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Dia Internacional da Mulher: da I Revolução Industrial à Indústria 4.0

Por Redação

08/03/2022 15h23

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Lideranças femininas do nordeste compartilham suas análises sobre o papel da mulher na indústria

 

O Dia Internacional da Mulher é uma data instaurada em homenagem ao movimento histórico que reivindicou a igualdade de gênero nas indústrias e fábricas ao redor do mundo. A Primeira Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra por volta de de 1760, mudou a situação do trabalho. A partir daí, a economia agrária e artesanal transformou-se em economia industrial, redefinindo significativamente os papéis sociais de homens e mulheres. Pela primeira vez, um grande número de mulheres começou a trabalhar fora de casa. Essa nova condição promoveu independência e autonomia, assim como deu origem a outras conquistas sociais, políticas e econômicas, incluindo o movimento pelos direitos das mulheres. A data foi oficializada em 1921 e adotada pela Organização das Nações Unidas, mas o marco histórico para a escolha da data em 8 de março foi uma manifestação das mulheres russas por melhores condições de vida e trabalho, acontecimento ocorrido em 8 de março de 1917.

Entre 1914 e 1945, foram deflagradas duas Guerras Mundiais que, de forma dolorosa, ajudaram a consolidar a presença feminina no mercado de trabalho para substituir os homens que estavam no serviço militar. Na década de 1970, com o início da Terceira Revolução Industrial, e o começo das tecnologias digitais, as mulheres iniciaram o êxodo do lar para os escritórios. As faculdades começaram a abrir suas portas para elas, permitindo que estudassem e ingressassem em profissões antes reservadas aos homens.

Desta forma, chegamos aos dias atuais, em que a sociedade passa agora pela chamada Quarta Revolução Industrial, também conhecida como Indústria 4.0. A combinação entre mundo físico, espaço digital e biologia proporcionou mudanças exponenciais que revisitam os estereótipos de gênero e a colaboração entre humanos e máquinas, sem que essa atuação seja segregada por sexo. Isso significa que a Quarta Revolução Industrial é mais democrática, inclusiva e feminina.

 

Mulheres na indústria 4.0

De acordo com o levantamento mais recente feito pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), a cada quatro pessoas empregadas da indústria, uma é do sexo feminino. O Nordeste, possui uma taxa de apenas 8,43% de participação feminina na indústria, quando comparada ao número total de mulheres empregadas. Em outra perspectiva, a pesquisa “Mulheres São Melhores Líderes Durante a Crise”, assinada pela Harvard Business Review, avaliou 454 homens e 366 mulheres, entre março e junho de 2020, e mostrou que as mulheres foram classificadas de forma mais positiva em 13 das 19 competências gerais de liderança. Nas respostas dos entrevistados, o público feminino se destacou, principalmente pelas habilidades interpessoais, como colaboração, trabalho em equipe e motivação.

No Ceará, Aline Ferreira, sócia executiva e vice-presidente comercial e financeira do Grupo Aço Cearense, é um dos destaques em liderança feminina na indústria siderúrgica. Aline foi eleita a melhor executiva do Ceará em 2021. A escolha ocorreu em votação promovida pelo portal Márcia Travessoni, ganhando com 34,89% dos votos.

“Esse reconhecimento reflete tudo que tenho aprendido e conquistado por meio da minha família que é meu alicerce, do time do Grupo Aço Cearense, que me ensina e apoia todos os dias, de todos que, de algum modo, fazem parte da minha história e, acima de tudo, de Deus, que me abençoa com tantas oportunidades”, destaca.

A executiva é formada em Administração de Empresas pela Universidade de Fortaleza (Unifor), com os cursos de extensão Programa de Desenvolvimento de Conselheiros (FDC) e Programa de Capacitação Gerencial (Instituto FA7/IPL). Aline também é embaixadora e mentora da Endeavor Brasil; conselheira consultiva do Lide Ceará e presidente do Conselho Consultivo da Associação Júnior Achievement Ceará. O grupo Aço Cearense tem atuação no Ceará, Pará e Tocantins. A companhia é composta por quatro empresas e um Instituto. O grupo atua fortemente, inclusive em nível nacional, nos segmentos de metalurgia e siderurgia.

 

Rebeca Oliveira é diretora Executiva de Relações Institucionais Complexo Industrial e Portuário do Pecém. É a primeira diretora mulher em 19 anos de história do terminal portuário e sempre que pode, gosta de enfatizar o grande feito. Rebeca nasceu na região do Cariri, cidade do Crato, é formada em Direito pela Universidade Federal do Ceará e é especialista em Comércio Exterior pela Seneca College, universidade canadense. A executiva deseja servir de exemplo para meninas que estão decidindo qual carreira seguir. “É importante elas perceberem que existe uma outra mulher abrindo caminhos. Preciso ser exemplo, tenho essa obrigação, porque alguém foi meu exemplo antes”, compartilha emocionada.

