10ª edição

Varejo: Por trás das prateleiras

Por Redação

12/12/2023 09h00

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Como a indústria impulsiona o varejo, pensa nele e contribui para seu crescimento.

Na intrincada sinfonia da economia brasileira, a relação simbiótica entre a indústria e o varejo desempenha um papel crucial, entrelaçando-se em uma dança de crescimento e desenvolvimento. Dados divulgados no último Perfil da Indústria Brasileira, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), lançam luz sobre a magnitude da contribuição da indústria para o panorama econômico nacional. Em 2022, esse setor respondeu por 23,9% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, solidificando-se como uma força motriz fundamental para o país.

O impacto da indústria, no entanto, se estende além das linhas de produção, reverberando nos cofres públicos por meio de tributos e na dinâmica do emprego no país. No mesmo ano, foi responsável por 37,9% da arrecadação de tributos federais e contribuiu com substanciais 25,3% para a arrecadação previdenciária. Além disso, os números impressionantes de empregabilidade enfatizam sua relevância social, com a indústria empregando diretamente 10,3 milhões de brasileiros.

Contudo, essa sinfonia econômica não se restringe ao setor em si. O varejo, como uma peça fundamental dessa composição, desempenha um papel igualmente significativo, impulsionando a economia brasileira. Segundo o estudo “O Papel do Varejo na Economia Brasileira”, conduzido pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), o Varejo Restrito experimentou uma expansão nominal de 7,7% no ano passado, e deve consolidar meta semelhante no início de 2024, movimentando R$ 2,14 trilhões e representando 21,6% do PIB nacional.

Ao expandir o escopo para o Varejo Ampliado, que abrange automóveis e materiais de construção, testemunhamos um avanço ainda mais expressivo de 8,4%, totalizando R$ 2,61 trilhões e correspondendo a 26,4% do PIB. Esse segmento do varejo não apenas reflete, mas também impulsiona as dinâmicas econômicas, conferindo vitalidade ao cenário comercial do país.

Somados, os dois setores representam aproximadamente a metade de todo o Produto Interno Bruto, ou seja, 50% da economia nacional está baseada na relação profunda e interdependente entre indústria e varejo.

Indústria como Arquiteta do Varejo

Em meio às engrenagens do mercado, a indústria emerge como uma projetista do cenário de vendas, influenciando dinâmicas, moldando experiências e impulsionando o crescimento do varejo, por meio de pesquisas, investimentos e produção de produtos que atendam às antigas e novas demandas. No epicentro desse movimento, a J.Macêdo, líder no mercado de farinha de trigo, mistura para bolo e segunda colocada em massas, cumpre papel que vai além da produção de alimentos e se estende ao fomento e à evolução do varejo de alimentos.

Andréia Fukuda, gerente-executiva de Marketing, Trade e P&D da J.Macêdo, relata a necessidade de uma parceria estratégica entre indústrias e varejos alimentícios, acelerando o setor com soluções centradas no consumidor.

“A J.Macêdo possui uma área de Trade Marketing dedicada a propor soluções e fornecer informações para os varejistas. Identificamos dados relevantes do ponto de vista dos consumidores e desenhamos estratégias regionais segmentadas para diversos canais de vendas”, destaca a gestora. Essa abordagem personalizada, segundo ela, permite uma aproximação eficaz com os varejistas, fortalecendo marcas e produtos, numa relação de ganha-ganha.

A diversificação do portfólio, ou seja, dos produtos disponíveis nas gôndolas, também se destaca como um ponto-chave nessa sinergia entre setores. “Durante a jornada de compra, o consumidor visita diversos perfis de varejo, e cada ponto de venda tem sua missão. Os consumidores esperam encontrar propostas diferentes dos produtos. Isso abre um horizonte de expansão de marcas e produtos por canal e região”, detalha.

Esse movimento de diversificação é respaldado por dados da BrandFoot Print 2023, uma pesquisa da Kantar, que revela que o consumidor brasileiro incluiu, em média, três novas marcas em sua rotina de compras. Essa tendência reflete a dinâmica do mercado, onde a combinação de mais de oito canais diferentes de vendas representa expressivos 46% do faturamento das 50 principais marcas brasileiras.

Ainda para Andréia Fukuda, a regionalização é um pilar estratégico da atuação da J.Macêdo e de qualquer outra empresa de cujas operações acontecem em todo o Brasil, tendo como cerne um pensamento descentralizador. “A configuração das categorias em que atuamos é baseada na regionalização. Cada região e/ou estado possui marcas consolidadas”. Esse modelo operacional, dividido por unidades de negócios especializadas localmente, permite que as empresas estejam mais próximas dos clientes, atendendo às particularidades de cada realidade.

Oferta, Demanda e Marketing

Todas essas relações, porém, não perdem a essência do mercado capitalista, norteado por leis novas e antigas, como o cálculo de oferta e demanda. Neste sentido, outras grandes do cenário industrial brasileiro investem em capacidade de produção para criar condições melhores de concorrência, visando aumentar o resultado final de vendas, fato este que beneficia toda a cadeia, inclusive o varejista.

