Reconhecido como uma das vozes da nova comunicação no Brasil, Luiz Gustavo Ribeiro é gerente de Comunidades no LinkedIn e foi um dos criadores do núcleo de creators da plataforma no país. Com uma trajetória que une influência, educação e estratégia, ele compartilha nesta entrevista os aprendizados que conectam propósito, liderança e o poder das comunidades na construção de marcas relevantes.
NOSSO MEIO | Você esteve à frente da construção do núcleo de creators no LinkedIn Brasil, iniciativa que hoje inspira ações globais da plataforma. Quais foram os principais aprendizados dessa jornada e de que forma eles influenciam sua atuação atual na liderança de comunidades em escala mundial?
LUIZ GUSTAVO: Participar da construção do núcleo de Top Voices, como chamamos os criadores de conteúdo no LinkedIn, me mostrou que criar comunidades relevantes exige escuta ativa, consistência e propósito. Não se trata apenas de amplificar vozes, mas de gerar valor real por meio delas.
Um dos aprendizados mais potentes foi entender que confiança vem antes da escala: quando profissionais encontram espaço para dialogar com autenticidade, o engajamento deixa de ser apenas uma métrica e se transforma em vínculo. Além disso, o impacto do sentimento de pertencimento foi marcante. Muitos criadores compartilharam que, pela primeira vez, sentiram que suas vozes eram ouvidas e reconhecidas dentro de uma plataforma voltada ao mercado de trabalho.
Esse acolhimento teve reflexo direto na qualidade e na constância dos conteúdos, criando um ciclo virtuoso de confiança e entrega. Com o tempo, também percebemos que essa consistência só se sustenta quando há diversidade – de especialistas, formatos, estilos e trajetórias – como ativo estratégico. Mas, para que isso aconteça de forma contínua, é fundamental oferecer suporte editorial e criativo.
Esses aprendizados seguem sendo a base da minha atuação hoje: empatia, intencionalidade e foco no que realmente importa para quem cria.
NOSSO MEIO | De que maneira uma atuação estratégica em comunidades pode impactar diretamente os resultados de negócios dentro das empresas, especialmente em um cenário cada vez mais digital e conectado?
LUIZ GUSTAVO: Hoje, atuar estrategicamente com comunidades não é um diferencial, é uma estratégia central de negócio. Marcas que mantêm uma relação contínua com suas comunidades conseguem antecipar movimentos, testar ideias, refinar mensagens e, acima de tudo, construir lealdade – ativo raro em um cenário de distração constante.
Mais do que engajamento, trata-se de confiança. De acordo com o Edelman Trust Barometer 2023, pessoas confiam três vezes mais em conteúdos publicados por outras pessoas do que em publicações feitas por marcas. Isso mostra que, ao investir em comunidades e fortalecer vozes reais, de colaboradores, especialistas ou parceiros, as empresas criam pontes de confiança mais sólidas do que com campanhas tradicionais.
E vale dizer que essa confiança se constrói com constância e presença ativa. Não se trata de estar na vitrine, mas de participar da conversa com conteúdo relevante e visão de futuro. O LinkedIn tem mostrado que marcas que fazem isso de forma estratégica se tornam pontos de referência no setor – não só para consumidores, mas também para talentos, investidores e parceiros de negócio.
NOSSO MEIO | Você acredita que marcas que investem na construção de comunidades sólidas têm mais vantagem competitiva no mercado? Poderia compartilhar um exemplo prático que comprove esse impacto?
LUIZ GUSTAVO: Marcas com comunidades sólidas estão mais preparadas para momentos de incerteza e têm mais capacidade de criar movimentos de mercado, em vez de apenas reagir a eles. Essa vantagem se manifesta em diversas frentes: da retenção de talentos à inovação de produto.
Vejo a Unilever como um bom exemplo. A companhia tem adotado uma postura muito mais aberta à cocriação de conteúdo com creators e à construção de presença digital com base em narrativas reais. O CEO da empresa declarou publicamente que o investimento em creators não é só uma questão de performance, mas de reputação. E a reputação nasce da confiança – algo que comunidades bem geridas são capazes de sustentar com consistência.
E isso vale especialmente para segmentos mais técnicos também, onde existe sede por conteúdo qualificado. Quando marcas criam espaços de troca e dão visibilidade para vozes especializadas, elas tornam mais acessíveis temas densos e se posicionam como aliadas na formação de opinião – um diferencial competitivo que vai muito além da presença digital.
