CEO da Vulcabras detalha como a empresa está traçando caminhos de liderança no setor e como enxerga o próximo ano
Nosso Meio (NM): Pedro, como CEO da Vulcabras, você lidera a empresa em um setor altamente competitivo. Como você vê a dinâmica do mercado de calçados esportivos no Brasil e quais estratégias a Vulcabras tem adotado para se destacar nesse cenário?
Pedro Bartelle (PB): Em franca expansão, o mercado de calçados esportivos é muito diverso, e composto por grandes players, disputando a atenção e a preferência do consumidor. Inovar e desenvolver novas tecnologias que revolucionam o esporte é um dos grandes diferenciais neste setor. A Vulcabras está focada em trazer muita inovação e tecnologia para as suas marcas. Somente nos últimos cinco anos, já investiu mais de R$ 600 milhões em tecnologia e inovação, tanto nas fábricas quanto em nosso Centro de Pesquisa & Desenvolvimento de Parobé (RS), o maior da América Latina com foco em calçados esportivos. Com isso, trouxemos novas e importantes tecnologias que vêm permitindo às nossas marcas ampliarem cada vez mais a sua participação no mercado esportivo.
Como exemplo, temos a linha de alta performance da Olympikus, com tecnologias inovadoras feitas no Brasil como o Grafenus – primeira placa de propulsão a base de grafeno no mundo e o Eleva Pró, que juntas foram responsáveis por democratizar o acesso à tecnologia de ponta esportiva no Brasil e colocar a marca no segmento de alta performance, que hoje já representa 15% do faturamento da marca.
Somado à nossa tecnologia, nosso modelo de negócio verticalizado de ponta a ponta, nos permite competir no mercado global, trazendo agilidade para entender a demanda do consumidor e rapidamente desenvolver, produzir e oferecer para o consumidor final produtos pensados para o mercado nacional.
Em 2018 a Companhia iniciou a reestruturação do seu portfólio de marcas, com a chegada da marca americana Under Armour. Em 2020 a empresa licenciou a marca feminina Azaleia para a Grendene e em 2021 compramos a operação da Mizuno no Brasil. Com isso a empresa focou no esportivo, ganhou sinergia em sua operação e alavancou o seu crescimento.
No 3T23, a Companhia divulgou seu 13º trimestre consecutivo de crescimento acima de dois dígitos. Hoje somos a maior gestora de marcas esportivas do País, tendo em nosso portfólio três marcas fortes e complementares: a nossa marca própria nacional Olympikus, e as licenciadas Mizuno (japonesa) e Under Armour (americana), que juntas oferecem o melhor da tecnologia esportiva para todo o perfil de atleta, de todas as performances, com um sortimento completo, da cabeça aos pés, que inclui vestuário, acessórios e calçados.
NM: Você tem um considerável histórico no esporte, especialmente no automobilismo. Essa experiência influencia, de alguma forma, sua abordagem como líder de uma das maiores indústrias de produtos esportivos do Brasil?
PB: Os oito anos dedicados ao automobilismo me ensinaram muito. Ao assumir como CEO da Vulcabras em 2015, trouxe comigo as características fundamentais de um piloto: foco, determinação, superação e resiliência. Por ser um esporte difícil, perigoso e competitivo, o automobilismo é uma grande escola e me ensinou muito a lidar com a pressão em momentos difíceis. As pistas também me ensinaram sobre o significado de vencer e perder, essencial na construção de qualquer resultado.
E essas lições me prepararam muito para os desafios da minha trajetória profissional, entre eles as duas grandes reestruturações que vivenciei na Vulcabras: a primeira na Argentina e a mais profunda no Brasil, entre 2012 e 2014, e depois o RE-IPO, em 2017. Quem já passou por momentos desafiadores, sabe a importância de manter a calma para exercitar a inteligência emocional e conseguir enfrentar e superar dificuldades com tranquilidade.
NM: A Vulcabras possui marcas esportivas bem conhecidas, como Olympikus, Mizuno e Under Armour. Como você vê a interseção entre o mercado de calçados esportivos e a crescente demanda por produtos relacionados ao esporte no varejo?
