Entenda como a Universidade se propõe a ir bem além do mercado de trabalho
Essa pergunta foi direcionada a três docentes dos cursos de Publicidade e Propaganda e Jornalismo da Universidade Federal do Ceará, como uma autoanálise da formação que a Universidade está oferecendo aos futuros profissionais do nosso meio. Em comum, temos a percepção de que uma educação voltada para a dinâmica do mercado seria rasa. Precisamos discutir o papel dos comunicadores enquanto atores sociais, com criticidade, autroresponsabilidade e visão holística sobre as transformações do próprio mercado de trabalho e do nosso setor. Conheça as análises de Chico Neto, Alan Góes e Edgard Patrício em comemoração ao Dia do Professor.
Chico Neto – professor do Curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Ceará (UFC). Atua principalmente nos temas de comunicação visual, design estratégico, processos criativos e comunicação para o terceiro setor.
“O papel do professor é compartilhar conhecimentos, possibilitando a evolução social e mercadológica de forma contínua através da educação. Como professor universitário, a contribuição mais evidente é auxiliar na formação de novos profissionais com competência executiva, pensamento crítico e capacidade criativa para fazer bem feito, avaliar o que é feito, mas também propor novas formas de fazer comunicação. Mas as relações de ensino e aprendizado significativo não se resumem às aulas para jovens talentos. O Interesse, a busca e o encontro com o saber podem ser uma prática cotidiana sem limites e sem fronteiras”.
Alan Góes – professor do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Ceará. Mestre em Comunicação. Tem interesse nas áreas de roteiro audiovisual, cinema clássico, narrativa audiovisual, publicidade audiovisual, teorias da comunicação, semiótica e história e teorias do cinema.
“A primeira contribuição que como professor universitário pretendo entregar à sociedade e ao mercado de comunicação cearense é a formação de profissionais com capacidade analítica profunda, consequência do tempo e esforço empreendido por um estudante na graduação. Uma formação que, para além das habilidades técnicas, consiga dar a ver aos profissionais de Comunicação as intensas mudanças que a área tem sofrido nessas primeiras décadas do século XXI, exemplificados principalmente na popularização da internet e no avanço da digitalização. Mais importante do que saber operar uma ferramenta x ou y que certamente será substituída por outra tecnologia nos próximos anos, é compreender tais processos de transformações que a área atravessa e estar apto para propor soluções criativas para os problemas devires. Num cenário econômico atual em que batemos recorde de inflação e desemprego, deverão ser os futuros graduados os responsáveis por reorganizar as matrizes econômica e produtiva do país e a própria estrutura do mercado de trabalho em comunicação cearense. Não é uma tarefa a ser resolvida apenas com conhecimentos operacionais”.
Edgard Patrício – coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Ceará e professor do curso de Jornalismo (UFC). Coordena o grupo de pesquisa PráxisJor – Práxis no Jornalismo (UFC). Tem interesse nas áreas de transformações no jornalismo, educação, rádio e terceiro setor.
“Quando a gente discute a relação universidade x mercado na comunicação, temos que entender que a Universidade não forma somente para o mercado. Essa pontuação é extremamente necessária e vou explicar o motivo: o conceito de Universidade pressupõe uma universalidade e o mercado se orienta por estratégias diferenciadas que estão vinculadas a cada uma das empresas que estão atuando nesse meio. Existe uma formação mais ampla e crítica que está para além do mercado, que inclusive, tem suas críticas ao próprio mercado. Acredito que o mercado pode se beneficiar dessa formação crítica, aliando seus interesses à missão do ensino nas Universidades, que é a transformação social. Entendo que uma das finalidades da graduação é também entregar o serviço da empregabilidade e garantir a inserção desses estudantes no mercado da comunicação, mas enxergo hoje um mercado cada vez mais amplo, diverso e cheio de possibilidades de atuação. Por exemplo, observamos hoje coletivos de comunicadores voltados para a produção de conteúdo diferenciada que questionam até mesmo o jornalismo tradicional. Então hoje quando falamos de mercado não podemos pensar somente nas empresas de comunicação no formato que conhecemos. É um mercado diverso e por isso, deve ser uma troca de conhecimento em mão dupla”.