De cosméticos a alimentos, os negócios buscam estratégias para atender às mudanças no mercado e gerar impacto positivo
A crescente preocupação com o impacto das empresas no mundo está transformando a maneira como consumidores escolhem onde investir seu dinheiro. Assim, a responsabilidade ambiental e social deixou de ser um diferencial e se tornou uma exigência para muitos clientes. De acordo com o Índice do Setor de Sustentabilidade 2023, da Kantar, empresas que negligenciam questões ambientais, sociais e de governança estão mais propensas a perder clientes. O estudo revela que 60% dos consumidores buscam ativamente marcas com um histórico positivo em ações ESG, enquanto 77% acreditam que os negócios têm o papel de tornar a sociedade mais justa.
Neste cenário, marcas brasileiras assumem o compromisso socioambiental, entendendo que os consumidores demandam que as empresas ajam de forma ética e sustentável, integrando práticas que visem o bem-estar do planeta e das comunidades em todas as etapas de seus negócios. Exemplo disso é a Natura, reconhecida pelos impactos positivos de sua operação.
Além do modelo de negócio baseado na bioeconomia da sociobiodiversidade, a empresa é engajada na economia circular e regenerativa, com o objetivo de promover o consumo consciente e reduzir o plástico. Até 2030, a holding pretende tornar 100% de todas as suas embalagens reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis, além de chegar a um patamar de 95% de biodegradabilidade de suas fórmulas cosméticas.
“A existência da Natura deve ajudar a tornar o meio ambiente e a sociedade melhores, isto é, neutralizar nossos impactos negativos e contribuir com o bem-estar ambiental, social e econômico por meio do nosso negócio. E claro, desenvolver produtos que tenham a ética como ingrediente principal e reunir uma rede de pessoas mobilizadas por esse mesmo propósito”, destaca Angela Pinhati, Diretora de Sustentabilidade da Natura&Co (LATAM).
Dentro da meta, a Natura prioriza o desenvolvimento de materiais reutilizáveis, minimizando a geração de resíduos. Em 2023, 87,8% das embalagens foram recicláveis, reutilizáveis ou compostáveis, com 13,1% de uso de plásticos reciclados pós-consumo, ante 10,6% em 2022. Considerando apenas a marca Natura, houve um crescimento de 20% para 21,8% de uso de plástico reciclado pós-consumo. No último ano, os refis da marca evitaram a geração de 2.131 toneladas de resíduos – equivalente ao volume produzido por 3,9 milhões de pessoas em um dia – e a emissão de 5,4 mil toneladas de GEE.
Uso de bioingredientes e inovação
À medida que a pressão por práticas ambientais responsáveis cresce, as organizações são desafiadas a desenvolver soluções que não apenas atendam às demandas do mercado, mas que também contribuam para um futuro mais sustentável.
Para Angela, inovação e sustentabilidade precisam caminhar juntas.
“Costumamos dizer que só é inovação aquilo que gera impacto positivo. Desde o ano passado, adotamos o conceito de regeneração como o coração da nossa estratégia. Sustentar já não é suficiente para enfrentar os desafios globais, é preciso ir além e restaurar tudo aquilo que foi degradado”, destaca a executiva.
Em 2023, a Natura investiu R$ 292 milhões em inovação, valor que representa 2,1% da receita líquida aplicada nesse pilar. Ao todo, 273 novos produtos foram lançados no Brasil. A Amazônia tem papel de destaque na estratégia de inovação da companhia, a região representa a principal plataforma de pesquisa. Até o momento, foram desenvolvidos 44 bioingredientes da sociobiodiversidade amazônica, a meta prevista na Visão 2030 é chegar a 55 bioingredientes até o fim da década.
Investimento faz a diferença
Além das grandes companhias, existem também inúmeras outras marcas que promovem impacto através de seus negócios. Contudo, para que as iniciativas gerem resultados a longo prazo, é necessário haver capital. Neste contexto, nasce o Zunne, um programa de investimento em negócios que geram impacto positivo no Norte e Nordeste.
Na primeira edição do Zunne foram mobilizados quase 5 milhões de reais. A 2ª edição do tem o objetivo de mobilizar R$10 milhões em investimentos para apoiar 30 negócios sociais, priorizando aqueles liderados por mulheres negras e indígenas nestas regiões. O Zunne foi criado por três organizações – Somos Um, Yunus Negócios Sociais Brasil e TRÊ Investindo com Causa – para viabilizar que o dinheiro chegue para democratizar o acesso aos recursos de investimento e mentorias especializadas, trazendo oportunidades para as empreendedoras.
Segundo a Global Impact Investing Network (GIIN), o mercado global de investimentos de impacto foi estimado em US$ 1,164 trilhão em 2021. No Brasil, o Aspen Network of Development Entrepreneurs (ANDE) relatou que o valor de investimentos de impacto chegou a R$ 18,7 bilhões no mesmo ano. Os números demonstram a viabilidade financeira e o crescente interesse dos investidores em apoiar negócios que geram impacto positivo.
Para Ticiana Rolim, idealizadora do programa, a mudança na mentalidade dentro das empresas está relacionada à sobrevivência, não só dos negócios e do dinheiro, mas da nossa própria espécie.
“Vamos precisar encontrar um equilíbrio entre as necessidades humanas e as da natureza. Não podemos mais seguir usando recursos naturais como se eles fossem infinitos, já estamos sentindo na pele as consequências do uso excessivo dos recursos naturais, principalmente as pessoas mais vulnerabilizadas que são as primeiras a serem afetadas com as consequências, apesar de serem as que menos contribuíram para ela. Por isso precisamos conversar sobre Justiça Climática”, ressalta.