Exemplo deste movimento expansionista é a CIMED, uma gigante do setor farmacêutico. A vice-presidente da empresa, Karla Felmanas, destaca a recente inauguração de uma fábrica em Minas Gerais, a qual deve produzir produtos disponibilizados em todo o país. “A nova fábrica é dedicada aos sólidos orais, especialmente genéricos. Com a nova operação, a expectativa é aumentar a capacidade produtiva dessa categoria em até 35%, chegando a 60 milhões de unidades. Esse aumento de volume beneficia o varejo farmacêutico, pois conseguiremos atender a uma demanda mais alta em um período menor de tempo”.

Ainda de acordo com Karla, todo o processo de produção e vendas passa, majoritariamente, por uma estratégia de marketing. A CIMED traz consigo grandes cases de sucesso, como o lançamento do Carmed e o patrocínio às seleções brasileiras de futebol, que não são apenas sobre publicidade; são uma tática que busca impactar diretamente os pontos de venda. “Visamos gerar demanda entre os consumidores, beneficiando diretamente o varejo farmacêutico, que é o canal exclusivo onde nossos produtos estão disponíveis”, relata.

Dessa forma, essas estratégias marcam uma distribuição nacional para mais de 70 mil pontos de venda, consolidando uma presença em 98% das farmácias brasileiras.

Nordeste em Foco

Ao explorarmos a dinâmica entre a indústria e o varejo, é essencial destacar o papel vital desempenhado por regiões específicas. Neste contexto, o Nordeste se destaca como uma força propulsora de inovação e lançamento de produtos, revelando uma dinâmica ímpar no cenário nacional.

Os indicadores da Associação Brasileira de Automação (GS1 Brasil) sinalizam um panorama promissor para a região. De acordo com o Índice de Atividade Industrial, que avalia a intenção da indústria de transformação em lançar novos produtos, a confiança no Nordeste permanece em crescimento constante.

Virgínia Vaamonde, CEO da GS1 Brasil, enfatiza que esses resultados não apenas refletem o fortalecimento da indústria ao longo de 2023, mas também apontam para potenciais benefícios ao varejo. “Este resultado indica claramente o fortalecimento da indústria ao longo de 2023, um processo que pode beneficiar ainda mais as vendas”, destaca.

Esse cenário revela um Nordeste que não apenas consolida sua presença econômica, mas também se destaca como um terreno fértil para a introdução de novidades. A intenção crescente da indústria em lançar produtos na região promete injetar dinamismo e diversidade nas prateleiras do varejo, proporcionando aos consumidores uma experiência enriquecida por novas opções e escolhas.

O Futuro em Números

À medida que exploramos a relação entre indústria e varejo, lançamos nosso olhar para o horizonte futuro, onde esses dois setores continuam a evoluir e se entrelaçam em uma simbiose muito positiva para a economia global. Projeções baseadas em dados sólidos delineiam um panorama dinâmico para os próximos anos.

De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em 2022, o varejo representou 10,6% do PIB global, enquanto a indústria manteve uma fatia significativamente maior, contribuindo com 26,6%. As expectativas do Goldman Sachs para 2023 e 2024 sugerem um aumento no papel do varejo, alcançando 11,1% e 11,6% do PIB global, respectivamente. Enquanto isso, a indústria, embora mantenha sua importância, pode ver uma ligeira diminuição, representando 26,3% em 2023 e 26,1% em 2024.

Em termos de receita, o varejo e a indústria continuam a ser gigantes econômicos. Em 2022, o varejo gerou cerca de US$ 22 trilhões, enquanto a indústria mais que dobrou esse número, atingindo cerca de US$ 45 trilhões. As projeções da Euromonitor International indicam uma ascensão constante, com o varejo esperando gerar US$ 24 trilhões em 2023 e US$ 26 trilhões em 2024, e a indústria vislumbrando alcançar US$ 50 trilhões em 2023 e US$ 55 trilhões em 2024.

O cenário do varejo está sendo moldado por várias tendências, refletindo mudanças no comportamento do consumidor e avanços tecnológicos. O comércio online, que representava cerca de 15% do varejo global em 2022, está em ascensão, com expectativas de atingir 17% em 2023 e 19% em 2024. O comércio omnichannel, que integra canais online e offline, também ganha destaque, projetando-se para representar 30% do varejo global em 2023 e 35% em 2024. Além disso, o varejo personalizado está em crescimento, com expectativas de representar 10% do varejo global em 2023 e 12% em 2024.

Em síntese, o varejo e a indústria permanecem intrinsecamente interligados, influenciando e sendo influenciados, em uma relação econômica contínua. As projeções para o futuro apontam para uma colaboração ainda mais estreita, impulsionada por fatores como tecnologia, mudanças nas preferências do consumidor e desafios globais. O varejo, reflexo da indústria, e vice-versa, continuará a moldar e ser moldado pela evolução constante desses dois pilares fundamentais da economia mundial.