 

“A posição em que nos colocaram por muitas décadas, de cuidar de uma casa, de uma família, apesar de limitante, foi uma grande escola. Antes éramos criadas para gerenciar conflitos e solucionar problemas no âmbito familiar, agora gerimos grandes empresas. Oportunidade ainda é uma abertura ainda difícil para as mulheres. A forma como somos vistas, com o estereótipo de mães, donas de casa, filha etc. é um peso. Nossa luta hoje é para mostrar que sim, podemos fazer dezenas de coisas ao mesmo tempo, ser mãe e nos dedicar integralmente ao nosso trabalho. Eu, por exemplo, tenho um filho pequeno, trabalho em outra cidade e ainda faço mestrado”, ressalta a executiva.

Rebeca ainda relembra episódios de preconceito, que não a impediram de alcançar um cargo de extrema importância e estratégia na indústria portuária.

“Já ouvi uma vez: ‘você é nossa melhor funcionária, mas aqui no Nordeste é complicado termos mulher em posição de liderança’. Esse é apenas um exemplo entre as dezenas de entraves diários que enfrentamos. Estamos em uma região do país que ainda está desconstruindo essa imagem sexista. Posso estar em uma sala com 15 homens, só eu de mulher. E mesmo eu ocupando o cargo mais alto da hierarquia em uma reunião, tenho a impressão de que sempre vão me pedir que eu solicite um café. Parece pequeno, mas é o passamos diariamente. É verdade que muito já mudou. A frase acima, escutei 15 anos atrás. Acredito que não escutaria mais hoje, pelo menos não dessa forma. O certo é que nosso trabalho é de formiguinha mesmo, conquistando um cargo de liderança por vez, e buscando diariamente nosso espaço”, conclui a executiva.

 

Águeda Muniz é Diretora Executiva na C. Rolim Engenharia. Arquiteta por formação, já foi titular da Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) de Fortaleza. A tradicional construtora propôs a criação do cargo de Diretoria Executiva especialmente para a gestora em abril de 2021. Com um posicionamento forte, Águeda acredita que gestão e liderança independem de gênero.

“Acredito que a questão é que a mulher é cobrada a acertar mais. Para nós, mulheres, muitas vezes, é inconcebível o erro. Aí é que está a diferença nos cargos de decisão, nos altos cargos de gestão. Quando nós os ocupamos, a expectativa e a responsabilidade do erro caem muito mais em cima de nós, mulheres, do que propriamente dos homens. Eu percebo que, pode ser que haja essa maior habilidade em relação à gestão e liderança por conta da sensibilidade, mas acho que isso é generalizar muito. A sensibilidade de entender o colaborador, o fornecedor, integrar desejos e aspirações é nato ao líder e não necessariamente de um homem ou de uma mulher. “, enfatiza.

Ao longo da sua trajetória, a executiva percebe certa surpresa por ser uma mulher exercendo cargos de gestão. “Por conta ainda do número reduzido de mulheres nesses espaços e por causa da maior assertividade, como já falei anteriormente. A gente não pode errar. O erro da mulher é tido como muito maior do que o do homem”, reforça. Na indústria da construção civil, Águeda ocupa o cargo mais alto da gestão executiva e sente que é uma quebra de paradigmas.

“Sendo um dos maiores segmentos da indústria, a construção civil vem cada vez mais integrando mulheres no dia a dia dos canteiros de obras. Na C. Rolim Engenharia já somos a maioria no escritório. O gargalo é justamente todo esse contexto histórico e cultural da mulher. É cultural, mas acho que vem mudando. Acho que é muito mais uma questão de tempo do que propriamente algo que ainda está em construção. Já conseguimos ver muitas mulheres ocupando esses espaços como conselheiras, presidentes de empresas, CEOs, políticas… Então, acho que é uma tendência crescente essa igualdade entre homens e mulheres nos altos cargos. “, compartilha sua percepção.

