12ª edição

Na luta entre boomers e Gen Z, vence quem concilia as diferenças

Por Redação

05/06/2024 14h30

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“Geração preguiçosa”, para se referir à Geração Z; “No meu tempo não era assim” para se referir a todos os mais novos que agem de forma diferente do que os mais velhos consideram ideal; ou uma respiração mais pesada dos mais jovens em relação ao que consideram ser “lento” demais. Todas estas frases e comportamentos têm perdido espaço em empresas que enxergam o quão contraproducente é lutar contra a realidade de que o mercado de trabalho tende a unir cada vez mais pessoas diferentes, e estas diferenças vão muito além do ano de nascimento. Afinal, sabe-se que há, sim, tendências de perfis muito ligados à idade, mas generalizá-los, principalmente com foco nas “fraquezas”, é um caminho difícil de seguir. 

Empresas visionárias estão reconhecendo cada vez mais o valor da intergeracionalidade. Programas de mentoria que combinam veteranos experientes com jovens talentos estão se tornando populares, permitindo não apenas a transmissão de habilidades técnicas, mas também o compartilhamento de insights e valores.

Além disso, estratégias de gestão de talentos estão sendo adaptadas para valorizar as contribuições únicas de cada geração, criando um ambiente inclusivo onde todas as vozes são ouvidas e respeitadas. Waldir Beira Junior, CEO da Ypê, conta que a empresa já vive essa realidade de multiplicidade geracional. Ele pontua que a gestão de equipes multigeracionais apresenta desafios, mas também muitas oportunidades, destacando o aumento da longevidade, onde as pessoas vão trabalhar até mais tarde frisando que o mercado de trabalho deve se preparar para aproveitar o melhor de cada geração.

“Aqui na Ypê temos atualmente quatro gerações trabalhando (Baby Boomers, Geração X, Geração Y e Geração Z) com variadas faixas etárias e que nasceram em condições distintas”, conta. Nesta realidade, ele diz que percebe que os principais conflitos estão relacionados às diferenças de valores e expectativas entre as gerações e também ao uso da tecnologia, pontuando que estimular a convivência, a empatia, ter abertura para o diálogo dentro das equipes e incentivar a troca de conhecimentos é essencial para promover um ambiente de trabalho harmonioso e produtivo entre as diferentes gerações.

O CEO avalia que têm sido mais comum as empresas implementarem programas de mentoria reversa, onde jovens profissionais orientam os colaboradores mais experientes em áreas como tecnologia e tendências digitais, enquanto recebem orientação sobre desenvolvimento de carreira e habilidades interpessoais.

Além disso, o executivo pontua que programas de desenvolvimento profissional intergeracional, que combinam workshops, sessões de treinamento e projetos colaborativos, permitem que colaboradores de diferentes idades compartilhem conhecimento e aprendam uns com os outros. Essas iniciativas não só melhoram o desenvolvimento de habilidades, mas também promovem o respeito e a compreensão mútua entre as gerações. “Aqui na Ypê, além das mentorias, contamos com grupos de trabalho multifuncionais de pessoas com diferentes experiências e visões que constroem juntos soluções para alguma “dor” da organização utilizando metodologias ágeis e inovadoras”, enfatiza o empresário.

Todos aprendem com todos

Os mais velhos podem acreditar que, pela valiosa experiência e maturidade, alcançaram o patamar de apenas ensinar os demais. Mas, longe disso, o aprendizado deve acompanhar toda a vida profissional. Boomers podem aprender com os Gen Z, e vice-versa. Acreditando nisso, o CEO da Ypê compartilha que a empresa adota a “Unypê Talks”, momento semanal em que colaboradores de diversos setores, idades e gêneros, compartilham durante uma hora de live, conhecimento, informações de mercado e tendências, promovendo um ambiente de muita troca de informação, falando com todas as gerações.

