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O Brasil está envelhecendo, e agora?

Por Redação

13/06/2023 14h48

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A hora de dizer NÃO ao etarismo (ou ageísmo ou idadismo) chegou.

O Brasil está passando por um rápido processo de envelhecimento da sua população. Atualmente, a cultura do ageísmo/etarismo/idadismo – que significa preconceito e discriminação com base na idade – ainda é bastante forte na nossa sociedade. As pessoas com idade acima dos 50 anos, ou mesmo a partir dos 40 anos, já começam a sentir o peso de estarem envelhecendo, seja na vida pessoal ou enquanto colaboradores, no meio corporativo. Infelizmente, este fator não é pontual e sim uma dura realidade.

No entanto, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o segmento populacional que mais aumenta no Brasil é o de pessoas idosas. As taxas de crescimento, para a década de 2012 a 2022, foram mais de 4% ao ano, representando no mesmo período um incremento médio de mais de 1 milhão de pessoas idosas por ano. Em 2020, em torno de 30 milhões de brasileiros tinham 60 anos ou mais, o que equivale a 14% da população total do país. As projeções apontam que, em 2030, o número de pessoas idosas superará o de crianças e adolescentes de 0 a 14 anos, em aproximadamente 2,28 milhões. Em 2050, a população idosa representará cerca de 30% da população brasileira, enquanto as crianças e adolescentes, 14%. Desta forma, o aumento da população idosa no Brasil tem mudado o formato da pirâmide etária em relação ao ano de 1980.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) relata que, no mundo, o número de pessoas com idade superior a 60 anos chegará a 2 bilhões até 2050, o que representa um quinto da população mundial. Já existem mais de um bilhão de pessoas no mundo com 60 anos ou mais, estando a maioria em países de baixa e média renda. Muitas dessas pessoas não têm sequer acesso aos recursos básicos necessários para uma vida plena e digna. Muitos outros idosos enfrentam numerosos obstáculos que os impedem de participar plenamente na sociedade. A OMS enfatiza que essa transição demográfica afetará quase todos os aspectos da sociedade. Então, o mundo se uniu em torno da Agenda 2030, para o Desenvolvimento Sustentável. Todos os países e partes interessadas se comprometeram a garantir que todas as pessoas possam realizar seu potencial com dignidade e igualdade e em um ambiente saudável.

A OMS desistiu de classificar velhice como doença na nova versão da Classificação Internacional de Doenças (CID 11), em vigor desde janeiro de 2022. Também, seus relatórios fortalecem que o combate ao preconceito de idade é fundamental para o bem-estar e os direitos humanos. Globalmente (com base em dados da Europa) uma a cada duas pessoas é anti-idade contra os mais velhos. Relata que a mulher é um fator de risco para tornar-se um alvo para os mais jovens. A OMS ainda diz que o ageísmo começa na infância e é reforçado ao longo do tempo. As crianças captam dicas das pessoas ao seu redor sobre seus estereótipos e preconceitos da cultura que logo são internalizados. O preconceito de idade, também, geralmente cruza-se e interage com o julgamento da incapacidade, sexismo e racismo. 

É importante salientar que a discriminação pode ocorrer de forma implícita e explícita, sendo frequentemente replicadas por tecnologias de Inteligência Artificial, incluindo aquelas usadas no crime, sistema de justiça, bancário, gestão de recursos humanos e prestação de serviços públicos. O preconceito de idade pode ser: Institucional (leis, regras, normas sociais, políticas e práticas de instituições que restringem injustamente as oportunidades e prejudicam sistematicamente os indivíduos devido a sua idade); Interpessoal (em interações entre dois ou mais indivíduos) e o Autodirigido (quando o preconceito de idade é interiorizado e voltado contra si mesmo). 

O fato é que a terceira idade foi, tradicionalmente, associada à aposentadoria, doença e dependência. As políticas e programas vinculados a este paradigma ultrapassado não acompanham a realidade, porque a maioria das pessoas permanece independente na idade mais avançada, principalmente, nos países em desenvolvimento, onde várias pessoas acima de 60 anos continuam a participar da força de trabalho. Os indivíduos idosos são ativos no setor de trabalho informal, mas, isto não é reconhecido nas estatísticas do mercado de trabalho. Todavia, as três estratégias da OMS para redução do preconceito de idade é trabalhar na: política e direito, atividades educacionais e intervenções de contato intergeracional.

Os idosos de antes não são mais os mesmos de hoje

O avanço da medicina, aliada à tecnologia, proporciona a homens e mulheres uma vida mais longeva. Percebe-se que uma pessoa de 50 anos hoje ainda é jovem, se comparada há 30 anos. O envelhecimento saudável é o processo de promoção e manutenção da capacidade funcional – atributos que facilitam suas vidas – que permite o bem-estar na velhice. 

Vale ressaltar que o processo de envelhecimento é heterogêneo e varia de acordo com sexo, relações de gênero, relações étnico-raciais, orientação sexual, aspectos socioeconômicos e culturais, e local de moradia. Tudo isto é impactado por considerável desigualdade social e regional no Brasil. Para que haja um envelhecimento ativo e saudável da nossa população é preciso haver ambientes e serviços mais conscientes às pessoas idosas. 

