Análise

Carrefour encerra operações no Ceará: especialista indica desafios do mercado local

Publicado em

15/01/2024 16h35

Compartilhe
  • Whatsapp
  • Linkedin

O consultor e sócio da PWR Gestão, Miguel Dyna, fez uma análise sobre os motivos que levaram à decisão do Carrefour

O Carrefour, uma das marcas globais mais reconhecidas no setor varejista, anuncia o encerramento de suas operações no estado do Ceará a partir de 2024. As lojas localizadas nos bairros de Maraponga e Fátima, em Fortaleza, passarão por uma conversão para a bandeira Atacadão, enquanto a unidade da Washington Soares será transformada em um Sam’s Club. A mudança está programada para ser concluída até o final de janeiro do próximo ano.

A informação foi obtida pelo Diário do Nordeste por meio de fontes internas e funcionários do hipermercado. Com a saída do Carrefour, a única unidade que não será convertida em outra bandeira do Grupo Carrefour é a da avenida Bezerra de Menezes, no bairro Farias Brito. Essa loja, inaugurada em dezembro de 2022, será fechada em 31 de janeiro.

O consultor e sócio da PWR Gestão, Miguel Dyna, fez uma análise sobre os motivos que levaram à decisão do Carrefour e os desafios enfrentados pelo mercado varejista em geral. Dyna destacou duas grandes ameaças enfrentadas pelo setor, sendo uma delas a crescente aderência da tecnologia para o consumo, com ferramentas online como WhatsApp e iFood, automatizando o processo de compras.

“A aderência da tecnologia para o consumo tem deixado de ser aquele processo de ir até um supermercado. O que isso gera no mercado local é a possibilidade de outros entrantes que têm uma estratégia muito mais agressiva de preço, como Atacadão, Sam’s Club, entre outros”, ressaltou Dyna.

A primeira delas é a crescente aderência da tecnologia para o consumo. O comportamento do consumidor tem se automatizado cada vez mais através de ferramentas online, como WhatsApp e iFood, o que impacta diretamente a forma tradicional de compras em supermercados e hipermercados.

A segunda ameaça é a própria competitividade do mercado varejista, que tem mostrado resultados desafiadores nos últimos períodos. Empresas que não se adaptaram a essas mudanças tendem a deixar suas operações. 

O consultor também mencionou que o Carrefour não teve uma aderência eficaz em termos de comportamento e apego com o público cearense, ao contrário de outras marcas locais e nordestinas. Ele apontou que a marca não se tornou parte integrante do cotidiano da população, e atribuiu isso a diversos fatores, incluindo estratégias de marketing e propaganda.

“Por muitos anos, em outros lugares do Brasil, o cearense era chamado de um judeu brasileiro porque é um povo que, dentro da sua história, tem uma capacidade e se desenvolveu ao longo dos séculos, ao longo das décadas, ao longo da história econômica do nosso Estado, com exímia habilidade comerciante. Então, os cearenses, eles são bons comerciantes, sempre foram bons comerciantes, muito por conta da necessidade, muito por conta da escassez que o Nordeste, a seca, tinha com o tempo e isso forçou o povo, forçou a população, forçou um direcionamento econômico de prosperidade”, explica. 

“Então, isso aí faz parte do dia a dia do cearense, ir ao supermercado, ir às feiras, ir ao mercado atacadista, mesmo advindo dos recursos tecnológicos que hoje existem, mas faz parte da cultura do cearense. Tanto é que em muitos lares, ainda é comum a ida a um mercado, a uma feira, supermercado, todos os dias. Isso em outras regiões do país é realmente bem raro ver isso acontecendo”, complementa o consultor. 

Dyna destacou que, no Ceará, a cultura do comércio, varejo e a forte presença de mercadinhos são elementos essenciais para entender o comportamento do consumidor. Ele enfatizou que o cearense possui uma tradição de ir ao supermercado, à feira e ao mercado atacadista, mesmo com o avanço dos recursos tecnológicos.

Sobre a mudança de bandeira das lojas Carrefour para Atacadão e Sam’s Club, Dyna prevê alterações significativas em termos de serviço, atendimento e processos internos. Ele ressalta que as novas marcas buscarão uma excelência operacional, promovendo eficiência, padronização e menos atendimento pessoal, visando preços mais competitivos.

“Em grande parte da mudança de bandeira ela se dá por estrutura física, pouco as alterações. Estrutura logística é onde eu vejo que tem maior parte de alteração, principalmente em processos internos. Então os processos internos da companhia, eles são diretamente ligados ao quanto se tem de eficiência, consequentemente reduz custo, consequentemente consegue trabalhar com preços e imagens satisfatórias”, conta Dyna.

“Acredito que as novas marcas que estão assumindo as operações em questão do Carrefour, eles vão mudar, vão ter alterações significativas em termos de serviço, atendimento, em termos de processos internos, em prol de uma excelência operacional maior, e esse termo excelência operacional é um tipo de posicionamento estratégico que essas marcas que estão assumindo têm muito forte”, aponta.

O encerramento das operações do Carrefour no Ceará marca uma mudança significativa no cenário varejista local, com as novas marcas buscando adaptar-se às demandas e características específicas da região.