Guanabara acelera investimentos e reforça padrão de serviço para o futuro do transporte rodoviário
À frente da companhia, o diretor-executivo Paulo Porto tem consolidado uma operação que redefiniu a experiência do transporte rodoviário no Brasil. Com três prêmios de Melhor Empresa de Transporte Rodoviário de Passageiros do país, investimentos robustos em frota e uma filosofia baseada em serviço impecável, dados e respeito às pessoas, ele detalha como a companhia cresce mesmo em um cenário competitivo — e por que acredita que o futuro do setor está no valor percebido pelo cliente, não apenas no preço da passagem.
NOSSO MEIO | Ao longo da sua trajetória à frente da Guanabara, qual decisão estratégica você considera a mais importante para a consolidação da empresa, que já recebeu três vezes o Prêmio de Melhor Empresa de Transporte Rodoviário de passageiros do Brasil (2013, 2022 e 2024) e tornou-se referência?
Paulo Porto: A guinada foi tratar nossos serviços, desde a fundação da empresa nos anos 90, com uma visão de rede, ou seja, já com ambição de integrar capitais e polos regionais, ainda que naquela época estivéssemos falando apenas do Nordeste. Conectar corredores que antes dependiam de múltiplas baldeações. Essa lógica de visão “rede antes de linha” foi a base para ganhar escala, padrão de serviço, taxa de ocupação suficientemente alta, yield saudável, upgrade contínuo de frota e marca preferida. Essa última, aliás, perseguida através de um padrão de serviço impecável e replicável em toda a malha: limpeza, paradas, comunicação e UX (user experience)— o cliente sabia o que esperar da Guanabara e era muito mais do que esperava de outros operadores locais. Indicadores que geraram os resultados para as premiações mencionadas, dentre outras que a Guanabara também recebeu.
NOSSO MEIO | Qual é a expectativa de crescimento da Guanabara para o último trimestre e com que resultado a empresa pretende encerrar o ano?
Paulo Porto: Esperamos crescimento de receita de +8% a +12% no 4º trimestre, EBITDA marginal em expansão pela captura de yield em rotas-âncoras. Encerraremos o ano com malha mais enxuta e produtiva, mix premium maior com a expansão dos serviços double decker e cama em vários eixos, em especial no Nordeste, e satisfação do cliente em alta (NPS em tendência de crescimento). Tudo isso sustentando esse próximo ciclo de investimentos, que por sinal já anunciamos, de cerca de R$ 140 milhões, para aquisição de frota que será entregue ainda esse ano.
NOSSO MEIO | Com o aumento do preço das passagens aéreas, o transporte rodoviário voltou a ganhar força? Como você enxerga esse movimento no médio e longo prazo?
Paulo Porto: A aviação mais cara reabriu espaço para o ônibus como escolha racional dos viajantes, não como último recurso. No médio prazo, entendo como uma migração estável em trechos de 300–800 km. Já no longo prazo, a disputa será menos por preço absoluto e mais por valor percebido: conforto real (Cama/Leito), Wi-Fi confiável, tomadas USB, frequência suficiente, previsibilidade de preço e transparência na relação com o consumidor. Onde entregamos isso, a retenção sobe.
NOSSO MEIO | Quais diferenciais vão transformar a experiência dos passageiros nos próximos anos?
Paulo Porto: Alguns serviços consolidados: conectividade que funciona e energia em todas as poltronas, serviço certo para a jornada (Cama/Leito/Semi) com transparência de features no ato da compra; segurança inteligente: torre de monitoramento, sensores de fadiga e telemetria com coaching de condução, um programa contínuo que usa dados de telemetria para desenvolver o motorista; segurança primeiro, conforto do passageiro e eficiência operacional como consequência. Não é “vigiar e punir”; é treinar, dar feedback e reconhecer.
UX ponta a ponta: compra simples, troca facilitada, embarque ágil, comunicação proativa via CRM e WhatsApp, passagem PET descomplicada, gratuidades atendidas com respeito, acompanhamento da viagem em tempo real.
Uma agenda ESG de verdade: frota jovem, com maior eficiência energética, testes com novas matrizes (quando fizer sentido operacional e estiverem devidamente testadas no país). Também nesse contexto a evolução do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça assinado pela ABRATI (Associação das Empresas de Transporte Rodoviários) em 3 de abril de 2024. E a qualificação massiva de jovens via SEST/ SENAT para ingresso no mercado do TRIP. O compliance regulatório/fiscal, proteção dos dados de clientes (LGPD), compras responsáveis, transparência com órgãos e sociedade, uma agenda de constante aprimoramento da governança.
