Por Anaísa Silva e Cássio Clemente
Temos visto inúmeros eventos históricos que nos marcaram até os dias de hoje. Casos de superação, de inovação, de coragem e até de fé. Todos foram transformadores porque mudaram paradigmas, alteraram a referência e, sem exceção, tiveram um ponto de inflexão. Na maioria das vezes, houve um líder, um aglutinador, um influenciador que catalisou aquele processo de transformação.
O momento que a humanidade vive nos dá claros sinais da necessidade de evolução. O modelo econômico sendo testado além dos seus limites, as mudanças climáticas nos confrontando a cada dia com maior intensidade, a desigualdade social nos desafiando a rever conceitos e valores. Como tantos fatos históricos de transformação, esses movimentos exigem a participação efetiva de um público fundamental: a liderança. Podemos elencar várias razões. Mas, principalmente, a de dar o bom exemplo para a mudança de mentalidade, dentro e fora das companhias, como é o caso do universo das corporações.
Podíamos olhar pelo viés antropológico, no qual todas as espécies que andam em bando seguem um líder. Avaliar, também, pelo aspecto organizacional arcaico, no qual segue-se a ordem do chefe sem discutir. E também podemos analisar pelos padrões modernos de gestão, sendo o entendimento do time, avaliação do impacto e transparência nas relações práticas primordiais para liderar.
Sabemos que a adoção de política ESG, de meio ambiente, social e governança (environment, social and governance, em inglês), seja em empresas, seja em qualquer instituição não é mais um modismo, mas uma premência. Esse formato pode ser uma via organizada e mensurável das transformações que o momento da nossa existência pede. Já é passada a hora de discutirmos a validade das iniciativas nesse sentido. Elas são fundamentais para a transformação, evolução e sobrevivência da nossa civilização. Cabe aos líderes estimular, orientar e dar o bom exemplo em relação ao tema, disseminando as ações autênticas e provocando o engajamento dos colaboradores, fornecedores e outros parceiros das empresas.
Uma pesquisa realizada pela Egon Zehnder, consultoria global em liderança, com 329 profissionais de 53 países – 4% do Brasil -, aponta que os CEOs são os “donos” do tema sustentabilidade e devem capacitar equipes para cumprir essa agenda. Segundo o levantamento, para 68% dos entrevistados o único líder na companhia precisa comandar a frente ESG e que esse gestor é o CEO.
Além do apoio ao estabelecimento de metas e indicadores, de acordo com os valores da companhia, os líderes têm a possibilidade de usar a influência e poder de decisão para dar andamento aos processos internos que possibilitem a implementação dos programas relacionados à sustentabilidade como parte integrante e indispensável dos negócios. Com isso, exercem o necessário papel diante das transformações que vivemos nas últimas décadas, aceleradas pela pandemia, pressão de investidores e da sociedade.
O documentário “Abercrombie & Fitch: Ascensão e Queda”, disponível no streaming, mostra um modelo relativamente recente de liderança que não deve ser seguido, obviamente. Afinal, hoje não existe mais espaço na sociedade para executivos que pretendem construir marcas impondo atitudes como as de Mike Jeffries. Com a obsessão pela juventude e para atrair esse público, o CEO da empresa estimulou práticas discriminatórias e racistas.
As novas demandas necessitam de capacitação da liderança, já que o entendimento dos executivos sobre ESG é imprescindível para tornar as estratégias mais consistentes e genuínas. É um novo olhar, uma outra maneira de se viver. É como o sedentarismo, obesidade e tabagismo, que trazem reflexões sobre melhorias de qualidade de vida e aumento da longevidade. É necessário um “detox”. Um descondicionamento para reavaliar valores e a nova forma de pertencer a este mundo.
Algum dia, pesquisadores, historiadores escreverão sobre este momento e seus efeitos transformadores na sociedade como um todo. Abordarão também sobre os líderes que promoveram e participaram das mudanças necessárias. Esperamos que tenham muitos a citar, e não alguns poucos, com esforços infrutíferos, ou maus exemplos.
Anaísa Silva, diretora de Atendimento, Gestão de Imagem e ESG da CDI Comunicação
Cássio Clemente, fundador e CEO da consultoria EquiSocial, especializada em projetos ESG no Brasil. Foi presidente do Conselho de Administração do Instituto Jô Clemente, antiga Apae de
São Paulo