Meus pais são professores, então sempre me vi envolvida no universo educacional. Eles sempre foram as minhas maiores inspirações. E, ao longo da minha trajetória, pude aprender com docentes e gestores que também me ensinaram em demasia e foram espelho para meu agir pessoal e profissional.
Com 24 anos, já fisioterapeuta e sendo a única com mestrado na área em João Pessoa, assumi meu primeiro cargo de gestão neste segmento: coordenadora do curso de Fisioterapia do Unipê. A cada etapa profissional, vivenciei desafios e todos eles me permitiram e permitem aprender todos os dias que a mudança é uma constante e precisamos estar dispostos a encontrar soluções e alternativas em busca de avanços e melhorias.
Nesse sentido, um dos desafios ainda a ser superado no Brasil está em ser mulher e ocupar um cargo de liderança. Segundo dados divulgados pelo IBGE de 2019, 37,4% das mulheres ocupavam cargos gerenciais e recebiam apenas 77,7% do rendimento dos homens. Além disso, em 2020, o saldo entre abertura e fechamentos de vagas com carteira ficou negativo para mulheres, mas positivo para os homens, segundo dados do Cadastro Geral de Empregos (Caged).
Apesar de observamos um crescimento no número de mulheres em cargos de gestão, ainda somos minoria. Mesmo na área acadêmica, em que temos mais mulheres como estudantes, docentes ou exercendo funções de liderança em níveis intermediários, como as coordenadorias de curso, o percentual das mulheres em cargos de elevada hierarquia e de aptidão administrativa, como diretorias e reitorias, ainda é baixo.
E, embora a questão da igualdade de gênero esteja avançando em nossa sociedade, bem como o perfil de liderança sendo modificado nas mais diferentes áreas, aspectos históricos, culturais e sociais ainda geram resistências. Fatores que resultam em desconfianças infundadas em relação a mulher e culminam no clichê de questionar a sua capacidade de equilibrar trabalho, família e filhos.
Eventualmente, e por vezes de forma velada, passamos por situações em que sabemos que se o gênero fosse o masculino, a atitude seria diferente. O que só enaltece os caminhos que ainda precisam ser percorridos em prol de igualdade e respeito em ambiente profissional (e fora dele). E para alcançar essa igualdade não há outro caminho que não seja cobrar daqueles que estão em perfis de liderança, sejam mulheres ou homens, políticas claras dentro das corporações que estimulem e motivem, cada vez mais, mulheres para ocuparem patamares mais elevados.
Várias pesquisas indicam características diferentes nos perfis de liderança feminina e masculina. Tanto é que, atualmente, muito se fala em um perfil de liderança em transição, inclusive com incorporação de características tidas como femininas, a exemplo das maneiras de comunicação e relacionamento mais empáticos, sensíveis, democráticos e transversais, mediante a relevância das soft skills para o desenvolvimento humano.
Porém, acredito que o foco não seja enaltecer diferenças e mais uma vez polarizar, mas sim observar como diferentes pessoas, estilos e perfis enriquecem um ambiente e os olhares frente às mais diferentes situações, permitindo a aprendizagem constante e mais assertividade no exercício da liderança. Ou seja, as empresas devem apostar na diversidade de perfis, na pluralidade de vozes.
É preciso utilizar de todos os espaços de debate e ambientes educacionais para demonstrar que as mulheres são capazes de assumir posições de liderança e poder, favorecendo a mudança da condição social e permitindo avanços e conquistas do caminho longo que ainda é preciso alcançar. Afinal, ainda se observam discrepâncias salariais entre homens e mulheres mesmo quando exercem a mesma função. Ainda há sobrecarga pelo trabalho doméstico, materno e seu papel familiar. Além dos aspectos de julgamento moral, comportamental e, infelizmente, as violências física e simbólica.
Sigamos na luta em todos os nossos espaços de conquistas!
Mariana de Brito Barbosa
Reitora do Centro Universitário de João Pessoa (Unipê)