O Nosso Meio traz uma conversa exclusiva com André Curvello, diretor de Comunicação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que, após liderar a comunicação do governo da Bahia, enfrenta o desafio de fortalecer a imagem institucional de um setor estratégico para a economia brasileira.
Com uma visão estratégica sobre as diferenças entre a comunicação pública e a corporativa, Curvello destaca o papel da credibilidade e transparência como pilares fundamentais, seja para engajar a sociedade, dialogar com stakeholders ou combater a desinformação. Em um contexto de transformações digitais, ele compartilha como a CNI inova na comunicação, utilizando dados, narrativas contemporâneas e novas tecnologias para fortalecer a relevância da indústria.
Ao longo da entrevista, Curvello explora tendências e desafios da comunicação digital, ressaltando a importância de respostas ágeis e precisas em momentos críticos. Ele também aborda estratégias da CNI para alinhar transparência, inovação e engajamento, consolidando a indústria como um pilar essencial para o desenvolvimento do Brasil. Confira:
NOSSO MEIO | Você liderou a comunicação do governo da Bahia por anos e agora está à frente da comunicação da CNI. Quais as principais diferenças entre gerir a comunicação pública e a comunicação institucional de um setor estratégico como a indústria?
André Curvello: É verdade que são universos distintos, mas ambos exigem a comunicação estratégica como premissa, que seja transparente e conectada com diferentes públicos. A principal diferença entre a comunicação pública e a comunicação institucional do setor industrial está nos objetivos e na dinâmica das interações com a sociedade.
No governo, a comunicação tem um viés essencialmente de interesse público. É preciso traduzir políticas, programas e decisões de forma acessível e clara para a população, de forma a garantir prestação de contas e estimular a participação cidadã. O desafio está na pluralidade dos públicos e no alto nível de exigência das cobranças tanto da opinião pública quanto da mídia.
Já na comunicação corporativa, o foco é a representatividade institucional e a defesa de pautas estratégicas para o desenvolvimento do setor, no caso, do setor industrial. Trata-se de um trabalho de posicionamento, que visa fortalecer a imagem da indústria, demonstrar sua relevância para a economia e o desenvolvimento do país, e a sociedade, além de dialogar com diferentes stakeholders – governo, empresários, trabalhadores, imprensa e opinião pública. Aqui, a construção de reputação e a gestão de narrativas de longo prazo são fundamentais, assim como a antecipação de tendências e desafios regulatórios.
Agora, é importante dizer que tanto na comunicação pública quanto na corporativa, a credibilidade é o maior ativo. Para isso, a comunicação precisa ser autêntica, baseada em dados e alinhada aos interesses da sociedade.
NOSSO MEIO | Como a CNI tem trabalhado a construção de marca e reputação da indústria brasileira, especialmente em um cenário de transformações digitais e novas demandas sociais?
André Curvello: A Diretoria de Comunicação da CNI tem como missão posicionar a indústria como pilar essencial do desenvolvimento econômico e social do Brasil, destacando sua capacidade de inovação, sustentabilidade, formação de mão de obra, criação de emprego e renda.
No contexto das transformações digitais, adotamos estratégias baseadas em dados para ampliar nosso alcance e a conexão com diferentes públicos. Nossos canais institucionais são alimentados com conteúdo segmentado e personalizado para empresários, formuladores de políticas públicas, consumidores e a sociedade em geral. Também exploramos novas narrativas e formatos, como material multimídia, vídeos, podcasts, campanhas institucionais e transmissões ao vivo, para aproximar a indústria da população.
Outro eixo fundamental é a transparência e o diálogo, para fortalecer a percepção da indústria como um setor responsável e comprometido com o desenvolvimento sustentável. Por isso, damos destaque a temas como inovação, economia circular e responsabilidade social corporativa, alinhando a imagem da indústria às expectativas da nova economia.
Dessa forma, seguiremos investindo em estratégias modernas e eficazes para garantir que a indústria brasileira seja reconhecida por sua força, inovação e impacto positivo na sociedade.