PB: Após o período da pandemia, o brasileiro passou a se preocupar mais com a sua qualidade de vida, buscando saúde e bem-estar. Mas ainda assim, temos apenas 30% dos brasileiros praticando atividades físicas regularmente. Esse número cresce após a pandemia, mas segue tendo muito espaço para crescer. E com isso o consumo de artigos esportivos cresce.
Além deste crescimento, vemos também os calçados esportivos conquistarem o cotidiano das pessoas, que cada vez mais buscam lifestyle, conforto, tecnologia e segurança, com diferentes opções e possibilidades de uso.
Antigamente, um jovem saía à noite de sapato. No mundo financeiro, predominava o terno e a gravata. Hoje, estão todos de tênis, ampliando o potencial de consumo com novas categorias para as nossas marcas.
Hoje, a Vulcabras é responsável pela gestão das marcas Olympikus, Mizuno e Under Armour, que juntas colocam a Companhia em uma posição de destaque no setor brasileiro de artigos esportivos.
NM: Como a Vulcabras, enquanto indústria, atua em parceria com os varejistas do segmento de calçados? Há estratégias que vocês utilizam visando aumentar o resultado nos pontos de venda?
PB: Somos parceiros do varejo e ajudamos nossos clientes a crescer, tanto com um modelo de negócio verticalizado que nos permite agilidade para reposição do mercado, como também por ter desenvolvido uma inteligência de mercado que, baseada em dados e apoiada em tecnologia, diferencia a Vulcabras, gerando uma proposta de valor única no mercado.
Nossa equipe comercial, treinada e munida de sistemas de análise desenvolvidos por nós, potencializa as vendas dos produtos de nossas marcas no mercado, possibilitando que a loja tenha o melhor produto, no volume certo e rápida reposição do produto de maior venda, ampliando o potencial de ganho.
Ainda, uma equipe de trade, a maior do setor, possui um time que junto com o maior aplicativo de força de venda do mercado esportivo, o Cola de Bolso, possui mais de 30 mil usuários que diariamente treinam e se conectam para conhecer mais sobre nossos produtos.
Atualmente, são 19 mil lojas atendidas pela Vulcabras, que têm na Companhia a sua grande parceira para calçados esportivos, vestuário e acessórios, e que encontram no nosso modelo de negócio o diferencial para ampliar seus resultados.
Além disso, o nosso canal de e-commerce complementa a experiência do varejo, oferecendo uma experiência de marca para o consumidor e abastecendo a companhia com dados de consumo que aceleram as tomadas de decisão e aprofundam o conhecimento sobre o consumidor
NM: A inovação é um fator crítico no sucesso de qualquer empresa. Como a Vulcabras aborda a inovação em seus produtos e operações, e como isso tem contribuído para o crescimento da empresa?
PB: A inovação está em nosso DNA. Com o objetivo de oferecer produtos de alta performance para todos os perfis de consumo, nos últimos cinco anos investimos cerca de R$ 600 milhões em tecnologia e inovação, tanto nas fábricas quanto em nosso Centro de Pesquisa & Desenvolvimento de Parobé (RS), o maior da América Latina com foco em calçados esportivos. Com isso, trouxemos novas e importantes tecnologias, ganhamos eficiência e ampliamos nosso portfólio de marcas, composto pela nossa marca própria Olympikus e as licenciadas Mizuno e Under Armour.
Em Parobé (RS), no Vale do Paranhana (RS), promovemos estudos e pesquisas que nos permitem desenvolver inovações e tecnologias para os consumidores brasileiros, não só para a prática esportiva, mas em seu dia a dia, e exportar conhecimento para os EUA e Japão – países-sede das nossas marcas licenciadas Under Armour e Mizuno. No local, atuam mais 700 profissionais distribuídos em criação, engenharia de produto, laboratório de material com certificação internacional, realidade virtual, centro de usinagem para matrizes e impressão 3D de solados. São mais de 800 novos modelos por ano.
Da nossa excelência em pesquisa, desenvolvimento e produção, nascem diferentes tecnologias como a mais recente, o Grafenus, que permitiu à empresa lançar o Olympikus Corre Grafeno – o primeiro tênis com placa de propulsão à base de grafeno do mundo, que revolucionou o mercado, democratizando a alta performance, e que já ganhou mais de 100 pódios em maratonas pelo país desde o seu lançamento.
