Por Cristiano Oliveira, CEO da Vertere AI, presidente PMI-CE e evangelista do uso corporativo ético de IA
Transformação digital não basta: IA exige transformação organizacional completa
“As organizações realizam, em média, 4,3 pilotos, mas apenas 21% alcançam escala de produção com retornos mensuráveis. A dificuldade se deve a bases de dados inadequadas, casos de uso pouco claros e gestão de mudanças insuficiente.”
(McKinsey, Relatório State of AI 2025)
O problema que ninguém quer admitir
Todo dia surge uma nova manchete sobre IA. Projetos piloto de IA generativa explodem em todas as empresas. Ferramentas aparecem como cogumelos após a chuva. E você, executivo responsável, sente aquela pressão: “nossa concorrência já começou”.
Mas quando chega a pergunta inevitável do board — “Onde está o retorno?” — o silêncio é ensurdecedor.
A verdade que as consultorias não contam: não existe transformação digital bem-sucedida em IA sem transformação organizacional.
Os números não mentem
“Atualmente, 71% das empresas já utilizam IA generativa, o que mostra o quanto essa tecnologia está avançada e integrada à operação corporativa.”
(McKinsey, Relatório State of AI 2025)
A maioria esmagadora dos projetos de IA nunca sai do piloto. E quando sai, não entrega ROI mensurável.
O culpado? Não é o algoritmo. É a organização.
O ciclo vicioso que está sugando seus recursos
Sem mudança organizacional, você entra numa espiral descendente:
- Valor atrasado: Meses investidos em pilotos brilhantes que não escalam porque faltam APIs básicas, segurança, compliance e MLOps (Operações de Machine Learning).
- Risco reputacional: Sem políticas claras, modelos alucinam em público, violam privacidade e geram vieses. Sua marca paga a conta.
- Caos interno: Negócio testa soluções isoladas, TI corre atrás tentando integrar, jurídico tenta regular o que nasceu sem governança.
- Baixa adoção: Quando processos não mudam, pessoas continuam trabalhando como sempre. Sua “revolução de IA” vira mais um atalho manual esquecido.
Resultado? Orçamentos desperdiçados num “zoológico de POCs”, backlog técnico crescendo e sua equipe exausta.
Enquanto isso, concorrentes inteligentes que trataram IA como alavanca organizacional já capturam ganhos reais: ciclos reduzidos, conversões maiores, qualidade superior, segurança robusta.
Eles aprendem mais rápido. E aumentam a distância todos os dias.
A solução que funciona (comprovada no mundo real)
Pare de pensar em IA como tecnologia. Comece a pensar como transformação organizacional. Organizações vencedoras investem igualmente em desenvolvimento cultural, capacitação e remodelagem de processos, não apenas em ferramentas e algoritmos.
Aqui está o roteiro que realmente funciona:
1. História clara do topo
CEO e board definem 3-5 apostas estratégicas, princípios de uso responsável e métricas de valor não-negociáveis. Sem essa narrativa, a IA vira “mais um projeto de TI”.
2. Governança que destrava (não engessa)
Políticas cristalinas de privacidade, segurança, direitos autorais e revisão humana. Comitê ágil com poder real de decisão. Padrões claros para copilotos, chat corporativo e automações.
3. Fundação sólida de dados
Catálogo, qualidade, rastreabilidade dos dados e acesso seguro. Conectores com sistemas críticos. MLOps/LMMOps para versionar prompts, modelos e automações. Sem base, não há escala.
4. Portfólio orientado a valor real
Cada caso sai com dono de negócio, baseline mensurável, pilotos de 6-8 semanas e “kill rules” claras. Hipótese de valor, critérios de promoção e métricas de ROI desde o dia um.
5. Redesign inteligente de processos
IA não é atalho — é redesign. Simplifique primeiro, automatize depois. Crie papéis como Product Owner de IA, AI Ops e curador de conhecimento.
6. Adoção na ponta
Capacitação prática para quem realmente usa. Comunidades de prática. Playbooks claros. Incentivos alinhados. Ferramenta sem mudança de comportamento = dinheiro jogado fora.
7. Estratégia buy + build inteligente
Use soluções de mercado onde faz sentido. Construa apenas seu diferencial competitivo. Pare de reinventar commodities.
O resultado? IA que realmente transforma
Quando esses pilares existem, IA deixa de ser coleção de demos para se tornar capacidade organizacional real.
A mágica acontece no “humanware”: liderança que comunica, pessoas capacitadas, processos que medem e aprendem, tecnologia a serviço do negócio.
Sua próxima decisão define os próximos 3 anos. Você tem duas opções:
- Continuar no hype: Mais pilotos, mais demos, mais frustrações. Mais dinheiro desperdiçado enquanto concorrentes ganham terreno.
- Transformar de verdade: Sair do ciclo vicioso e construir vantagem competitiva sustentável com IA.
