Em uma edição passada do SXSW, o israelense Yuval Harari constatou que tudo o que conhecemos, nos chega através de histórias – provavelmente alguns dos melhores professores que já teve são bons contadores de histórias! Rapidamente entendemos que histórias promovem e são criadas pelas conexões entre pessoas, que quanto mais amplas e diversas, maior criatividade e inovação tendem a movimentar na sequência da narrativa do mundo. Não à toa, ouvimos desde sempre e tanto sobre STORYTELLING, que mais uma vez marca presença no SXSW em 2023.
Entre as primeiras e principais atrações do evento, aparece o presidente dos Parques e Experiências da Disney, Josh D’Amaro, que trata dos negócios da companhia relacionados a viagem e lazer globalmente (EUA, Europa e Ásia) – aliás, a pauta de turismo também é chave nesta edição do SXSW, assim como transportes, sem falar nas viagens no tempo e no espaço através das múltiplas camadas da era digital! D’Amaro, que só pela sua jornada na empresa desde 1998 já deve ter boas histórias para contar, apresentará “A arte e a ciência de contar histórias nos parques Disney”, prometendo compartilhar uma fórmula para criar felicidade.
É inquestionável o poder da Disney de criar histórias e elevá-las a um nível experiencial e relacional, embasadas na inteligência de conexão e formação de rede. E isso acontece não somente no que diz sobre a oferta, mas também do ponto de vista da estratégia do negócio – o que justifica, em boa parte, a manutenção da contemporaneidade da companhia e de seus produtos. Observe como diversas histórias da Disney seguem vivas e ampliando suas narrativas centrais ao longo do tempo, se desdobrando como redes, por exemplo através de spin-offs, que trazem histórias paralelas e complementares, como as que tornam protagonista o personagem coadjuvante. Da mesma forma, note como a companhia se estrutura como um ecossistema de negócios, através do qual suas narrativas e membros – fãs que não conseguimos nem chamar de “consumidores” – fluem em jornadas não-lineares que abrangem parques, hotéis, restaurantes, lojas e outros formatos.
Vemos esta mesma fluidez dentro de cada um destes negócios, como nas passagens entre as atrações e as lojas carregadas de storytelling nos shoppings da Disney, que apesar de terem mais lojas do que brinquedos, chamamos de parques – sim, esta é uma provocação para o varejo: precisamos criar mais pontes com outros universos, como as artes e o entretenimento, capazes de aprofundar narrativas e ofertas, torná-las mais autenticas, multisensoriais e dimensionais, abrindo camadas que expandem o potencial criativo e as faces de engajamento. Este princípio também
deve ser explorado em um outro painel desta edição do SXSW, que discutirá “Brand Mysticism”, fazendo referência a marcas virais que retêm e fidelizam públicos. Sim, tem tudo a ver com a, tão famosa quanto o “storytelling”, “cultura de comunidade” e existe a expectativa de que Josh D’Amaro esbarre neste tema ao falar sobre a fórmula da felicidade da Disney, que soma arte e ciência.
Mas a verdade, é que este namoro entre arte e ciência é de longa data. Apesar de muito em voga neste momento de busca pela conscientização dos paralelos e intersecções entre razão e emoção, se abrirmos espaço para uma das provocações centrais desta edição do SXSW, a exploração da ancestralidade, podemos extrair bons insights de quem já narrou nossa história lá atrás. Nas paredes do museu ArtScience, em Singapura, uma frase de Leonardo da Vinci diz mais ou menos o seguinte “Estude a ciência da arte. Estude a arte da ciência. Desenvolva os seus sentidos, principalmente a visão. Perceba como tudo está conectado”.
Esta inteligência de conexão que artistas resgatam na inspiração que tiram da natureza – na qual tudo se conecta em perfeita sincronia – e cientistas exploram em conceitos como a mecânica quântica, é a mesma que profissionais de tecnologia adotam na criação de sistemas e de redes sociais que conectam pessoas. Também é a mesma lógica da Economia da Paixão, que sustenta as próprias conexões e relacionamentos como moeda da Era Digital, e parece dizer muito sobre as estratégias que consolidam a Disney como uma marca plataforma de narrativas que conectam comunidades de forma sustentada e crescente.
Sempre existe a alerta “quem vê cara, não vê coração” quando iniciamos a imersão no SXSW estudando a programação, já que algumas vezes títulos e descrições são rótulos vazios. Ainda assim, já que o tema é Disney, existe magia e ludicidade em já poder aprofundar reflexões antes mesmo de chegar a uma atração, o que vale para quem acompanha o festival através de coberturas ou pessoalmente, on ou offline – vale a pena e fica o convite: amplie as suas conexões!
Paula Costa
Comunicóloga formada em Publicidade e Gestão de Varejo pela graduação e MBA da ESPM, com especializações complementares em inteligência de mercado, pesquisa, antropologia, futurismo e inovação e passagem por instituições globais como Hyper Island e Tel Aviv University. Baseada na Europa, transita por diferentes países e eventos de arte, design, tecnologia, inovação, negócios e varejo, realizando curadoria de comportamentos, movimentos e tendências, que se fazem insumos dos insights que compartilha em grupos globais de inovação, como LinkedIn Creator e apoiadora do Fashion Revolution Brasil, além de aulas de Pós Graduação e MBA de instituições como a ESPM, palestras, workshops, mentorias e consultorias de tendências, inteligência estratégica e inovação, baseada na visão da Economia da Paixão – tema do livro de sua co-autoria.