Fuga de patrocinadores se acelera na semana de abertura das Olimpíadas
Os Jogos Olímpicos sempre foram um grande atrativo para as marcas, no entanto, com os crescentes casos de contaminação associados ao evento, os anunciantes se encontram em um “pesadelo”. As pesquisas de opinião pública japonesas mostram consistentemente que a maioria dos cidadãos japoneses é contra a realização dos Jogos durante a pandemia.
O número de casos de covid-19 relacionados à Olimpíada chegou a 79 no Japão nesta quarta-feira, com novos atletas apresentando testes positivos para o novo coronavírus. Especialistas temem que o evento possa espalhar o vírus por mais países, aumentando, claro, o número de casos também em solo japonês.
Fechada ao público em geral, a cerimônia de abertura deverá reunir, na sexta (23), somente convidados no estádio Olímpico, entre eles patrocinadores, chefes de estado e membros das delegações que vão competir em Tóquio.
“Esses parceiros e patrocinadores lutaram para apoiar o Tóquio 2020. Este ano foi uma situação bastante intensa e desafiadora, mas ainda assim, aqueles parceiros e patrocinadores sempre apoiaram muito as Olimpíadas. É claro que há um sentimento público misto em relação aos Jogos. Deve haver uma decisão de cada empresa em termos de como elas devem ser capazes de transmitir suas mensagens ao público a partir de sua perspectiva”, comentou o porta-voz do Tóquio 2020, Masa Takaya, sobre o fim das ativações da Toyota.
Toyota
A patrocinadora master dos jogos olímpicos de Tóquio 2020 anunciou o cancelamento de anúncios com temas olímpicos na TV japonesa. Pesquisas de opinião pública no país tem apontado uma preocupação crescente entre os japoneses com a ampliação de circulação de pessoas no país em meio a pandemia. Essa dúvida foi compartilhada por Jun Nagata, diretor de relações públicas da empresa, que afirmou que ainda há questões difíceis de compreender sobre o andamento dos Jogos. A redução da exposição da Toyota vem em um momento sensível, de avanço da variante delta da covid-19 em meio ao desembarque das delegações na capital japonesa.
Para Ivan Martinho, professor de marketing esportivo da ESPM São Paulo, o anúncio da Toyota gera incertezas no comportamento dos demais patrocinadores. “A redução de exposição da Toyota acende uma luz amarela, já que indica uma alteração na relação custo-benefício do patrocínio. O fato de ser uma marca de origem japonesa também pesa nessa decisão. Se os rígidos protocolos sanitários anunciados pela organização se mostrarem falhos nos próximos dias, poderemos ter mais patrocinadores adotando medidas semelhantes”, afirma.
Segundo o especialista da ESPM, a situação é diferente da ocorrida na Copa América, que contou com desembarques oficiais de patrocinadores. “A Toyota apenas está reduzindo sua exposição, não retirando seu patrocínio. Os Jogos de Tóquio foram adiados para 2021 ainda em março de 2020 e os patrocinadores estavam cientes. É bem diferente do que ocorreu na Copa América, que mudou sua sede duas vezes de forma abrupta. Porém, a situação da covid-19 requer muita atenção das patrocinadoras, que acompanham de perto a evolução da pandemia no Japão”, diz.
Panasonic
Após o anúncio de redução da exposição da Toyota nos anúncios na TV japonesa, a Panasonic seguiu o mesmo caminho e anunciou que diminuirá as ativações publicitárias. Além disso, como a montadora, a empresa japonesa não enviará seus executivos para a cerimônia de abertura. Os patrocinadores locais têm sofrido pressão dos consumidores por apoiar as Olimpíadas, movimento apontado pelas pesquisas de opinião pública e nas redes sociais das empresas.
De acordo com Ivan Martinho, professor de marketing esportivo da ESPM SP, a movimentação da Panasonic é mais uma resposta à pressão dos consumidores contrários à realização dos jogos. “Os protocolos e a organização das Olimpíadas em Tóquio não passaram por nenhuma alteração significativa. O que mudou foi o aumento da pressão da opinião pública nas redes sociais e nas pesquisas de opinião realizadas no Japão. Tanto a Toyota quanto a Panasonic poderiam ter reduzido a exposição de forma discreta, mas fizeram questão de comunicar publicamente”, afirma.
O professor da ESPM afirma que a situação da pandemia é excepcional e as empresas não erraram em patrocinar os jogos. “A pandemia foi uma situação totalmente inesperada e é importante lembrar que esses contratos estão acordados há anos. Mesmo com a situação adversa, não creio que as empresas erraram ao decidir patrocinar as Olimpíadas. Grandes eventos dividem opiniões, mas ainda é um bom negócio para grandes empresas estarem envolvidas em eventos esportivos”, diz.
Crédito
Imagem destaque: AP Photo/Kiichiro Sato