NOSSO MEIO | Na sua visão, quais valores ou práticas de liderança são essenciais para manter uma empresa forte em um mercado tão competitivo?
Paulo Porto: Três princípios: foco no básico bem feito, como disse antes padrão impecável e replicável (segurança, pontualidade, limpeza), obsessão por dados (decidir com evidências, não com ego do gestor) e respeito às pessoas (motorista bem treinado, equipe vista como embaixadora da marca). O trabalho técnico qualquer um minimamente preparado faz, mas formar uma equipe campeã é um trabalho com inúmeras etapas. Some a isso a humildade estratégica, onde medir permite aprender e ajustar rápido!
NOSSO MEIO | Você tem falado sobre a ausência de licitações e a omissão de órgãos reguladores em algumas regiões. Qual seria o caminho para melhorar esse cenário?
Paulo Porto: Precisamos de marco regulatório consistente, e isso não significa que o caminho seja a licitação, no interestadual o modelo de autorizações nem prevê mais as outorgas através de licitações. Entretanto, as regras nacionais precisam ser claras, fiscalização efetiva e ambiente isonômico entre operadores. Onde houver escassez de infraestrutura crítica (terminais), aí vale licitação; no restante, autorizações com critérios objetivos, cadeia de custódia fiscal e penalidades para dumping e sonegação. É bom para o passageiro (qualidade e segurança) e para quem joga limpo.
NOSSO MEIO | Você costuma dizer que os ônibus não concorrem no tempo, mas na qualidade do serviço. Como você traduz essa filosofia na estratégia da Guanabara?
Paulo Porto: Tempo de viagem é dado físico. Diferencial é eliminar fricções: compra fácil, assento certo, temperatura agradável, comunicação clara, sem imprevistos, paradas seguras, e pós-viagem que convida a voltar. Padrão replicável em todo país, já que a Guanabara é a única marca que está presente em todas as regiões do Brasil. Metas financeiras atingidas, mas com NPS no mesmo painel, e preço que reflita valor do serviço entregue. Quando a experiência é ótima, o cliente tolera as horas a mais do trajeto terrestre, e ainda recomenda.
NOSSO MEIO | Quais são as maiores oportunidades e desafios que o transporte rodoviário terá nos próximos cinco anos?
Paulo Porto: Prefiro começar pelas oportunidades! Prefiro o copo cheio, não sou um otimista iludido, mas um realista bem informado. Acredito na contínua profissionalização do mercado de transportes de passageiros, no crescimento de rotas regionais onde hoje operamos em frequência mínima, na retomada do turismo rodoviário que já foi exuberante só que agora adaptado, com a passagem nas linhas regulares, afinal atendemos a todos os destinos turísticos nacionais, serviços premium e jornada fluida digital (tarifa, capacidade, CRM, canais de distribuição).
Claro que reconheço os desafios, dentre eles: competição assimétrica de irregulares, pressão de custos (combustível, pneus), infraestrutura ruim em alguns corredores, e a disciplina de capital para manter frota jovem. Vence quem escala qualidade com eficiência.
NOSSO MEIO | Em relação à comunicação, quais são as prioridades da companhia para o próximo ano no que diz respeito à comunicação institucional e publicidade?
Paulo Porto: Nesse campo temos os melhores profissionais do mercado, não tenho dúvidas disso. Você conhece alguma empresa de transportes de passageiros que se comunique tanto ou melhor que a Guanabara? Pelo ponto de vista Institucional, a narrativa sempre será segurança, qualidade e ESG tangível, com dados auditáveis e porta-vozes técnicos; diálogo proativo com reguladores e imprensa setorial.
Na publicidade, há um equilíbrio entre performance always-on e branding, criativos por perfil cultural regional e ofertas dinâmicas, sempre orquestrando CRM, mídia (TV/digital/OOH) e redes de relacionamento. Outra marca da comunicação da Guanabara é ser uma marca empregadora, que destaca a formação de motoristas, tecnologia embarcada e a cultura de cuidado, pois gente boa entrega serviço bom.
