Poxa Raffa, mas você vai começar logo com os erros?
Sim, existem incontáveis acertos quase que diários na luta pela sobrevivência de um negócio, mas se a pauta do empreendedorismo feminino ainda gera ansiedade para as mulheres empreendedoras, executivas e para as aspirantes dessas posições é porque ainda precisamos acertar o passo da nossa dança, o compasso da nossa música.
Fato é que há uma geração de empreendedoras por vir, meninas com alta educação curricular e ambição para subir no mais alto dos pódios, porém a realidade da vida corporativa, das contas que não fecham, dos colegas que não concordam com você, dos fracassos na captação de investimentos ou do mínimo empréstimo para rodar capital de giro pode dar uma certa chacoalhada na autoestima da mais bem intencionada e resiliente das mulheres.
O que exponho a seguir são aprendizados valorosos que absorvi de chefes, sócios, gerentes, trainees, estagiários, colegas e amigos aposentados (mulheres e homens) e das minhas próprias experiências desafiadoras (e algumas bem divertidas) sobre essa questão do famigerado empreendedorismo feminino:
- Tentar absorver características masculinas para ter sucesso;
Quando era adolescente, diante alguma frustração pessoal, chorei no carro quando meu pai me dava carona, e ele como todo bom pai me questionou o real motivo do choro, como todo pai sábio ele sabia que tinha mais por dentro. Respondi que estava frustrada comigo mesma por ser tão sensível e que aquilo era o meu maior ponto fraco. Nunca esqueci suas palavras: Tudo que é natural e vem com a força de um vulcão, não pode ser uma fraqueza, mas sim a sua maior força, se apodere disso e aprenda como você vai usar ao seu favor.
Outro causo é relatado no episódio 5 da 2ª temporada do seriado Mad Man, a personagem Peggy aprende a valiosa lição: “Seja uma mulher, é um empreendimento poderoso quando feito da forma correta”.
Os exemplos descritos acima nos levam à seguinte lição: não precisamos acreditar que certas características femininas são uma fraqueza, quando são a combustão que nos levam a frente. Mulheres diferentes possuem potencialidades diferentes, não as despreze em busca de se “tornar um homem de sucesso”.
2. Não buscar referências em lideranças femininas e/ou não aceitar mentores ou referências masculinas;
Quem se aprofunda na ciência da psicologia, sabe bem mais do que eu a importância das boas referências dos mais velhos no desenvolvimento infanto/juvenil, a nossa carreira sendo um processo quase tão longo quanto à própria vida também precisa de referências.
Diferente de quando somos crianças, nesse caso podemos escolher em quem nos espelhar com base nas suas conquistas, valores, tipo de mercado, desafios e nas mais diversas características, mas aqui vai uma exortação para as mulheres: busquem referências em outras mulheres. Pelo óbvio: nosso corpo, mente e alma são construídos e desenvolvidos de forma diferente dos corpos, mentes e almas masculinas.
Dessa maneira, há uma grande chance de que nossa visão de vida, família, carreira, sucesso sejam diferentes daquela percebida pelos homens. E está tudo bem. Não menosprezem as dores físicas e espirituais que só uma outra mulher pode compartilhar.
Todavia, não caiam no erro de que não podem aprender com os homens, que eles não são elegíveis como bons mentores. Na ausência de uma figura “inspiradora” feminina no seu campo de trabalho, não desprezem os bons líderes só porque são homens. Você rejeitaria uma mentoria de Luiz Barsi ou Warren Buffett só porque são homens? Não caia nessa cilada, aprenda com todos, mas se possível tenha uma mentora por perto.
3. Você não precisa ser a “Girl Boss” ou a “CEO”;
A cultura das redes sociais foca muito nos cargos ou em certos tipos de “status” que você deveria projetar. Na boa, esqueça isso. Foque no seu propósito, no seu negócio, nas vidas que você transforma, na efetiva construção de algo que começou do zero, só com a ideia e um sonho.
Não se preocupe, os títulos, as condecorações, as siglas irão te acompanhar e farão muito mais sentido, pois estão ancoradas numa construção sólida.
O que vale mais: uma sigla num cartão de visitas ou um negócio sustentável? Um não nega o outro, mas o último precede o primeiro.
4. Confundir o sacrifício com se tornar a “super-mulher”;
Geração Z, desculpa te decepcionar: a vida ideal de pouco sofrimento não vai te levar à grandeza. Talvez vocês tenham receio que o sacrifício seja sinônimo de ser “super-mulher”.
De fato, é um ideal inatingível, mas não sejamos radicais: ideais são importantes. Ser uma boa profissional dá trabalho, ser boa mãe dá trabalho, ter uma casa legal dá trabalho, pois tudo o que é bom exige de nós a superação dos vícios pelas virtudes, e só alcançamos isso inevitavelmente com o sacrifício.
Não fomos criados para o prazer sem fim, mas para o heroísmo edificante.
5. Não buscar a maturidade como pessoa;
Empreender traz riscos, traz responsabilidades, faz com que pessoas e famílias dependam das suas escolhas, o sucesso da sua empresa vai definir se haverá pão na mesa de muitas pessoas. Bem como há a questão do nome, ninguém quer o seu nome tão zelado, tantos anos de reputação construída para ser jogado como pérolas aos porcos.
O melhor remédio para os desafios existenciais de empreender é a busca incessante da sobreposição das virtudes pelos vícios, de poder deixar de ser aquele que depende por aquele que muitos dependem, não só nos negócios, mas também nos nossos lares.
6. Deixar de transformar os erros em oportunidades de crescimento;
Não vou nos poupar desta realidade: erramos e erraremos. Provavelmente com mais frequência do que gostaríamos. Como não mudamos esse fato, sugiro o seguinte: ao invés de colocar o mundo e a culpa nas costas, aprenda com cada erro e se não aprendeu cem por cento? Erra 10% menos, depois mais 10%, depois mais 10%.
Entendeu aonde eu quero chegar? O erro pode te levar para dois caminhos: a neurose ou ao aperfeiçoamento e a notícia boa é quem escolhe somos nós.
7. Falta de preparo em ferramentas específicas;
O preparo contínuo vai te acompanhar até o fim da carreira e se você é mulher, não despreze as ferramentas típicas que podem te ajudar a fortalecer os pontos de melhoria e engrandecer as suas forças naturais próprias do ser mulher.
Por fim, pensando nessas lições/ erros que me uni à Clarissa Tourinho, mentora de mulheres, para promover a primeira edição do Woman’s Business, um momento que busca elevar as mulheres a outro patamar através de conhecimento, companheirismo e networking.
Por: Raffaela R. N. Mello
Advogada e Empresária. Sócia na R. Saldanha Advocacia Corporativa e RS Governance. Professora convidada na Pós-Graduação da Universidade de Fortaleza. Advogada Tributarista com carreira desenvolvida em consultoria, contencioso, levantamento de créditos tributários, auditoria, reestruturação societária, planejamento tributário e incentivos fiscais.
Bolsista como Young Professional no Programa Internacional Innovation Experience Israel 360º. Management of Fashion and Luxury Companies pela Universtà Bocconi. The Luxury Industry: Customers and Luxury Experiences pelo Glion Institute of Higher Education. Gestão de Operações pelo Insper