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Não há imprensa sem liberdade. Aquela que nos informa, atualiza e nos faz melhores, não, não há. Condição fundamental para uma sociedade consciente e crítica, a imprensa é um pilar estruturante da vida contemporânea. Seu papel na consolidação da democracia, regime político também fundado na liberdade é inegociável. Imprensa é a expressão que usamos para designar os meios de comunicação informativa, centrados na missão de fazer saber.
A palavra tem sua origem na prensa móvel, processo gráfico desenvolvido por Gutenberg, ainda no século XV. De lá para cá, muita coisa mudou, do imprenso a galáxia digital, a informação continua sendo pulsão de vida, um caminho para ampliação da consciência e para o conhecimento. A questão central que movia e move o jornalismo continua sendo a mesma, o desejo e a necessidade que nós humanos temos de informação; queremos e precisamos estar informados para termos melhores condições de sobrevivência, para nos protegermos, para nos desenvolvermos, para tomarmos as melhores decisões, nos entretermos e para evoluirmos como seres sociais em diálogo constante com o outro.
A curiosidade é um grande estimulador da imprensa e do jornalismo tanto na produção, quanto no consumo. O consumo midiático se sustenta na capacidade de atração e relevância do conteúdo ofertado. Na produção, a curiosidade é o motor propulsor da pesquisa que deve sempre embasar uma boa matéria, um excepcional conteúdo – tanto a pesquisa teórica, em dados secundários, quanto a pesquisa empírica, o campo, a joia do jornalismo.
E para esses movimentos, nem sempre tranquilos, porque há situações onde a informação e até mesmo o fato se oculta, dissimula ou apaga, é preciso de liberdade. De pensar, de ouvir, de escrever, de gravar, de registrar e de divulgar, sem quaisquer constrangimentos. Nessas buscas, sínteses e publicações é que as possibilidades e complexidades do cotidiano se apresentam, com isenção, para que o outro, autonomamente construa sua própria perspectiva. A qualidade da informação é o compromisso com a qualidade e a generosidade do jornalista para com seus leitores.
Só com liberdade é possível colocar em diálogo nossas diferenças, que mais do que nos distinguir, fazem com que tenhamos que nos abrir ao outro, ouvir e se posicionar, avançar e reavaliar, sempre na busca de conciliações, compreensões mais abrangentes e inclusivas e também consensos. Poder se expressar livremente é um direito de cada um de nós, emitir opiniões, manifestar ideias, expressar atividades intelectuais, científicas ou artísticas, sem interferências ou retaliações.
Mas, em uma democracia jovem e falha como a nossa, esse direito não tem sido garantido, ainda mais nos últimos anos. Não podemos aceitar esta condição de vida submetida, sigamos convictos para o restabelecimento da única possibilidade de vida com sentido, o exercício pleno da liberdade.
Por Clotilde Perez
Professora universitária, pesquisadora, consultora e colunista brasileira, é titular de semiótica e publicidade da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo, concentrando seus estudos nas áreas da semiótica, comunicação, consumo e sociedade contemporânea. Ela é fundadora da Casa Semio, primeiro e único instituto de pesquisa de mercado voltado à semiótica no Brasil, já tendo prestado consultoria nessa área para grandes empresas nacionais e internacionais, conjugando o pensamento científico às práticas de mercado. Ela apresenta palestras e seminários no Brasil e no mundo sobre semiótica, suas aplicações no mercado e diversos recortes temáticos em uma perspectiva latino-americana e brasileira em diálogo com os grandes movimentos globais.