As organizações que mais conhecem a realidade de comunidades vulneráveis no Brasil se uniram em uma iniciativa conjunta contra a fome. CUFA (Central Única das Favelas), Gerando Falcões e Frente Nacional Antirracista acabam de lançar o movimento Panela Cheia que pretende arrecadar recursos para a compra de 2 milhões de cestas básicas para distribuição em todo o país. A iniciativa, que também já está ativa no estado do Ceará, através da CUFA-CE, ainda conta com apoio do UniãoSP e cooperação da UNESCO.
O Panela Cheia chega em um momento de extrema gravidade. Com a pandemia do novo Coronavírus levando a milhares de mortes diárias, os impactos econômicos e sociais fizeram com que a fome se alastrasse ainda mais pelo país. Pesquisa do Data Favela (parceria da CUFA com o Instituto Locomotiva) aponta que quase 7 em cada dez (68%) pessoas que vivem em comunidades no Brasil tiveram piora em sua alimentação em 2021. A média de refeições diárias nestes locais é de menos de duas (1,9) e 68% dos moradores afirmam que, ao longo de 15 dias, em ao menos um faltou dinheiro para comprar comida. Por dados alarmantes como estes, a mensagem da campanha é clara: “Fome mata. Panela cheia salva”.
A campanha, que visa impactar a população mais carente, também já está ativa no Ceará, através do CUFA Ceará, sendo conduzida por Preto Zezé, Presidente da CUFA Brasil, e por Francisco Wilton, Presidente da CUFA no estado. Ao todo, a meta do movimento é arrecadar cerca de 2 milhões de cestas básicas, ajudando a encher milhões de panelas de famílias pelo Brasil. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em setembro de 2020, 10 milhões de pessoas estavam em situação de “insegurança alimentar grave”, ou seja, fome. “Este número é bem pior hoje em dia. Estamos chegando perto de uma calamidade porque a pandemia fez piorar ainda mais uma situação que já era gravíssima. A sociedade precisa ter visibilidade disso e agir rapidamente”, afirma Preto Zezé.
Parte da Frente Nacional Antirracista, Karla Pereira lembra que a maior parte dessa população é negra. “É importante lembrar que a maioria dessas pessoas é negra e deixá-las sozinha não é uma opção. A Frente Nacional Antirracista se uniu à iniciativa porque é fundamental que essas pessoas recebam assistência o mais rápido possível”, explica.
Para Eduardo Lyra, fundador e CEO da Gerando Falcões, é somente com a junção de forças que a situação pode melhorar. “Duas organizações da favela estão se unindo em uma só campanha, com apoio de entidades sérias e importantes. Mas precisamos de toda a sociedade sensível ao tema e trabalhando junta para solucionar o problema da fome. É desesperador ver tanta mãe de família sem comida em casa”, disse.
Para quem desejar contribuir, no site https://www.panelacheiasalva.com.br/ é possível conhecer mais sobre a campanha e selecionar a instituição para qual a pessoa gostaria de fazer uma doação: CUFA (projeto Mães da Favela), Gerando Falcões (projeto Corona no Paredão) ou Frente Nacional Antirracista. Em ambas o valor arrecadado será utilizado para a compra de cestas básicas físicas ou digitais e que serão distribuídas pelas instituições às comunidades.
A campanha, com abrangência nacional, foi criada pela agência Africa, que assina todas as peças de mobilização social e o clipe da música-tema produzida por Simoninha e Jair Oliveira. O jingle foi criado para dar visibilidade ao problema da fome e convocar todos para a ação por meio do Movimento Panela Cheia. Alcione, Péricles, Fernanda Abreu, Maria Rita, Naiara Azevedo, Carlinhos Brown, Dudu Nobre, Zeca Pagodinho, Lexa e Vanessa da Mata gravaram participações especialíssimas, sem qualquer cachê.
“A Africa é uma agência que entende que a criatividade e a comunicação são fundamentais no diálogo, na conversa e na conexão entre as pessoas num momento de total disrupção como o que estamos vivendo. A gente usa as ferramentas, a nossa capacidade, o nosso talento e o nosso comprometimento com a sociedade para criar, estimular e promover movimentos como este. Relevância é estar fazendo o que é bom para o próximo”, destaca Sergio Gordilho, copresidente da agência Africa.
Um dos objetivos da união de entidades é buscar mais participação de empresários na doação de cestas básicas. O UniãoSP, que em 2020 distribuiu 620 mil cestas para cerca de 3 milhões de pessoas, entra com a expertise de mobilização empresarial. “Estamos reiterando o nosso apoio neste momento difícil e ajudando quem mais precisa. Tenho certeza que a parceria de CUFA, Gerando Falcões e Frente Nacional Antirracista, com a UNESCO cooperando e o nosso apoio, vai, além de levar comida para inúmeras famílias, mostrar que este tipo de parceria é muito importante num momento de desespero social como o que estamos vivendo”, finaliza Ana Maria Diniz, do Conselho da Península Participações, uma das empresas organizadoras do UniãoSP.
Sobre a CUFA
A CUFA (Central Única das Favelas) é uma organização social brasileira presente em 5 mil favelas por todo o país. A entidade existe há mais de 20 anos e trabalha com esporte, formação de lideranças e empreendedorismo, educação, lazer, cultura e cidadania. Durante a pandemia da Covid-19, a CUFA utilizou sua capilaridade para amenizar ao máximo as dificuldades que os moradores de favela enfrentam. Através do programa Mães da Favela, a instituição entregou cestas básicas, físicas e digitais, e chips com internet gratuita por 6 meses para as mulheres assistidas pela iniciativa. Por seu conhecimento sobre esses territórios, a CUFA criou uma rede de proteção que atingiu mais de 5,8 milhões de pessoas em todo o Brasil, já que está presente e atua nos 26 estados e também no Distrito Federal.
Sobre a Gerando Falcões
A Gerando Falcões é um ecossistema de desenvolvimento social que atua em rede para acelerar o poder de impacto de líderes de periferias de todo país que possuem um sonho em comum: colocar a desigualdade das favelas no museu. Seu foco são iniciativas transformadoras, capazes de gerar resultados de longo prazo. Os projetos se baseiam em esporte e cultura para crianças e adolescentes, qualificação profissional para jovens e adultos e geração de renda.
Sobre a Frente Nacional Antirracista
A Frente é um coletivo de entidades do movimento negro que se uniu para dar repostas à sociedade no combate ao racismo. Para tanto, usa a pluralidade das organizações que a compõem para desenvolver iniciativas capazes de combater o racismo estrutural em empresas, levando o debate sobre a discriminação racial e a necessidade de inserção dos pretos na economia global adiante por meio de interlocução com setor público e com a sociedade em geral.