Elas atuam fortemente nas visões mais ecológicas e sustentáveis do mundo, afirma Sueli Furlan, doutora em geografia física
As mulheres são a grande maioria na formação básica dos cidadãos brasileiros, no ativismo de organizações sociais e no setor de reciclagem. Com presença marcante nessas áreas, elas se tornam protagonistas da prática de circularidade e sustentabilidade no Brasil.
Segundo dados do Censo Escolar 2021 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 96,3% dos professores da educação infantil, 88,1% nos anos iniciais e 66,5% nos anos finais do fundamental são mulheres, assim como 57,7% do ensino médio. Portanto, a ação delas é fundamental para a formação dos agentes sociais, meninas, meninos e jovens que vão transformar o mundo.
A pesquisa “Perfil das Organizações Sociais e Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público em Atividade no Brasil”, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de 2020, mostra que as mulheres representam 72% da força de trabalho em Organização Social (OS) e 64% em Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip). O Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), divulgou que em 2021 as mulheres eram 70% dos 800 mil trabalhadores em atividade no Brasil.
Além disso, elas também são maioria no Brasil. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 51,1% da população brasileira era do sexo feminino em 2021, o que representa 4,8 milhões de mulheres a mais que homens no país.
“É muito interessante pensar o papel da mulher na economia circular, uma sociedade que não descarta, que vê todos os recursos e matérias-primas como circulares, produtos que estão sempre sendo reintroduzidos na natureza ou em processos industriais. A mulher tem atuado muito fortemente nos campos da visão mais ecológica e sustentável do mundo”, afirma a professora Sueli Furlan, doutora em geografia física e coordenadora do Movimento Circular.
A professora comenta que a mulher tem um importante papel social na circularidade porque participa da economia doméstica, do cuidado com os filhos, com a alimentação da família e está cada vez mais presente em todas as possibilidades de trabalho do mercado.
“Ela introduz uma visão mais integrada no mercado, talvez mais arquetípica da nossa ligação com o observar, o cuidar, o promover o bem-estar, o manter uma família. Ocupam cargos, composições, difundem ideias. As mulheres contribuem com as diferenças”, afirma.
Sueli avalia que as mulheres se destacam porque predominam em postos chaves de terceiro setor, em cooperativas, sistemas de triagem e indústria de reciclagem.
“Ocupa a maioria dos postos nesse setor tão importante para fazer com que as matérias-primas circulem. Por ter sido caracterizado como um trabalho informal, a princípio isso marcou bastante a participação do contingente feminino nas cooperativas. As mulheres são predominantes numericamente e também nas ações para formar pessoas como professoras. No terceiro setor, lideram grupos de ativistas e ocupam postos nas empresas em cargos de aprendizagem social para que processos industriais sejam mais ecológicos”, afirma.
Na economia circular, as conquistas femininas são relevantes. A professora cita desde a criação da Fundação Ellen MacArthur, criada para apoiar organizações sociais, liderada a princípio por uma mulher, até as ações de transformação comportamental, com a divulgação, difusão, formação e educação, em que as mulheres são predominantes.
“A adesão da mulher às questões ecológicas, por sua percepção de responsabilidade por um mundo mais saudável, para termos gerações mais comprometidas e responsáveis com o ambiente, é muito relevante na sociedade”, finaliza.
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