NOSSO MEIO | Nos dias de hoje, a comunicação digital tem se tornado essencial, mas também mais vulnerável a crises. Como você vê a evolução da comunicação, especialmente em relação à rapidez e à transparência das respostas em momentos críticos?
André Curvello: A comunicação digital evoluiu exponencialmente nos últimos anos, tornando-se essencial para marcas e empresas. Hoje, a velocidade da informação e a transparência são tão importantes quanto as mensagens-chaves. A instantaneidade das redes sociais e dos meios digitais exige que as organizações sejam proativas e bem estruturadas para responder a crises com agilidade e credibilidade.
O grande desafio está no equilíbrio entre rapidez e precisão. Se antes as empresas tinham horas ou até dias para preparar um comunicado oficial, hoje o tempo de resposta precisa ser quase imediato, sem comprometer a veracidade da mensagem. Isso reforça a necessidade de um planejamento estratégico sólido, com processos bem estabelecidos e equipes capacitadas.
A transparência tem valor inegociável. O público não aceita discursos evasivos ou respostas genéricas; por isso, precisamos nos apresentar com posicionamentos diretos e, acima de tudo, coerentes com os valores da instituição.
A evolução da comunicação digital não é apenas sobre tecnologia, mas sobre cultura organizacional. As marcas que melhor se adaptam são aquelas que entendem que a comunicação não é apenas reativa, mas parte de uma construção contínua de relacionamento e credibilidade.
NOSSO MEIO | Como você vê a importância da comunicação nesse processo de construção de uma imagem institucional sólida, que gere confiança tanto para o setor empresarial quanto para a sociedade?
André Curvello: A comunicação é o alicerce para construir uma imagem institucional sólida e confiável. Em um cenário onde empresas e instituições são observadas e cobradas constantemente por seus posicionamentos e ações, a forma de comunicar é determinante para a reputação.
Uma comunicação eficaz trata de transmitir valores, propósitos e compromissos de maneira autêntica, transparente e coerente. Quem consegue estabelecer um diálogo consistente com seus públicos – sejam clientes, investidores, funcionários ou a sociedade em geral – constrói um capital reputacional valioso, que se reflete diretamente na confiança e na credibilidade.
Cada vez mais, a comunicação precisa ser relacional. O público espera proximidade, acessibilidade e, acima de tudo, coerência entre discurso e prática. A missão primordial é conseguir alinhar a comunicação às ações e, assim, fortalecer a imagem, ser referência e construir um legado duradouro de confiança.
NOSSO MEIO | Quais você considera serem os maiores desafios para a comunicação institucional, especialmente no setor industrial, e como a CNI está se preparando para enfrentá-los? Quais insights você pode compartilhar sobre as tendências e estratégias que os gestores de comunicação e empresas devem estar atentos para se manterem relevantes?
André Curvello: Entre os principais desafios, eu destacaria a necessidade de traduzir temas complexos para diferentes públicos, o combate à desinformação e a construção de um diálogo mais próximo e humanizado.
A CNI tem se preparado para esses desafios investindo em uma comunicação estratégica, baseada em dados, acessibilidade e agilidade. Além de informar, trabalhamos para engajar e fortalecer a percepção do setor industrial como um agente essencial para o desenvolvimento do país.
Em termos de tendências e estratégias, os gestores de comunicação e empresas industriais devem estar atentos a alguns pontos. O primeiro é a digitalização da comunicação, com o uso de inteligência artificial, automação e análise de dados para segmentação de público e personalização de conteúdo. O segundo é a valorização da comunicação institucional como um vetor de reputação, garantindo transparência e consistência em todas as interações. O terceiro é o fortalecimento de estratégias de engajamento, que envolvem iniciativas como advocacy digital, relacionamento com influenciadores e participação em debates de interesse público.
O ambiente da comunicação institucional está e sempre estará em evolução. Quem se adaptar mais rapidamente, mantendo a autenticidade e o foco na construção da confiança, é quem vai conseguir se destacar e se manter relevante a longo prazo.