No Marketing, ter uma bagagem com um bom repertório pra tirar da cartola será sempre uma vantagem
O mercado e a sociedade geracional são os temas que passeiam por toda essa edição incrível do impresso Nosso Meio. E o convite que recebemos aqui na Marketar foi para falarmos sobre o contexto – e conflitos? – da atuação dessas gerações dentro das áreas de Marketing e Business de modo geral.
Particularmente, devo dizer que tenho minhas restrições quanto à abordagem como comumente a utilizamos hoje, em que se padroniza um enquadramento de faixas etárias para todo o mundo, desconsiderando as culturas de cada continente, seus hábitos, costumes e outras variáveis que poderiam alterar a elasticidade da escala, a depender do país em questão.
Entender que o Boomer da Dinamarca e o da Bolívia podem ser lidos na mesma caixinha? Ou que o Gen Z do Japão e o de Cuba estão no mesmo barco? Mas irei me ater aqui ao nosso tema, e deixar que os colegas especialistas em Gente e Gestão que rechearam as demais páginas com tantos conteúdos bacanas nos auxiliem.
Hard, Soft e Human Skills
Logo que concluí o curso de Publicidade e Propaganda, eu ingressei na especialização em Gestão Executiva de Marketing. Primeiros dias de aula, ainda em fase de ambientação e estranhamento, lembro que eu olhava ao redor e via claramente que eu era a mais jovem ali naquele espaço. Recém-formada, com toda a arrogância de quem sai da faculdade achando que já sabe de tudo e vai dominar o mundo, talvez eu tivesse a expectativa de que encontraria na pós mais uma turma como a da graduação, mas o que eu encontrei foi uma galera massa que ia muito além. E que bom que eu percebi isso rapidamente e pude desfrutar das companhias e dos aprendizados com eles.
Eu explico. Todos os demais colegas já atuavam no mercado de trabalho, feito que, até então, para mim, havia sido possível apenas no formato de estágio. Só isso já valeria um tanto que nem consigo explicar. A academia era, e ainda é, uma realidade diferente do mercado de trabalho, e estar com colegas insiders nas empresas, já como profissionais, me ajudava a entender sobre escolhas, carreira e o futuro profissional de modo geral.
Não bastasse o know how, o conhecimento técnico em si, os mais próximos ainda me inspiravam e ajudavam com softs e humans skills: posturas, habilidades, trabalho em equipe e outras competências que
utilizo até hoje no dia a dia. Que convivência e trocas maravilhosas, com colegas mais experientes que eu, alguns dos quais tenho a sorte de conviver até hoje. E eu quero acreditar que, à época, eu tenha agitado e também deixado mais leves as noites de aulas deles com as minhas energia e curiosidade, tão características nos iniciantes.
Hoje, como professora na pós-graduação da Unifor, já ministrei diferentes disciplinas, para diferentes perfis de turmas, sendo algumas mais participativas, outras menos, mas se existe algo que eu posso atestar, sem titubear, é que as turmas que melhor performam são as mais plurais. A riqueza nos debates, nos questionamentos de quando temos em sala alunos oriundos de diferentes graduações, trocando com alunos um pouco mais velhos e que já atuam no mercado, dali sai o extraordinário, dali enxergo a turma dar o próximo passo, a melhoria na entrega. E eu, na minha geração Y, saio melhor do que entrei, com a mente oxigenada, sem saber muito ao certo que idade eu tenho.
O Rádio ou a TV?
Já no mercado de trabalho, pouco antes da pandemia, recordo de um episódio que pra mim ilustra bem a relevância da presença complementar da Gen Z nas organizações. Encontrei com um colega Diretor no corredor da empresa e perguntei sobre um processo seletivo que estava aberto na área dele, para uma vaga de gestão. Ele então comentou, sorrindo, que “houve até candidato que propôs mostrar o que sabia sobre a área de atuação utilizando jogos, games, dizendo que utilizaria esse tipo de ferramenta para treinar o seu time, caso conquistasse a vaga de gestão em questão”. “Já pensou?!”, me indagou o colega, e então rimos juntos.
Algum tempo depois, não muito, mas já pós pandemia, rimos juntos novamente, dessa vez de nós mesmos. Como não conhecíamos o poder da gameficação na época da referida seleção? Como teria sido ter contratado aquele profissional com as ferramentas que ele trazia? Possivelmente estaríamos um passo à frente de onde estávamos.
Na era do “e” e não do “ou”, a história recente vem nos mostrando a importância da complementaridade. Num mundo que avança tão rápido, com tantos contextos e especificidades, onde falamos em escala e em personalização tudo junto e misturado, por que soa tão complexa a convivência entre as gerações nos ambientes de trabalho? Não seria esse um processo evolutivo, em vez de excludente? E não que seja fácil, mas certamente o somatório dessa mistura, ao final do jogo, vai levar a resultados positivos.
Um time plural, alinhado por um propósito claro e genuíno, é imbatível
Em Marketing e Vendas, amigo, bagagem conta- e muito. Para muito além da tecnicidade, repertório conta pra prospectar e ganhar cliente, pra somar em reuniões com ideias e ações pertinentes, pra negociar posições, pra gerar resultado. Em tempos de customização e experiência, quanto mais plural for a equipe, maiores as chances de capturar o sentimento dos muitos perfis de clientes, dos muitos cenários de mercado, dos muitos comportamentos e preferências existentes. E quer forma melhor de ganhar bagagem do que misturando o melhor de cada geração no mercado?
Obrigada pela audiência até aqui. Desejo que você construa pontes e não muros pelo caminho. Vamos juntos!
Sobre Camila Coutinho:
Camila atua há 24 anos no mercado, nas áreas Comercial e Marketing, entregando resultados positivos na última linha em empresas de pequeno, médio e grande portes dos setores da Indústria, Serviços e
Varejo. É Mestranda em Administração com ênfase em Mercado, Estratégia e Finanças, cursou Estrategic Business pela Columbia University – NY, é Especialista em Marketing, Publicitária e uma apaixonada pelo mercado, gente e resultados.