Dessa forma, a adaptação às mudanças climáticas requer o envolvimento do setor financeiro e da iniciativa privada na adoção de boas práticas que acelerem a transição para um modelo econômico de baixo carbono, promovendo prosperidade e inclusão.
Ticiana ainda destaca a importância do Zunne para auxiliar novos empreendedores.
“Acreditamos que a nova geração de empreendedores brasileiros também deseja criar impacto social positivo para o mundo. Apesar da busca por essa combinação vir crescendo nos últimos anos, esses empreendedores ainda se deparam com muitas incertezas na hora de tirar suas ideias do papel. Para auxiliá-los, o Zunne, a Somos Um e diversos atores vêm lutando para garantir no mercado as condições necessárias para que esse tipo de negócio surja e sobreviva dentro de um ambiente regulamentado com apoio para crescer em larga escala”, explica.
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Marcas consolidadas também se reinventam
Se por um lado novas marcas que chegam ao mercado trazem a preocupação ambiental como um fator relevante, negócios com uma trajetória maior também se adaptam. Exemplo disso é o Grupo Azilados, que está há 16 anos no mercado cearense de alimentação fora do lar. Detentor das marcas Azilados Casa de Sanduíches e Em Nome da Pizza, o grupo tem voltado o olhar para adotar processos mais sustentáveis dentro do negócios.
Neste processo, houve o lançamento recente de uma Linha de Saladas com o objetivo de atender a demanda por um consumo mais consciente e saudável. Um dos principais diferenciais está nas embalagens de papel, reduzindo o uso de plásticos. Além disso, o grupo está trabalhando com talheres de bambu e estudando potes biodegradáveis para os molhos sem perder a qualidade na vedação. O grupo também tem revisitado as embalagens das outras marcas, buscando implementar embalagens sustentáveis em todas elas.
Jorge Lima, estrategista da marca, destaca o que contribuiu para a mudança:
“O Grupo Azilados tem se preocupado cada vez mais com a sustentabilidade e, por isso, os valores do ESG têm nos guiado a propor mudanças significativas em nossa operação. O lançamento da nova linha de saladas é um exemplo claro desse compromisso. Sabemos que os consumidores estão cada vez mais conscientes do impacto que suas escolhas têm no meio ambiente e na saúde, e queremos ser uma marca que responde a essas expectativas de maneira genuína e responsável, com opções que equilibram saúde, sabor e responsabilidade socioambiental”, pontua.
De acordo com dados do instituto Opinion Box para o iFood, a maioria dos consumidores prioriza marcas que utilizam embalagens sustentáveis no delivery, com percentual de 56% dos entrevistados. A pesquisa ainda aponta que 76% dos entrevistados consideram importante que as embalagens tenham selo de sustentabilidade.
Novos hábitos de consumo
As mudanças no perfil dos consumidores também têm atingido o segmento de bebidas não alcoólicas, que vive um momento de crescimento impulsionado pelo novo estilo de vida focado em saúde e bem-estar, com demanda crescente por produtos mais saudáveis e sustentáveis. As marcas têm respondido a essa tendência com inovações que vão além da formulação de bebidas com menos açúcar e ingredientes naturais. Há um esforço contínuo em adotar práticas sustentáveis em toda a cadeia de produção.
“As tendências de consumo consciente estão desempenhando um papel crucial na inovação do mercado de bebidas não alcoólicas, à medida que os consumidores se tornam mais vigilantes quanto às informações nutricionais e exigem produtos com menos açúcar e ingredientes mais naturais. Essa busca crescente por qualidade e por produtos que ofereçam benefícios à saúde está moldando o desenvolvimento de novas bebidas, levando as empresas a focar em composições mais saudáveis e funcionais para atender às expectativas de um público cada vez mais informado e exigente”, explica Diego Albuquerque, diretor comercial do Grupo Asa Branca, que possui em seu portfólio bebidas não alcoólicas como sucos, refrigerantes e xaropes.
O aumento da demanda por bebidas sem álcool reflete uma tendência global de maior conscientização sobre os impactos do álcool na saúde, além de uma crescente busca por um estilo de vida equilibrado. As marcas estão investindo em pesquisas e desenvolvimento para criar produtos que não apenas substituam as bebidas alcoólicas tradicionais, mas que ofereçam novas experiências de sabor e funcionalidade.
Com opções como sucos, refrigerantes e xaropes em seu portfólio de bebidas não alcoólicas, o Grupo Asa Branca aposta na diversificação para atender ao mercado.
“A Asa Branca tem identificado uma mudança significativa no comportamento dos consumidores em relação às bebidas não alcoólicas, com mais suplementos nutricionais, como proteínas e eletrólitos. Esse movimento reflete uma demanda por produtos mais saudáveis e funcionais, o que está direcionando a empresa a ajustar sua estratégia de diversificação do mix de produtos, alinhando-se às tendências de mercado e fortalecendo sua posição competitiva”, destaca Diego.
A previsão é que o mercado de bebidas não alcoólicas continue em expansão. De acordo com estimativas da Mordor Intelligence, a Taxa de Crescimento Anual Composta (CAGR) deve alcançar crescimento entre 4,1% a 4,7% para o período 2023-2028.
As bebidas alternativas sem álcool estão se posicionando como uma tendência não apenas nacional, mas em todo o mundo. A expectativa é que esse segmento continue a atrair investimentos e inovação, reforçando sua presença tanto nas prateleiras quanto nas escolhas dos consumidores ao redor do mundo.