A respeito das tendências emergentes na criação de ambientes de trabalho inclusivos que atendem às necessidades e expectativas das diferentes gerações, Beira Junior pontua que muitos estudos mostram que a diversidade aumenta a inovação, o engajamento e até mesmo o resultado financeiro das organizações. “Aqui na Ypê nós acreditamos que todos ganham com a diversidade de pensamentos, de ideias e de experiências independentemente de idade, gênero, raça, etc”.

Para criar ambientes mais inclusivos quanto às diferentes gerações, o executivo ressalta que a empresa adotou, onde foi possível, uma maior flexibilidade no local e horário de trabalho, permitindo ao colaborador adaptar-se à vida pessoal e profissional.

Outro ponto importante a sinalizar são os espaços de trabalho adaptáveis, que podem ser configurados para diferentes tipos de atividades e que também estão se tornando populares. Quanto a isso, o empresário salienta: “hoje, além das nossas unidades fabris na Bahia, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco e São Paulo, temos escritórios para atender esse novo modelo nas cidades de São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro e Porto Alegre”.

Waldir destaca que há um foco crescente na saúde e bem-estar, e por isso a Ypê criou o Programa Cuidar, que atende aos colaboradores e familiares não apenas em questões de saúde física, mas também relacionadas ao bem-estar mental. Temos o projeto ‘Mulheres Essenciais’ um espaço dedicado a debater diversas temáticas do universo feminino ao lado de especialistas no assunto que se unem às nossas colaboradoras em encontros periódicos e que geram valor.

Neste cenário, a ascensão da liderança jovem desponta como um elemento catalisador de transformação e inovação. Os líderes mais jovens trazem consigo uma perspectiva única e uma predisposição para desafiar o status quo, enquanto os veteranos oferecem a sabedoria lapidada pelo tempo e uma compreensão profunda dos meandros da indústria. 

Outro aspecto é a implementação de tecnologias colaborativas que facilitam a comunicação e a colaboração entre equipes distribuídas geograficamente, e a personalização de benefícios e oportunidades de desenvolvimento profissional para atender às diversas necessidades e aspirações das diferentes gerações que tem se tornado uma prática cada vez mais adotada. Temos que investir no “life long learning”. As pessoas não podem parar de aprender em nenhuma idade. Acredito que cada organização representa uma parcela da nossa sociedade e, se nossa população está envelhecendo, ter colaboradores de todas as idades, incluindo 60+, só nos ajuda a compreender melhor o nosso cliente.

Gerações influenciam marcas, marcas influenciam pessoas

Natália Schifino, 23 anos, é Curadora da FFX Group e Gestora da WOW Aceleradora. Sua jornada profissional começou no Movimento Empresa Júnior, onde trabalhou na consultoria associada ao curso de Administração da UFRGS e em outras instâncias do movimento. Depois, foi estagiária na WOW Aceleradora e cresceu até se tornar gestora. Hoje, esta é a maior aceleradora de startups do país, com 160 startups investidas e 380 investidores associados em 10 anos de atuação.

Quando ouve falar sobre tendências de futuro para o mercado de trabalho, a exemplo das que são apresentadas durante a NRF, maior feira de varejo do mundo que acontece anualmente em Nova Iorque, ela diz que já as enxerga como uma realidade. “Já vivemos em uma sociedade intergeracional e lidamos com os desafios e benefícios de diferentes gerações com diferentes crenças convivendo juntas. Fico feliz com o feedback das minhas palestras e contribuições, porque estar disposto a ouvir, interagir e refletir é o primeiro passo para ser positivamente impactado pelas transformações que já estão acontecendo e as que virão”, diz. 

A Geração Alpha (até 15 anos) já ultrapassou a Geração Z em número globalmente, representando, juntas, quase 48% da população mundial. No Brasil, esse número chega a 42,8%. São duas gerações representando quase 50% da população em um mundo onde cinco gerações coexistem. O impacto das novas gerações no comportamento social é inegável. Natália conta que isso a levou ao mundo da curadoria de eventos e palestras. Como curadora da FFX, ela traz essa visão geracional para as entregas de conteúdo e experiência. 

