14ª edição

Negócios | A excelência é universal

Por Redação

17/12/2024 10h30

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Para atuar no mercado ao longo de dez anos de forma inovadora, Afra Colodette e Andrea Bellucci tomaram a decisão inegociável de não abrir mão da essência e autenticidade da marca, ainda que isso custe não seguir tendências virais

Em um avião com destino à Irlanda, a ítalo-cearense Afra Colodette, que estudava moda,  conheceu o italiano Andrea Bellucci, que trabalhava no mercado financeiro. O encontro dos dois foi o ponto de partida para que sua visão sobre o empreendedorismo fosse despertada. E foi no Brasil (e no Ceará) que a paixão pela tradição da gelateria artesanal italiana que juntou os dois. Essa paixão transformou-se em negócio com a Gelateria Bellucci, fundada por ambos em 2014.

Presente no mercado há dez anos, Andrea diz que a força da Bellucci está no fato de que a marca conseguiu identificar uma estratégia que poderia dar certo em qualquer outro lugar do mundo. Definida como “a excelência no que fazem”, o co-proprietário defende que “a excelência é universal” e, ao lado de sua parceira de negócios, compartilha insights para quem atua em diferentes áreas de negócios.

Confira a entrevista completa:

NOSSO MEIO | Como surgiu a ideia de criar a Bellucci Gelateria e quais foram os principais desafios enfrentados durante a concepção e o lançamento da marca? Quais lições empreendedoras mais impactaram essa jornada inicial?

Afra e Andrea: A Bellucci surgiu por uma exigência primária de estarmos juntos enquanto casal. Depois, quando começamos a viajar para Fortaleza, percebemos que tínhamos uma veia empreendedora, e vimos que o mercado local ainda não tinha uma gelateria artesanal nos moldes da Europa, especialmente da Itália. Os desafios surgiram exatamente pelo fato de sermos pioneiros, e pela nossa exigência de oferecer alta qualidade, produtos artesanais, com menos açúcar, sem industrializados. Foi desafiador apresentar um produto novo para um mercado que ainda não estava acostumado. Por isso, percebemos que seria necessário primeiro instruir e educar o público para esta inovação.

NOSSO MEIO | O setor de gelaterias tem crescido e se tornado mais competitivo. Que estratégias de mercado a Bellucci tem adotado para se destacar e fidelizar o consumidor em um cenário de tantas opções?

Afra e Andrea: Nossa ideia, desde o começou, foi exatamente não ter um sucesso imediato, porque a gente não estava pronto tanto em termos de produtos quanto em termos de loja. Nosso objetivo principal era buscar fidelizar o cliente através do nosso produto. Nosso foco foi tentar melhorar o nosso produto até ter a excelência que temos hoje. O que a gente sempre imaginou foi que, mantendo o padrão e melhorando sempre, seria com certeza mais difícil que um concorrente reproduzisse isso, e mais fácil conquistar a fidelização contínua dos clientes. Outro ponto foi a busca por ser original sem perder a identidade. É difícil ser inovador, trazer produto ou sabor novo, permanecendo com os critérios que não abrimos mão, como a excelência da matéria prima, do processo de produção, a não utilização de conservantes, aromatizantes, gorduras hidrogenadas.

NOSSO MEIO | Em relação à atuação da Bellucci no mercado cearense, como vocês avaliam a resposta do público local às propostas e aos produtos da marca? Existe algo particular sobre os consumidores do Ceará que orienta as estratégias de marketing da empresa?

Afra e Andrea: A força da Bellucci está exatamente no fato de que ela conseguiu ter uma estratégia que poderia valer em qualquer outro estado do Brasil, pois sempre pregamos pela excelência, seja na produção, atendimentos ou produtos utilizados, e a excelência é universal. Procuramos extrair do solo cearense a melhor forma de matéria-prima que encontramos, como frutas locais, queijos, castanhas, etc. Então, nossa estratégia no Ceará foi tentar agradar o paladar com a lembrança mais antiga destes sabores originais, utilizando a forma antiga italiana de fazer gelato. Esta mistura atende o público que busca sabores que remetem à recordação da infância, mas também o público que é curioso sobre a cultura italiana.

NOSSO MEIO | Pensando na experiência do cliente, que elementos vocês consideram essenciais para criar uma conexão autêntica e memorável com o público? Poderiam compartilhar exemplos práticos de iniciativas recentes que têm trazido resultados positivos?

Afra e Andrea: Mais do que vender um gelato, nossa ideia é proporcionar uma experiência. A gente participa de várias colaborações e parcerias, unindo forças. Um exemplo foi  o desenvolvimento do sabor farinhada, produzido pela Bellucci a partir da receita e pesquisa do Joélio Caetano, quilombola aqui do Ceará e aluno da Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco. É uma forma de proporcionar uma experiência e causar uma conexão da nossa forma italiana de produção do gelato com um produto da terra.

NOSSO MEIO | A Bellucci tem planos de expandir suas operações para outras regiões do Ceará ou Brasil? Se sim, quais desafios e oportunidades vocês enxergam nessa expansão e como pretendem manter a essência da marca em diferentes mercados?

Afra e Andrea: Sim, já tínhamos antes mesmo da pandemia, mas para médio e longo prazo, já que os desafios que testamos são vários, principalmente porque o nosso produto, que é feito e vendido no mesmo local, exige um esforço maior, de pesquisa e gerenciamento.  Por enquanto, nosso objetivo é aproveitar ao máximo as unidades que temos hoje e ampliar nosso foco para outros business laterais, como fornecimento para estabelecimentos e eventos.

Também como parte da nossa estratégia de expansão, temos uma segunda marca, que é a Pizza&Forno Morosi, nossa pizzaria e forneria, que se soma ao objetivo de fornecer aos clientes uma experiência gastronômica italiana real e completa, primeiro com a pizza, depois com o gelato. Nas nossas lojas Bellucci, também temos a marca Morosi. 

NOSSO MEIO | No âmbito da sustentabilidade e responsabilidade social, como a Bellucci tem integrado esses conceitos às suas práticas de negócio? Vocês acreditam que iniciativas sustentáveis influenciam positivamente a percepção do consumidor e o posicionamento da marca?

Afra e Andrea: Sim, com certeza influencia, mas acho que muito mais por uma ética social do empreendedor. Exemplo disso é que a Bellucci construiu sua própria usina solar, tanto pela economia quanto pela sustentabilidade. Além disso, sempre trabalhamos com embalagens biodegradáveis. Mas também sentimos que o público, de modo geral, precisa de mais consciência sustentável.

NOSSO MEIO | Quais são as principais tendências que vocês observam no mercado de gelaterias e produtos artesanais? Como a Bellucci pretende se antecipar a essas tendências para manter-se inovadora e relevante nos próximos anos?

Afra e Andrea: No geral, acreditamos que, para o mercado gastronômico, a tendência será voltar ao clássico e à excelência da gastronomia. Por isso, procuramos ter esse pilar de excelência e podemos dizer que não seguimos tendências novas só por estarem na moda, mas analisamos se aquilo se encaixa ao objetivo principal da marca. Nossa tendência é ir à raiz. Por exemplo: fizemos uma viagem para a Chapada dos Viadeiros (GO), e lá descobrimos o baru, uma semente riquíssima. Trouxemos o baru para desenvolver um sabor com isso. O baru não está na moda, não é tendência, mas a gente entende que ir na raiz é importante, para ser original sem perder nosso DNA.