A série Trajetória em Traços avança para mais um capítulo. Dessa vez, apresentamos Pevê Azevedo, o ilustrador cearense que mora em São Paulo e tem como seu verdadeiro lar um universo onírico, repleto de inquietação.
Pevê Azevedo trabalhou por 10 anos em agências de publicidade e estúdios (FCB Brasil, PICT Studio, Bolero, Peppery) como diretor de arte e designer gráfico. Desde 2017 é ilustrador freelancer em tempo integral. Deixou o Ceará para ganhar o mundo, com residência na cidade de concreto chamada São Paulo. E lá foram ele e sua agitação criativa na mala colorir, dar forma, trazer vida ao cinza paulistano.
Pevê aposta em um momento ascendente para o segmento mesmo no contexto da pandemia. “Eu estava com medo de como ficaria o mercado, mas acho que os clientes entenderam bem o poder que a ilustração pode oferecer. Com as restrições de reunião de pessoas, o caminho mais natural foi a ilustração, já que é possível criar em home office e o resultado continua com a qualidade esperada. Além disso, acaba sendo menos caro contratar um estúdio ou um ilustrador que contratar toda uma equipe de produção, locação e afins”, diz. E foi exatamente nesse período de instabilidade no mercado que o ilustrador cearense conquistou um contrato para ser representado mundialmente por uma agência de ilustração de Londres.
Entre os trabalhos mais marcantes podemos destacar uma série de cartões postais bem provocativos para a agência Mullen Lowe, de Chicago. Ao invés de reforçar as belezas das cidades dos EUA, as ilustrações eram de massacres cometidos em cada lugar. A ação fazia parte de uma campanha a favor do desarmamento civil e ganhou alguns prêmios em 2021. Pevê ilustrou dois dos cartões.
Quando o assunto é processo criativo, Pevê mergulha em pesquisas e referências nos inúmeros boards no Pinterest e pastas no Instagram. “Mesmo quando não estou de fato ilustrando, sempre fico dando uma passada nessas referências e acabo absorvendo algumas coisas. Quando vou ilustrar, normalmente eu separo a parte do rascunho da parte da finalização. Imagino mais ou menos como quero a peça final e vou rascunhando de forma bem simples, basicamente as formas e composição. Depois dou uma lapidada no rascunho. Quando o rascunho já tá pronto pra finalizar, eu paro. Levanto, vou tomar um café, saio com a minha cachorra, assisto alguma coisa, deixo o rascunho e minha cabeça respirarem. Depois volto pra finalizar”, conta sobre sua rotina. Mas nem sempre foi assim. Pevê achava que deveria haver regras dentro do processo. “Se eu não seguisse o protocolo, o resultado final não ficaria bom”. Com a experiência, percebeu que fazer o que deixa o artista confortável é muito mais importante do que rituais de criação.
A única regra na ilustração é o treino. “Estude, treine, pratique, no outro dia, faça isso de novo. Acho que o mais importante é não desistir, porque não vai sair coisas legais no começo, mas com a prática as coisa vão ficando melhores. Não entre nessa buscando likes no Instagram. Faça por você, pra você ficar feliz com o resultado, o resto vai acabar vindo naturalmente”, conclui o artista.
Como é possível perceber, o mercado da comunicação é amplo e capaz de absorver talentos que se utilizam das mais diversas linguagens. Não há segredo para o sucesso no universo da ilustração, senão prática, persistência e paixão pelas artes visuais. O resto fica por conta da sensibilidade, que atravessa fronteiras e é capaz de dominar o mundo.