Com o foco no esportivo e investimentos realizados para a modernização da Vulcabras desde 2018, ganhamos mais sinergia e eficiência em todos os setores da empresa. Crescemos mais de 30% em 2022, o melhor ano da história da Vulcabras. Em 2023 continuamos colhendo os frutos de uma operação focada no esportivo, conquistando resultados recordes ao longo do ano.
Divulgamos recentemente os resultados do 3T23, o 13º acima de dois dígitos. A receita líquida da companhia subiu 10,2% na comparação com o 3T22 e chegou a R$ 731,4 milhões. A margem bruta, que também alcançou o maior patamar da história, cresceu 5,2 pontos percentuais para 42,9% versus o mesmo período do ano anterior. A margem EBITDA foi de 24,2%, 4,4 pontos acima do registrado no 3º trimestre do ano passado.
NM: A Vulcabras tem uma presença notável no mercado esportivo. Como a empresa se mantém relevante em um segmento tão competitivo? As práticas de ESG e parcerias com atletas nacionais têm se mostrado essenciais nesse processo?
PB: A inovação tem redefinido o mercado de calçados esportivos, e estamos liderando o desenvolvimento tecnológico do segmento no Brasil. Por isso, na Vulcabras, a sustentabilidade é pensada do design à produção, com a ambição de zerar resíduos, reduzir emissões, incentivar o desenvolvimento da indústria nacional e fomentar o esporte nacional e a diversidade.
Com o apoio ao esporte nacional, o patrocínio de atletas, as parcerias com a comunidade de corrida e o lançamento de projetos de peso como o Bota pra Correr (BPC), plataforma proprietária de corrida da Olympikus, que convida a comunidade corredora a conhecer o Brasil correndo, e da Família Corre, que envolveu um time de desenvolvedores, atletas e corredores amadores, consolidando a marca no segmento de alta performance, colocamos nossos produtos à prova todos os dias, o que nos desafia e incentiva a evoluir continuamente.
Fizemos mais de 100 pódios com o modelo Olympikus Corre Grafeno, um tênis de altíssima performance e tecnologia totalmente nossa. Na Maratona Internacional de São Paulo, uma das três mais importantes do Brasil, ganhamos os cinco primeiros lugares no masculino e os quatro no feminino. Em Under Armour e Mizuno, produtos criados e desenvolvidos pela Vulcabras já são líderes de venda em suas categorias.
NM: A sustentabilidade é uma preocupação crescente entre os consumidores. Como a Vulcabras aborda essa questão em sua produção de calçados e como isso se alinha com as tendências do mercado varejista?
PB: A Vulcabras tem como propósito construir um país melhor a partir do esporte. Há anos tem como premissa o impacto positivo nas regiões em que atua, seja pelo lado ambiental ou social, levando as melhores práticas socioambientais para a sociedade.
Com a crescente preocupação dos brasileiros em produtos que tenham menor impacto ambiental, a Vulcabras consegue trazer esse benefício de forma inerente ao seu processo, com o benefício de ter a sua produção 100% feita no Brasil, por mais de 18.000 brasileiros, e ser uma referência em sustentabilidade na indústria calçadista.
Nossos processos já nascem pensados para proporcionar o menor impacto, com 100% dos nossos calçados sendo produzidos com energia eólica.
No nosso Centro de Pesquisa e Desenvolvimento, os produtos são concebidos para terem o menor consumo de material e a menor geração de resíduos possível. Nas fábricas, os processos são constantemente revisados para reduzir desperdícios e garantir o melhor aproveitamento da matéria-prima. Uma usina de reciclagem, permite retornar 100% dos resíduos plásticos para a produção de contrafortes (região do calcanhar) e reutilizar os resíduos de EVA nos solados.
Anualmente, a Vulcabras forma, por ano, mais de 780 jovens no Programa Jovem Aprendiz, em parceria com o Senai, e, desse total, 98% têm oportunidade do seu primeiro emprego. Desenvolve também parcerias com projetos sociais na região, que levam educação e esporte para mais de 55 mil crianças e adolescentes nas cidades em que a empresa atua, gerando impacto positivo para o Brasil.
NM: Poderia compartilhar conosco algumas das inovações recentes que a Vulcabras está empregando para se destacar no mercado de calçados?