“Essas gerações, aprendendo com os erros e acertos de seus pais e avós, buscam uma vida que as faça se sentir bem consigo mesmas, ou seja, se rodeiam de tudo que contribui com as suas aspirações pessoais, que as aproxima de quem elas são ou querem ser.” A gestora enfatiza que elas valorizam a liberdade de expressão e consomem de marcas alinhadas com o que acreditam, tornando claro quais causas defendem e quais estilo de vida buscam. A influência dessas gerações começa no ciclo onde, sendo grande parte dos consumidores globais, inspiram a estratégia das marcas, que se ajustam para se alinhar com esses valores, e as marcas influentes, por sua vez, inspiram mais pessoas.

Outra frente de influência vem do fato de a Geração Z ter trazido uma nova maneira de se relacionar com os mais velhos, valorizando de forma diferente a troca de conhecimentos. Natália pontua que a tecnologia e a intergeracionalidade mudaram a perspectiva de “você sabe mais porque viveu mais” para “sabemos mais sobre coisas diferentes, porque vivemos de maneira diferente”

Ela afirma que, na prática, todos estão experimentando tecnologias transformadoras e buscando o melhor para nós, independentemente da velocidade de adaptação, resultando em um comportamento cada vez menos previsível quando usado o parâmetro da idade e mais colaborativo. Por isso estamos vendo uma fluidez geracional cada vez maior.

Como diferentes gerações preferem ser lideradas

Natália diz que não dá para rotular uma geração inteira com um comportamento ou preferência específica de liderança. “A Geração Z trouxe a liberdade de escolha, aumentando a diversidade de ambições. A falta de preconceito e a luta contra o julgamento abriram espaço para que as pessoas sonhem com o que quiserem”. A gestora conta que, na prática, essa liberdade permitiu um desprendimento de amarras que um dia a sociedade criou, e hoje está tudo bem liderar uma empresa de 2.000 funcionários ou um time de 2 pessoas, ou até passar a vida aprendendo com outros líderes.

É comum ver gerações anteriores valorizarem o estilo de vida workaholic ou reconhecerem quem prioriza a vida profissional sobre a pessoal, porém, Natália ressalta que hoje se é livre para concordar ou discordar disso e buscar um equilíbrio que faça sentido. “Queremos lideranças que permitam usar todo o nosso potencial, com a flexibilidade que acreditamos ser justa. Isso é tão diferente do que as outras gerações querem?”.

Natália pontua que a chave do desenvolvimento está em olhar para as pessoas como indivíduos, com necessidades, habilidades, desejos, carreiras e momentos de vida diferentes. Mesmo dentro de uma mesma geração, cada jornada é única. Ela fala que o mais importante não é a idade, mas as capacidades exigidas pelo cargo e o alinhamento da pessoa com a empresa e o contexto.

“Os dados já mostram que a diversidade dentro de uma empresa aumenta suas chances de sucesso. A chave está em criar um ambiente propício para que cada um dê o seu melhor”, aponta a gestora. Ela ainda frisa que as estratégias específicas de gestão vão depender de diversos fatores, incluindo a cultura da empresa, mas a abertura, confiança e colaboração são essenciais.

Para se adaptar a novas realidades, Natália enfatiza a importância de que as empresas mantenham claros e consistentes seus propósitos e propostas de valor ao mercado, para que a inovação não desvie o foco e a autenticidade da empresa. Ela complementa que a convivência geracional tem um potencial de impacto sem precedentes e que não se pode prever e controlar todas as transformações, mas é possível aprender a aproveitar ao máximo as oportunidades que surgem.

“Se conseguirmos manter o que é importante e mudar o necessário, será mais fácil viver em um mundo ágil, dinâmico e imprevisível. A intergeracionalidade tem muito a nos ensinar sobre isso”, finaliza Natália.