos impérios editoriais. Em Lazarsfeld, o mídia encontra as mesmas lógicas que os sentidos da “opinião pública” tiveram ao se quantificar. A ordem, agora, é qualificar o que os excluídos já disseram (e que à extensão da  minha coluna relevarei). 

 

Diário de mídia

A primeira metodologia latina de experiência. Encampa no WhatsApp seu Moleskine. Nenhuma estatística argumentaria a relevância desta mídia no Brasil e nas fronteiras com Venezuela, Guiana, onde escrevo neste artigo, o primeiro. Traduz a “jornada” em acontecimento ao questionar o ator: o que está acontecendo aqui? Iniciativas de softwares livre, como o Qualichat, criado na UNICAMP, já é um instrumento de análise dessas dinâmicas que ocorre em conversações de WhastApp.

 

Campo

Não é o domínio apenas da Antropologia. Educomunicação e as pesquisas de comunicação comunitária já revelam nossa vocação para o “pesquisar em campo”, para a vivência nativa e incorporação do problema, da premissa de partida. 

 

Relato de experiência

Documenta pela captura de áudio e vídeo, agora, acessibilidade com qualquer celular, a dinâmica da experiência do toque. Coleta o anúncio da “jornada” em um depoimento guiado por um roteiro pré-estruturado. Filma a ação da tela. Grava a organização da realidade, da experiência. Edita o insight que sopra no cambiamento do produto.

 

Em maio de 2022, em meu curso na Escola Superior de Propaganda e Marketing, revelarei com detalhes tais metodologias, latinas, própria e vocacionalmente nossas. É raso qualquer argumento que distancia teoria de prática, de castas de acadêmicos e mulheres e homens de mercado. A presença de doutores e mestres no ambiente corporativo já prediz o dever do encontro. Prática é concebibilidade, é laço teórico. Aportes dos novos mídias, das mulheres e homens portadoras da experiência.

 

Fernando Nobre 

Product Researcher Lead no will bank. Pesquisador visitante do Zentrum für Medien- Kommunikations- und Informationsforschung (ZeMKI) da Universidade de Bremen na Alemanha. Graduado em Publicidade pela Escola Superior de Propaganda em Marketing, mestre em Sociologia e doutor em Estudos da Mídia. Fundador do Ernest Manheim Laboratório de Opinião Pública. Possui mais de dez anos de experiência em pesquisa e oito anos em docência. Inventor do software Qualichat, desenvolvido em seu pós-doutoramento na UNICAMP, entre 2020 e 2022.