Dezoito de maio é o Dia Internacional dos Museus, uma data de caráter “agridoce” para quem valoriza a cultura e a história no Brasil. Isto porque, embora se posicione como um dos países que contam com a maior quantidade desses equipamentos, esses espaços ainda são acessíveis a poucas pessoas. Neste panorama, iniciativas como os Museus Orgânicos têm se destacado, no sentido de indicar um novo caminho para a cultura museológica no País.
Para que se tenha uma ideia, sabe-se que, embora o Brasil se posicione como um dos países que contam com a maior quantidade desses equipamentos, os museus – em seus diversos formatos – estão presentes em poucas cidades do País. Em 2021, havia museus em apenas 29,6% dos municípios brasileiros, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ante esse cenário, para gestores da cultura, o grande desafio reside na democratização do acesso a esses equipamentos, fundamentais para a preservação não apenas da memória coletiva, mas na identificação de elementos do presente – e até do destino dos povos.
Para Alemberg Quindins, gerente de Cultura do Sesc Ceará, historicamente, no senso comum, os museus comumente retratam a trajetória dos chamados “vencedores”, evidenciando a pujança econômica oriunda dessas conquistas. Tal constituição leva a uma ideia de que eles são disponíveis para poucos, integrantes de classes mais favorecidas. Para ele, essa “elitização” dos equipamentos, no entanto, tem sido subvertida por novas concepções na área museológica.
Como exemplo, ele aponta o conceito dos Museus Orgânicos, fruto de uma parceria do Sesc com a Fundação Casa Grande. Na concepção original, surgem como uma ressignificação da própria morada dos Mestres da Cultura do Cariri, verdadeiros “tesouros vivos” das tradições, transformando-a em um lugar de memória afetiva, deixando-a aberta para visitação e até proporcionando um incremento no turismo local.
Nessas casas reconfiguradas, encontram-se objetos pessoais, fotografias, vestimentas, instrumentos e tudo que marca o dia a dia e consolida essas manifestações tradicionais.
“Um objeto como um ferro de passar da Mestra Dona Dinha não é só um objeto a ser contemplado. Aquilo nos remete ao passado, mas ainda está ali, continua a ser utilizado no dia a dia, transformando coisas no presente, e nos fazendo olhar para o futuro”, raciocina Alemberg, citando uma das Mestras da cultura homenageada pelo projeto, ao concluir que o conceito de Museu Orgânico está mesmo é nas vivências despertadas por aquele espaço, como o próprio nome define.
Na verdade, argumenta, estão ali para proporcionar uma experiência sensorial: “Uma conversa na calçada em Potengi com Mestre Antônio Luiz, um cafezinho com Mestre Madeilton, os cheiros envolvidos, os sons, as imagens… tudo isso nos leva a outro tipo de experiência”, aponta o gestor.
Saiba Mais – Museus Orgânicos
Com a inauguração do Museu Mestra Ana da Rabeca, no último mês de abril, em Umari, o projeto chegou ao seu 17º equipamento entregue pelo Sesc Ceará, em parceria com a Fundação Casa Grande.
Alemberg Quindins acrescenta que os museus orgânicos destacam os variados ciclos culturais, sociais e econômicos do Estado. Exemplos disso incluem o ciclo do couro, representado pelo Mestre Espedito de Seleiro; o ciclo do algodão, com a Mestra Dinha; o ciclo de Reis, com o Mestre Antônio Luiz; o ciclo do açúcar, com o Museu do Doce de Madeilton; e agora, o ciclo dos instrumentos musicais, com a Mestra Ana da Rabeca.
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