Na primeira parte do especial em alusão ao mês de prevenção ao suicídio, o Nosso Meio traz dados sobre a saúde mental dos trabalhadores brasileiros e dicas para melhorar os ambientes de trabalho
Lançada em 2015 e recorrente até hoje, a campanha Setembro Amarelo é uma iniciativa do Centro de Valorização à Vida (CVV), do Conselho Federal de Medicina (CMF) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) para a prevenção do suicídio, considerado um problema de saúde pública alarmante. De acordo com estudo recente da Fiocruz, a taxa de suicídio entre a população jovem do Brasil cresceu 6% ao ano entre 2011 e 2022. Além disso, estudos ao redor do mundo, como os realizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), apontam o aumento significativo de problemas de saúde mental como depressão e ansiedade.
A psicanalista e vice-presidente do Instituto Revoar, Elaine de Tomy, destaca que essa realidade é resultado de uma combinação complexa de fatores sociais, econômicos e tecnológicos, incluindo a crescente pressão acadêmica e profissional as quais a população mais jovem é submetida.
“A competitividade no mercado de trabalho e a exigência de excelência em todas as áreas criam um ambiente de estresse constante. Muitos jovens se sentem sobrecarregados, sem o suporte emocional necessário para lidar com tantas demandas”, afirma.
Estudos recentes já comprovam que fatores internos e externos ao trabalho impactam significativamente na saúde mental de um indivíduo. O estudo de 2020, “Vigilância em Saúde do Trabalhador: o suicídio relacionado ao trabalho”, realizado por estudantes da área da saúde da Universidade de São Paulo (USP), apontou que, além da depressão (19,3%), assédio moral/bullying (16,1%), ausência de lazer (12,9%), estresse (9,6%), sobrecarga profissional (9,6%), acidentes no trabalho (9,6%), Síndrome de Burnout (6,4%); isolamento social (6,4%), conflitos entre a família e o trabalho (6,4%) e a falta de autonomia no trabalho (3,2%) são fatores que contribuem para a incidência de idealizações suicidas.
Síndrome de Burnout
Em relação a Síndrome de Burnout, apontada no estudo, os dados recentes preocupam. Segundo Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), a enfermidade acomete 30% dos trabalhadores brasileiros. Além disso, o país é o segundo no ranking mundial da International Stress Management Association (ISMA-BR), perdendo apenas para o Japão.
A Síndrome de Burnout, também chamada de Síndrome do Esgotamento Profissional, é uma doença ocupacional reconhecida pela OMS, caracterizada pela exaustão física e emocional. Os sintomas podem incluir crises de enxaqueca, gastrite, estresse, ansiedade e depressão. De acordo com o psicólogo Vagner Vinicius Morais de Araújo, da rede de clínicas AmorSaúde, a primeira ação após a confirmação do Síndrome de Burnout deve ser buscar apoio especializado.
“É importante procurar apoio, seja através de terapia com um psicólogo especializado ou orientação médica. Esse apoio pode ajudar a pessoa a desenvolver estratégias para lidar com o estresse e se reestruturar emocionalmente”, explica.
O tratamento da Síndrome de Burnout pode envolver diferentes abordagens terapêuticas. Segundo Vagner, a Psicoterapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma das mais eficazes, pois ajuda a identificar e modificar padrões de pensamento negativos e comportamentos que contribuem para o estresse, ensinando técnicas de enfrentamento e habilidades para lidar com situações difíceis. Outras abordagens, como a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) e as práticas de mindfulness, também têm se mostrado eficazes na recuperação.
“Práticas como a meditação podem ajudar a reduzir o estresse e a ansiedade, promovendo uma maior consciência do momento presente e uma resposta mais calma a situações estressantes”, explica.
Caminhos para o bem-estar
Com as discussões sobre saúde mental sendo mais frequentes dentro dos ambientes corporativos, as empresas também se mobilizam para proporcionar mais conforto aos seus colaboradores. De acordo com a gerente das áreas comercial e de serviços da Vetor Editora, Anna Maria Buccino, a mudança de cenário também reflete na cultura das organizações para criar espaços mais humanizados de trabalho. Para isso, a profissional destaca três iniciativas que podem ser incluídas nas agendas dos gestores:
- 1. Oferecer apoio psicológico;
- 2. Incentivo constante aos cuidados com saúde mental;
- 3. Incentivo ao desenvolvimento profissional com ações de aprendizado.
“Precisamos que os gestores e RHs olhem para o tema de forma mais ampla e coloquem o profissional no centro. Já não cabe mais só estimular a busca pelo bem-estar emocional, é necessário ter pessoas e serviços dedicados a isso”, reforça Anna Maria Buccino.
Se precisar, busque ajuda
Ações em prol da saúde mental e preservação da vida existem para além do Setembro Amarelo. Se sentir que precisa de ajuda, recorra a alguém que você possa confiar ou a unidade de saúde mais próxima.
Além disso, o Centro de Valorização a Vida (CVV) está disponível 24 horas, no número 188. Os atendimentos também podem ser feitos por e-mail, chat ou na unidade mais próxima de você. Confira mais informações no site oficial do CVV, disponível em: cvv.org.br.