PB: Nosso Centro de Pesquisa & Desenvolvimento em Parobé se tornou um polo de inovação e base de todas as criações, pesquisas, estudos e tendências para a Companhia. De lá, saíram tecnologias como a injeção de EVA em calçados esportivos, a tecnologia TUBE (propulsão e efeito trampolim na passada), Eleva+ (a mais leve de todas as tecnologias de EVA), Eleva Pro (mais amortecimento que explora o limite da expansão do EVA) e mais recentemente o Grafenus, que permitiu a Companhia lançar o Olympikus Corre Grafeno, primeiro tênis com placa de propulsão à base de grafeno do mundo.
O Olympikus Corre Grafeno foi o primeiro tênis brasileiro para o corredor de alta performance desenvolvido com grafeno, material abundante no Brasil que vem revolucionando a tecnologia. Modelo inédito no mundo com placas de propulsão à base de grafeno, o lançamento foi desenvolvido no nosso Centro de P&D.
O composto à base de grafeno utilizado na formulação dos materiais que compõem o calçado foi desenvolvido em parceria com o laboratório de tecnologia da Universidade de Caxias do Sul (UCS), com a UCS Graphene, primeira e maior produtora de grafeno em escala industrial da América Latina, e com a Znano, parceira da UCS, que desenvolve e comercializa compostos à base de grafeno para a indústria. Foram 18 meses de pesquisa no Centro de P&D da Vulcabras, para concluir e inserir a inovação ao processo e a alta tecnologia a um custo mais acessível, além dos 40 dias para desenvolvimento do seu protótipo inicial.
No seu lançamento durante a Maratona Internacional de São Paulo, ano passado, o modelo foi usado pelos atletas de elite da Olympikus e conquistou nove pódios. Desde então, Olympikus Corre Grafeno esteve presente em diversos outros pódios, a exemplo da Meia Maratona de Jurerê, na Maratona de Curitiba, na Volta Internacional da Pampulha e na Corrida Internacional de São Silvestre, conquistando até o momento mais de 100 pódios nas principais maratonas do País.
Em nosso centro de inovação também foram desenvolvidas tecnologias revolucionárias para a Família Corre, também da Olympikus, como Oxitec (monofilamento com elastano que proporciona leveza, respirabilidade e maior conforto térmico), Ortholite (palmilha com mais respirabilidade para os pés durante a corrida), Gripper e Gripper Plus (borrachas antiderrapantes que proporcionam aderência para uma corrida mais segura) e também para as nossas marcas licenciadas, a exemplo do Under Armour Charged (entressola com maior memória e equilíbrio entre amortecimento e resposta) e as tecnologias ResponseFoam (mais retorno de energia e responsividade para a corrida) e SoftierFoam (amortecimento para proporcionar sensação de maciez e conforto aos corredores) de Mizuno.
Mantendo em mente nosso propósito de construir um país melhor a partir do esporte, vamos seguir investindo em tecnologia e inovação para oferecer os melhores produtos aos nossos clientes.
NM: Quais estratégias a Vulcabras deve adotar para atender às expectativas dos consumidores no mercado de calçados esportivos em 2024? É um setor que deve viver muitas mudanças?
PB: As vendas de produtos esportivos se intensificaram muito durante os últimos anos, sobretudo depois da pandemia, por dois motivos. Primeiro por estar ligado ao mercado da saúde e bem-estar, que vive um momento de ascensão. A percepção de milhões de pessoas sobre a importância de cuidar do corpo, da mente e da saúde tem impulsionado o setor e levado a novos nichos de negócios. E à medida que o cardápio do bem-estar se amplia, o mercado como um todo se beneficia e se expande.
Crescemos mais de 30% em 2022. Em 2023 continuamos colhendo os frutos de uma operação focada no segmento esportivo, conquistando resultados recordes ao longo do ano. Recentemente divulgamos os resultados do 3º trimestre, o 13º acima de crescimento acima de dois dígitos. A receita líquida da companhia subiu 10,2% na comparação anual e chegou a R$ 731,4 milhões. A margem bruta, que também alcançou o maior patamar da história, cresceu 5,2 pontos percentuais para 42,9% (1,2 p.p. acima). A margem EBITDA foi de 24,2%, 4,4 pontos acima do registrado no ano passado, nosso novo patamar.
A partir do plano estratégico traçado, vamos buscar seguir evoluindo e crescendo, sempre atentos às transformações do setor, do mercado e do comportamento dos consumidores.