Crush, carreira ou liderança começam do mesmo jeito: ouvindo antes de falar
Por Lucas Daibert, sócio e VP de estratégia da Binder
Existe uma categoria social curiosa, quase exótica, que aparece ciclicamente nas universidades: os jovens. Entram em cena com uma mala invisível, lotada de sonhos, recheada de expectativas e, claro, um saquinho de ansiedade que nunca fecha direito. É uma panela de pressão que não sabe se ferve ou explode. Falta direção, sobra vontade. Eu sei bem, já estive lá. A diferença é que, no meu tempo, as redes sociais ainda não existiam, o que nos dava ao menos o direito de falar besteira sem testemunhas digitais.
Nelson Rodrigues, esse oráculo de frases definitivas, eternizou um conselho que é, na verdade, um diagnóstico: “jovens, envelheçam!”. Traduzindo: a vida ensina mais do que qualquer TED Talk de autoajuda. Só que esperar a vida ensinar dói. E demora.
Enquanto a maturidade não chega, os números não ajudam. Pesquisas recentes mostram que 67% da Geração Z admite sentir-se sozinha “frequentemente” ou “sempre”. No Brasil, cerca de um terço dos jovens de 16 a 24 anos se sente isolado, mesmo rodeado de gente. Ironia das ironias: cercados de notificações, são pouco notados. E se a vida social já não entusiasma, o trabalho também anda fraco. Um relatório da Gallup revelou que apenas 31% dos jovens profissionais se consideram engajados no emprego. O resto navega em piloto automático e, convenhamos, todo mundo já trombou com um colega em modo zumbi. Para completar o enredo, a inteligência artificial ainda ameaça disputar justamente as tarefas menos estratégicas, aquelas que costumam caber à turma mais nova.
Por isso, acredito que quem já está ralando no mercado tem uma cláusula moral de responsabilidade intergeracional, uma espécie de débito a ser pago para quem está começando. Chame como quiser: gratidão, empatia, visão de futuro ou puro interesse próprio. Afinal, se o mundo não acabar antes, essa turma vai ocupar as cadeiras de liderança. E seria bom que soubessem para que serve a cadeira.
Foi nesse contexto que tive a oportunidade de contribuir com meus dois centavos numa conversa com estudantes da ESPM Rio. Entre perguntas e inquietações, deixei um recado que considero quase subversivo em tempos de engajamento medido por curtidas: interesse-se de verdade pelas pessoas. Fuja, com todas as forças, da maré da superficialidade performática e narcisista digital. Seja curioso. Pergunte, ouça, preste atenção. Tem mais a ver com ciência social do que com rede social, sabe? É a lição mais antiga do mundo e, talvez, a mais ignorada.
Serve para conquistar um crush, claro, mas também para encontrar espaço no mercado de trabalho. Só descobre afinidade quem investiga o que o outro gosta, teme, deseja, sonha. Esse “outro” pode ser a futura namorada, o cliente quando a startup sair do papel ou a empresa em que você gostaria de trabalhar. Fazer perguntas genuínas, ouvir com atenção, pesquisar sobre os assuntos, enxergar no outro mais do que um avatar de perfil. Nessa jornada, a gente ganha repertório, constrói confiança e, de quebra, ainda se torna bem mais interessante.
Porque, no fundo, a vida profissional é como uma boa conversa de bar: se você só fala de si, ninguém aguenta ficar até o final.
