As mulheres são quase metade dos empreendedores do Brasil, mas ainda sofrem com as dificuldades e preconceito
O número crescente de mulheres empreendedoras tem sido motivo de análises e pesquisas nos últimos anos. No Brasil, são pelo menos 8 milhões de mulheres à frente de empresas. Em meio às atribuições da rotina de trabalho, essas profissionais passam por adversidades específicas, como desigualdade salarial e falta de apoio no mercado.
No Ceará, de acordo com o Sebrae-CE, a média de mulheres empreendedoras supera a nacional. No país, o percentual de mulheres que empreendem é de 34%, enquanto no Estado corresponde a 35%. Uma delas, é Camilla Andrade – Sócia-fundadora da Impulsione Comunicação. Ela contou ao Nosso Meio sobre a dificuldade de iniciar a carreira como empreendedora.
“Decidi empreender há 11 anos por perceber que a comunicação ainda era algo que precisava ser desenvolvido dentro do mundo corporativo. As dificuldades foram as descobertas e as necessidades de aprender habilidades de administração, gestão, liderança, mas também de entrar para um mercado que, em muitas situações, fecham negócios em mesa de bar”, comentou.
Djane Nogueira, diretora da AD2M Comunicação também lembra o início de sua carreira. Mesmo depois de 25 anos numa empresa referência no mercado, ela fala dos aprendizados que a carreira de negócios lhe trouxe:
“Comecei a empreender numa época em que a palavra ‘empreendedorismo’ nem fazia parte do nosso cotidiano, como agora. Quando começamos, a faculdade só nos preparava para ser empregado de algum veículo de comunicação. Então criar a AD2M foi quase uma aventura… A composição societária tinha três mulheres e dois homens. Hoje sou a única remanescente do trio… Acho que empreender é uma escola que não tem fim”, pontuou.
Um dos pontos que dificulta a entrada de mulheres no mercado de trabalho é a constante dupla jornada. Muitas vezes, o trabalho precisa dividir tempo com a família, casamento, filhos e outras atribuições. Laura Bandeira, sócia-fundadora da Âncora Comunicação, fala sobre esse esforço duplo e do dia a dia desgastante.
“Eu me vejo muito cansada, cansada mesmo. Não existe só uma jornada dupla e sim tripla, quádrupla. Isso realmente exige muito enquanto mulher, empreendedora, empresária, dona de casa, mãe, assessora. É uma demanda de tempo muito grande! Hoje, eu percebo que isso não me faz uma pessoa melhor, então procuro me condicionar a dar atenção ao que realmente importa pra mim, o que me dá prazer e felicidade”, citou.
Camilla lembra que o empreendedorismo para mulheres é mais desafiador, e que o machismo é barreira constante no dia-a-dia: “Além de alguns preconceitos, que estão sendo quebrados ao longo do tempo, a mulher é cobrada duplamente e, por isso, cabe a nós mostrar que alguns conceitos e mudanças precisam ser impostos, colocados em prática para que haja uma transformação maior”, afirmou.
As três empreendedoras usam suas experiências de vida para melhorar os processos de contratação e manutenção de funcionárias atualmente. Saber como o mercado pode ser duro com as mulheres que são mães, por exemplo, faz com que o olhar para as funcionárias seja mais atencioso e humanizado. “Desde o processo de seleção, nós observamos muito mais a disponibilidade de aprendizado e as qualidades técnicas dos profissionais. Já tivemos casos de efetivar mulheres após descobrirem a gravidez durante o processo de contratação. Esse apoio é reconhecido pelos demais membros da equipe e serve como estímulo para os que trabalham aqui”, afirma Djane.
“Hoje um empresário inteligente vai perceber que a maternidade faz com que a mulher fique mais empoderada, amplie sua capacidade de lidar com múltiplas funções e atividades, tenha mais garra porque agora tem mais motivo ainda para desejar o crescimento no trabalho”, pontuou Camila.
“90% do meu quadro de colaboradoras é feito por mulheres. Isso me orgulha muito. Eu trago para a minha realidade de trabalho essa direção inerente que a mulher possui. A partir do momento que eu confio na minha colaboradora, dou autonomia à ela, eu a transformo em uma mulher mulher mais forte. A autonomia é uma das grandes contribuições que eu consigo dar a essas mulheres que estão comigo”, finaliza Laura.
A igualdade de gênero ainda é um tema que gera muito debate e necessidade de análise por parte da sociedade. As mulheres clamam cada vez mais por equilíbrio dentro das empresas, que vai muito além de igualdade de salários ou vagas: “Essa igualdade passa principalmente pelo respeito nas relações, pelo fim dos elogios à sua forma física e, sobretudo, respeito de opiniões. É muito desconfortável quando a gente percebe que um cliente não dá a mesma atenção ao que você diz do que quando aquela mesma ideia é defendida por um homem”, comenta Djane.
Laura afirma ainda que a força das mulheres se assemelha a um motor que gera dedicação e esforço no mercado. “As mulheres caminharam muito nos últimos 20 anos. Nós nos fortalecemos à medida que vamos nos impondo, e sei que ainda existe muita luta pela frente, mas conquistamos muitas coisas todos os dias,com um mercado cheio de mulheres fortes e determinadas”, finalizou.
Por fim, Camila ressalta que a luta por igualdade no mercado deve ser bilateral e não somente ocorrer por parte das mulheres. “O reconhecimento por parte da sociedade é muito importante, a quebra de paradigmas e a luta constante não é só de mulheres, mas de homens também que devem abraçar essa causa”, reiterou.
Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino
Comemorado nesta sexta-feira (19), o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino tem o objetivo de evidenciar e valorizar as mulheres como protagonistas no campo empresarial. Segundo o Sebrae, o número de empresárias atuando no mercado já corresponde a mais de 8 milhões, o que equivale a 34% do mercado geral.
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