Socius: Companheiro

Por Kochav Koren

27/06/2023 10h00

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Curto e grosso é o seu sentido primeiro. Fina e longa é a dicção em português. Rompe-se quando não o tem. Reclamo sobre a parte de sua metade, que nas Figuras de interação, acompanha, faz companhia ou vai na companhia. O último é um pet. O primeiro ou o segundo, aquele ou aquela que participa de suas ocupações, atividades, aventuras. Destina-se a ser seu. Também sua. Homem ou mulher de sua relação. Interlocutor pessoal, kochav de Israel ou najem de Meca. Digo, estrela binária, componente invisível, detectável, sem embrago, pelos movimentos de confiança das ações visíveis. Sócio em uma embarcação. Antonímia de adversário, conforme Houaiss.

Deriva de companha, que são grupos de pessoas que seguem juntas rumo à estrela. Faz-se coletivamente, por grupo de pessoas montadas e a pé, que acompanham alguém em uma jornada ou nas montarias. Salve as montarias que tocam, que sentem a alma. As vivi em Quixadá, quando vislumbrei a primeira Kochav (estrela) na terra dos monólitos, a Rainha do sertão central.

Na Capoeira, a roda de interação na qual o framework Figuras se torna empírico torna-se verbo: comparecer. Ao som que o chama no ato de mostrar-se, estar presente, existir. Nas mandingas efetua-se, nas gingas realiza-se. As ancoragens de chamada à roda preparam-se, aprestam-se, aprontam-se quando todos os outros integrantes estão em ordem. Intransitivamente, edifica-se a ordem de interação dos companheiros.

Ante a tela de interação, no jogo de metáforas e símiles das experiências da esquina, a Figura do Socius é o ator que acompanha, que vai junto. Daí, sua percepção tangencia a interpretação de associado, em comum, unido, aliado, confederado. Também pode ser auxiliar, protetor, companheiro, colega de negócios. Nem tudo sendo “mar de rosas”, há elasticidades entre estas figuras-atores. A televisão brasileira já retratou os dramas dos Socius. Se vivenciaste experiências nos anos 1990, certamente te lembrarás delas. Socius rememora Samuel Blaustein (interpretado por Marcos Plonka) e Salim Muchiba (figurado por João Elias) da Escolinha do Professor Raimundo. Viva o cearense Anysio! Os conflitos dos Socius são palpáveis.

Explico:

Ritmo (Keys/keyings): Instante primeiro do amor, encantamento face às funcionalidades do aplicativo ou seu completo rompimento. UX, preservem o primeiro tom. Evitem a paixão pela cocriação tech e vivenciem a construção concreta das ações que resolvem os problemas reais dos usuários envolvidos.

Ginga (Laminations): A preparação para a entrada em jogo (ginga) do Socius é sedutora. A troca simbólica é única no início, original, e constante se figuras cativas. Em um app conversacional, o Socius, ator-usuário, segue os links encaminhados, ainda que não os compreenda primeiramente.

Compra de jogo (Anchorages): Após alcançar a sintonia temporal, os Socius, enquanto atores interagindo, seguem níveis equilibrados de movimentos. Esses movimentos mesclam o movimento retilíneo com o não retilíneo uniforme, este último marcado por variações na velocidade ao longo do tempo e mutações de direção do movimento. A ginga dos Socius envolve uma velocidade devotada e um deslocamento linear em uma única direção, sem alterações no curso, após as ancoragens e engate do movimento não retilíneo uniforme.

Mandinga (Fabrications): Quando Socius são balança, as mandingas são raras. Enquanto ator-usuário, o Socius se adapta mesmo sem compreender o contexto que o envolve. Assim, é esperada uma alta incidência de risos, pontuações e números. Estas se anulam quando os Socius se esposam.

Ao final de um Socius, um outro se encontra à espera, sem embargo, apenas quando compreendida a magia que seu toque revela. Um acerto de vida, na vida. 

Fernando Koren Nobre

Cientista da mídia e etnógrafo de produtos digitais. Pesquisador visitante do Zentrum für Medien- Kommunikations- und Informationsforschung (ZeMKI) da Universidade de Bremen na Alemanha (2022) e Max Kade German-American Center da Universidade de Kansas (2018). Graduado em Publicidade pela Escola Superior de Propaganda em Marketing, mestre em Sociologia e doutor em Estudos da Mídia. Possui mais de dez anos de experiência em pesquisa e oito anos em docência. Inventor do software Qualichat, desenvolvido em seu pós-doutoramento na UNICAMP, entre 2020 e 2022. Fundador do Ernest Manheim Laboratório de Opinião Pública.

Kochav Nobre
Auditor de pesquisa na Ernest & Young
Kochav Nobre é auditor em pesquisa na Ernst & Young (EY). Professor designado na Universidade do Estado de Minas Gerais. Pesquisador visitante do Zentrum für Medien- Kommunikations- und Informationsforschung (ZeMKI) da Universidade de Bremen na Alemanha (2022) e Max Kade German-American Center da Universidade de Kansas (2018). Graduado em Publicidade pela Escola Superior de Propaganda em Marketing, mestre em Sociologia e doutor em Estudos da Mídia.Possui mais de dez anos de experiência em pesquisa e oito anos em docência. Inventor do software Qualichat, desenvolvido em seu pós-doutoramento na UNICAMP, entre 2020 e 2022. Fundador do Ernest Manheim Laboratório de Opinião Pública.