Águeda Muniz ainda acredita que a mulher é uma empreendedora nata e explica:

“A maioria das mulheres não faz parte do trabalho formal, mas é, sim, promotora do desenvolvimento econômico local, dos bairros, das pequenas comunidades etc. Enquanto a participação feminina na indústria continua sendo pequena, ela é gigantesca no âmbito das cidades, da movimentação da economia local, da economia de bairros. Neles, você sempre vai encontrar mulheres que sustentam as famílias fazendo bolo, conduzindo uma confecção, sendo manicure, cabeleireira. Isso vem se disseminando para a classe média também. Eu acho que, principalmente o Brasil e os países em desenvolvimento, são o locus do empreendedorismo feminino. Principalmente o Brasil. Acho que a mulher é muito empreendedora e essa atividade não é medida para além da participação na indústria, da participação da mulher no mercado de trabalho formal. E isso é gigantesco e deveria ser olhado com mais cuidado e muito respeito, principalmente pelos governos e pelas agências de fomento, para que isso pudesse ser visualizado como fator de desenvolvimento das cidades brasileiras”, ressalta firmemente.

Ser uma mulher na indústria da construção civil significa cumprir o propósito da empresa e gerar resultados, fazendo com que os colaboradores, os fornecedores, os clientes e demais stakeholders se sintam bem por também fazerem parte, segundo Águeda.

“Independente de uma questão de gênero, o grande papel de uma liderança numa empresa é integrar os desejos dos sócios, dos colaboradores, dos fornecedores e dos clientes, gerando bons resultados para todos. A questão de você saber lidar com as pessoas, conhecer os anseios, as necessidades, as demandas e o que elas podem oferecer no trabalho, no dia a dia, é ser o verdadeiro líder. É conhecer a sua gente, para que o resultado da empresa seja bom. E esse resultado não é só financeiro. É também o resultado social e emocional para todos que a fazem”, conclui.

 

Sócia da consultoria PwC Brasil, Helena Rocha desde jovem, desejava se realizar profissionalmente como executiva. Já na universidade, trilhou todo o caminho, entre prática e teoria, para conquistar espaço como líder. Exemplo que vai na contramão das estatísticas, Helena busca exercer empatia, flexibilidade e sentimento de pertencimento como estratégia para envolver as equipes e garantir sua liderança de forma assertiva. A gestora destaca um dado alarmante: três em cada 10 pessoas no Brasil (27%) admitem que se sentem desconfortáveis em ter uma mulher como chefe, segundo dados da pesquisa “Atitudes Globais pela Igualdade de Gênero”, publicada em 2019 pela Ipsos. A resistência a mulheres líderes é maior entre os homens, alcançando 31% deles, enquanto 24% das trabalhadoras no Brasil pensam da mesma forma sobre serem lideradas por alguém do mesmo sexo

“Percebemos que é uma questão cultural, inclusive nas organizações. As mulheres têm muito a contribuir para transformar as estruturas das empresas, inclusive com práticas ESG, diversidade no banco talentos e igualdade de gênero. Esse ecossistema plural e inclusivo é capaz de gerar melhores resultados, indo bem além dos resultados financeiros.  As mulheres conseguem exercer uma gestão mais flexível e humanizado, além de levar em consideração as habilidades e os valores individuais dos colaboradores. Essas características da liderança feminina fazem total diferença na dinâmica do mundo corporativo”, resume. 

Sobre a trajetória pessoal, Helena também escreve uma história de perseverança:

“Há 15 anos atrás, vivíamos um contexto ainda mais difícil. Por exemplo, à época, eu viajava à São Paulo para reuniões e sentia o preconceito dos meus interlocutores por ser mulher, nordestina e exercer cargo de gestão. Também precisei fazer escolhas, precisei morar fora, tive filho… Sempre precisei de resiliência para provar o meu valor. Para isso era destemida e dedicada com o único objetivo de ser uma grande líder no mercado corporativo. E eu consegui.”, conta.

Com previsão de escritório em Fortaleza a partir de abril, a PwC Brasil é um dos braços da empresa de serviços profissionais mais confiável e relevante do mundo, presente em 156 territórios, com mais de 295 mil profissionais congregados. A consultoria ajuda organizações e indivíduos na prestação de serviços integrados nas áreas de auditoria e asseguração, consultoria tributária, consultoria estratégica e assessoria em transações, além de produzir pesquisas que analisam setores da indústria.

“Nossa pesquisa mais recente sobre o tema indica que como a pandemia da Covid-19 está afetando as mulheres no trabalho. Os empregos das mulheres estão sofrendo um impacto desproporcional da Covid-19 devido às desigualdades de gênero existentes na sociedade e ao efeito nocivo da pandemia nos setores de serviços com altos níveis de empregabilidade feminina. A Covid-19 também está ampliando a carga desigual do trabalho doméstico e de cuidados não remunerados realizado pelas mulheres. Isso não retarda o progresso em direção à igualdade de gênero, mas também retrai o crescimento econômico”, conta a consultora. Acesse a pesquisa Women in Work Index 2021 na íntrega.