A exclusão das pessoas mais velhas, também, é advinda da necessidade primária da força física para a sobrevivência. Portanto, as Nações Unidas relatam que em menos de quatro décadas, saltamos de uma expectativa média de vida de 52,5 anos para 72 anos. Países que ampliaram as políticas públicas voltadas para a saúde tiveram ainda um salto maior, como no Brasil, que passou de 48 anos para 75,5 anos em média atualmente.

A idade cronológica já não determina o comportamento e o papel social. A atual geração ageless (pessoas 50 +) se mantém produtiva, atualizada e jovial. Vale a pena relembrar, também, o que fez a geração baby boomer (nascidos entre 1946 e 1964). Esta iniciou o movimento de contracultura na década de 60, quebrou vários tabus e revolucionou a juventude, fazendo: passeatas; levantou placas a favor da revolução sexual; queimou sutiãs, em 1968, para chamar atenção para o movimento de liberação feminina; cantou; dançou; pregou o amor livre durante o festival de Woodstock, em 1969. É com esta alma transformadora que, mais uma vez, estão à frente de uma nova revolução, a digital. Os boomers, acompanhados pela geração X (nascidos entre 1965 e 1980), estão se apropriando de um ambiente considerado exclusivo das gerações mais novas: as redes sociais.

Atualmente, existem influenciadoras digitais maduras gerando diversos conteúdos e o número só aumenta. Os 50+ estão reinventando-se e mudando de profissão. Importante validar que, mediante a experiência acumulada ao longo da vida, muitas mulheres com mais de 40 anos tornam-se empreendedoras e criam negócios inovadores, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social.

Economia Prateada 

Você sabia que as pessoas com mais de 50 anos estão muito assíduas na internet e movimentam R$ 2 trilhões/ano no Brasil? Este público responde por 23% do consumo de bens e serviços, com uma renda anual estimada em R$ 940 bilhões, segundo o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará (Sebrae). Esta é a Economia Prateada ou silver economy. Chegou mais que na hora de adaptar seu negócio para atender esse público no e-commerce e se manter na competição comercial.



O Sebrae informa que a economia prateada é considerada a terceira maior atividade econômica do mundo, movimentando mundialmente US$ 7,1 trilhões anualmente e estes dados revelam uma grande oportunidade para o e-commerce. Nos Estados Unidos, por exemplo, metade da população entre 52 e 70 anos passa pelo menos 11 horas por semana on-line. Por sua vez, o Japão tem bastante pessoas em torno de 100 anos e o mercado é bem desenvolvido para atendê-los. Um exemplo são os supermercados com corredores mais largos e carrinhos com lupa. Em resumo, estamos vivendo os tempos da longevidade ativa, mas, o mercado brasileiro ainda não foi adaptado para tal. Isto afeta o desenvolvimento econômico. 

Dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV) indicam que pessoas com mais de 65 anos compõem 17% da faixa dos 5% mais ricos do Brasil. Uma pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) identificou ainda que 41% dos idosos gastam mais com produtos de desejo do que com itens de necessidade básica, sendo que para 66%, aproveitar a vida é a grande prioridade.

As pessoas acima de 60 anos não querem mais ser chamadas de idosas. Cabe às marcas promoverem mais ações, produtos e serviços para conquistar esses clientes, criarem startups voltadas para o público maduro. Eles têm sido representados de maneira pontual e não de acordo com seu impacto demográfico, social e econômico. A pesquisa da Oldiversity® indica que 71% das pessoas com mais de 60 anos dizem que passaram a preferir consumir produtos e serviços de marcas que atuam a favor da diversidade.


Dicas de vendas para 60+

-Trate esse público de forma individual porque são heterogêneos e não todos iguais. Busque conhecer sua individualidade.

-Na divulgação dos produtos/serviços use imagens reais da longevidade ativa e não de idosos frágeis.

-Na sua comunicação use design mais inclusivo, com fontes maiores e cores de forma que torne a compra prática e rápida. Use também tecnologias como assistentes de voz (Alexa e Google Home).

-Priorize a oferta de produtos para o público sênior: gestão do cuidado; estilo de vida; saúde mental; gestão financeira; engajamento entre jovens e seniores; serviços de cuidadores; mobilidade.

Por que contratar um profissional 50+?

Um time composto por diversas faixas-etárias colabora para a inovação com excelência, além de disseminar a cultura da aprendizagem. As pessoas com mais de 50 anos costumam ter um perfil comportamental mais maduro, por terem vivenciado diversas situações em sua jornada profissional. São mais comprometidas e valorizam seus trabalhos. Também, são bons influenciadores, pela sensibilidade que têm ao observar as tendências do momento e, assim, subtrair o melhor destas. 

Esse grupo, além de compreender as pessoas de diversas gerações, vivem um pouco do que elas vivem. Portanto, são mais empáticas ao dar conselhos e orientações. Outro ponto interessante é que os 50 + fogem dos modelos tradicionais de trabalho e se agarram às práticas disruptivas e flexíveis. Todos saem ganhando.

Vale saber que o número de trabalhadores com mais de 50 anos subiu 110,6% no Brasil, em 15 anos. Em 2006, 4,4 milhões de pessoas nesta faixa etária estavam no mercado de trabalho. Já, em 2021, o número passou para 9,3 milhões. Os dados são do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai)/ Relação Anual de Informações Sociais (RAIS).