NOSSO MEIO | Qual é o papel do LinkedIn como plataforma de negócios para além do networking tradicional? Na sua visão, o que as empresas ainda não estão aproveitando bem em todo o seu potencial?
LUIZ GUSTAVO: O LinkedIn evoluiu de uma rede de conexões para uma plataforma de construção de autoridade, geração de impacto e promoção de conversas relevantes. É um ambiente ideal para que empresas e lideranças compartilhem conhecimento, posicionamento e visão de futuro. Esse movimento tem nome: Business Influencer.
Estamos vivendo a era da influência B2B. Muitas empresas estão assumindo um papel que, antes, era reservado à imprensa tradicional. Ou seja, contar suas próprias histórias com profundidade e contexto. Isso exige preparo, estratégia editorial e consistência de tom.
É aí que entra o trabalho da nossa equipe editorial, onde ajudamos empresas e executivos a se posicionarem como referência em seus setores, conectando conteúdo, estratégia e comunidade em larga escala.
NOSSO MEIO | A partir da sua experiência com influência e estratégia de comunicação, como as empresas podem formar lideranças mais comunicativas, preparadas para dialogar com autenticidade e relevância com seus diferentes públicos?
LUIZ GUSTAVO: Formar lideranças comunicativas é, antes de tudo, investir na construção de relevância. Mas isso leva tempo: é preciso oferecer capacitação, repertório e um ambiente que reconheça a comunicação como parte da cultura organizacional.
As empresas mais bem posicionadas hoje entendem que a voz das lideranças ou de especialistas técnicos pode ser um diferencial competitivo. Quando uma liderança traduz sua visão de negócio em conteúdo acessível, ela aproxima a empresa de seus públicos e humaniza a marca.
Essa estratégia passa por mentoria, suporte editorial e um modelo de escuta ativa que ajude cada voz a encontrar sua autenticidade. A liderança comunicativa é um multiplicador de impacto, capaz de influenciar colaboradores, parceiros e o mercado.
Mas para que isso aconteça, é preciso romper com o modelo de comunicação “neutra” que ainda predomina em muitos setores. Lideranças que compartilham bastidores, aprendizados e até vulnerabilidades com autenticidade tendem a criar mais conexão com suas redes – e, como consequência, mais influência.
NOSSO MEIO | Como você enxerga a conexão entre a economia da influência e o universo B2B? Que caminhos as empresas podem explorar para gerar valor real a partir dessa relação?
LUIZ GUSTAVO: A influência no B2B está mais viva do que nunca e impacta diretamente os negócios. A diferença é que, nesse universo, não importa o alcance em massa, e sim a credibilidade diante de um público qualificado.
Cada vez mais, empresas estão transformando sua base de colaboradores em porta-vozes. E isso não se faz com discursos prontos, mas com repertório e autonomia para gerar conversa. Em vez de depender apenas de campanhas institucionais, essas marcas criam influência por meio de experiências reais, bastidores, aprendizados e provocações que ajudam o mercado a evoluir.
É uma forma de abrir as cortinas do negócio e mostrar como as decisões são tomadas, o que está por trás de um produto, ou o que uma mudança representa na prática. Esse tipo de conteúdo gera autoridade de maneira natural – porque ensina, engaja e aproxima.
NOSSO MEIO | Atuando como mentor e educador, qual é, na sua opinião, o principal desafio para que empresas brasileiras reconheçam e desenvolvam o potencial de comunicação e influência dos seus próprios talentos internos?
LUIZ GUSTAVO: O maior desafio ainda é cultural. Muitas empresas têm receio de dar visibilidade a talentos internos por medo de “ofuscar” a marca, mas na verdade, acontece o contrário. Empoderar colaboradores para compartilhar conhecimento gera autoridade, afeto e alcance. Esse é o novo business influencer.
Essa mudança exige estrutura. É preciso criar programas de educação em influência, definir papéis, oferecer suporte de conteúdo, estabelecer diretrizes e mostrar cases de sucesso. O investimento retorna em employer branding, geração de demanda e atração de talentos.
Quando as organizações reconhecem que seus talentos têm muito a contribuir para o diálogo do setor, elas deixam de operar apenas como emissores de mensagens institucionais e passam a atuar como facilitadoras de conversas com o mercado. Esse movimento transforma o LinkedIn em um espaço de cultura viva, onde cada colaborador pode ampliar o alcance da missão da empresa a partir da própria perspectiva – com autenticidade, repertório e intenção.