Opinião
Há decisões que precisam ser tomadas para o bem de todos. Sem desafios não há crescimento e nem sustentabilidade para o negócio
Já pararam para pensar que filmes como “A Procura da Felicidade (2006)”, “Joy – O nome do Sucesso (2015)”, entre outros que abordam o empreendedorismo começam com o protagonista empreendedor passando por dificuldades? E aí, a história segue mostrando toda a “jornada do herói” de superação de obstáculos até o sucesso? Correndo o risco de ser clichê, afirmo: a arte imita a vida.
Quando você decide empreender, ao se ver diante de um desafio, não existe rota de fuga. É preciso tomar atitudes que nem sempre serão fáceis ou rapidamente aceitas. É preciso assumir os riscos e isso exige uma espécie de “estofo” que vem desde muito cedo. “Conhecimento, ninguém te tira” é o que meu pai sempre me disse.
Hoje com 36 anos, “estou” CEO da Bmg Granito, uma empresa de meios eletrônicos de pagamento. Digo “estou” porque pode ser que o cenário mude. Nós bem sabemos que mudanças surgem de uma hora para outra e alteram os planos… Vide a pandemia do novo coronavírus.
E foi esse o desafio mais recente que me fez tomar decisões nada fáceis. Qualquer executivo precisa ter o “estofo” mencionado acima, representado por valores como “caráter”, “fazer as coisas bem feitas”, “não deixar para depois” e “assumir a responsabilidade pelas coisas”. Acredito que esses direcionamentos construídos no começo da vida profissional, aliados aos erros, acertos e adaptações que realizamos no caminho, nos deixam mais capacitados para decidir. Isso também é experiência, que é fundamental para empreender com sucesso.
Empreender não significa apenas começar um negócio do zero. É também realizar o empreendedorismo interno – quando os funcionários são livres para criar novas ideias, melhorar processos e contribuir com o crescimento da empresa onde trabalham. Ou seja, uma importante metodologia em que todos saem ganhando: colaborador, empresa e clientes.
Assim, gostaria de compartilhar o que vivenciamos recentemente na Bmg Granito, empresa com cinco anos de atuação em um mercado altamente competitivo. Desde o início, nossa ideia era bastante clara: montar uma plataforma para processar pagamentos. Ela foi criada totalmente do zero e somos proprietários de toda a tecnologia, de ponta a ponta, do software dentro do terminal ao que processa, ao que liquida para o estabelecimento, ao que ajuda no atendimento, permitindo entregar as melhores e mais rápidas soluções para os clientes. E, com os valores que priorizamos, estabelecemos nossa cultura e seguimos crescendo ao longo dos anos.
Aí veio 2020. A expectativa era grande pois iniciávamos nossa expansão comercial. Mas, com a pandemia, houve a necessidade de quarentena e isolamento social e o varejo levou um baque. Como não atuamos em segmentos essenciais, vimos o volume de transações cair e muitos estabelecimentos que atendíamos tiveram que fechar as portas. O mercado tomou um impacto de 25% de quebra de volume e nós caímos mais de 40%.
Nesse momento, nossos valores falaram mais alto. Foi aí que vi a importância da cultura de uma empresa e da formação de um time com as pessoas certas. Quando o mercado começou a demitir para preservar caixa, continuar ganhando dinheiro, não quebrar e preservar os acionistas, vivemos um teste de estresse: “será que realmente temos valores fortes, verdadeiros? As pessoas são fundamentais?” A resposta é sim. E no meio de uma expansão, com recurso limitado, tendo que crescer para provar aquele modelo de negócio, decidimos não demitir ninguém. Nosso plano era outro.
Decisão difícil, mas que precisava ser tomada. Em primeiro lugar, porque respeitamos as pessoas. Segundo porque, para o bem de todos, precisávamos de um plano para a empresa continuar crescendo. Foi quando tomamos uma segunda decisão bem mais difícil. Passados 15 dias da quarentena, retomamos o trabalho presencial. Acredito que, no nosso negócio, o modelo remoto não nos beneficiaria. A criatividade, produtividade e inovação, tão necessárias para a sobrevivência e crescimento das empresas, nascem da interação entre as pessoas.
Assim, explicamos para os colaboradores que precisávamos do comprometimento de todos para que pudéssemos evitar demissões, recuperar o que perdemos e conseguir voltar a crescer, e isso exigiria um envolvimento ainda maior de cada um. Como resultado, 95% das pessoas não só entenderam, mas se comprometeram muito com a nossa estratégia.
Em maio, a Bmg Granito já estava contratando novos funcionários. Estamos crescendo 25% ao mês e, hoje, já estamos 80% maiores do que éramos em janeiro e fevereiro deste ano. O próximo passo será concluir a expansão comercial e dar andamento ao plano que vai até 2022. Devemos fechar 2020 com 500 funcionários e, no ano que vem, com mais mil.
Para tomar decisões arriscadas, as empresas precisam confiar na sua cultura, nos seus valores, no engajamento e comprometimento do time com o seu propósito. No nosso caso, a estratégia refletiu nos resultados da pesquisa do Great Place To Work, realizada em meio à pandemia com os funcionários. A Bmg Granito conquistou a certificação GPTW com 92% dos colaboradores acreditando que é um excelente lugar para trabalhar. De quebra, acabamos de ser premiados pelo órgão ao figurar no ranking das melhores empresas para se trabalhar em Barueri e região.
Sim, o empreendedorismo interno é fundamental. Mas, para chegar nele, a cultura de uma empresa – formada por valores éticos e sólidos – precisa ser sua fortaleza e, ao mesmo tempo, seu desafio. Porque sem desafios, não há crescimento e nem sustentabilidade para o negócio. Essa foi uma grande lição que a pandemia tem nos ensinado.
Rodrigo Luiz Teixeira
CEO da BMG Granito, um empresa especializada em meios eletrônicos de pagamento. Especialista no mercado de meios eletrônicos de pagamentos, formado em Administração pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU. Administrador e fundador da empresa Pago Cartões, em 2015, hoje conhecida como BMG Granito, Rodrigo possui experiência corporativa e alta capacidade analítica e estratégica. Teve passagem pela consultoria estratégica na Oliver Wyman, do grupo MMC, em projetos de Telecom. Entre 2009 e 2011, foi o responsável por criar a área de inteligência de mercado e pesquisa de marketing na Bematech, proporcionando uma nova visão de decisões baseadas em dados. Em 2011 co-fundou a Cappta, empresa iniciante no mercado de tecnologia de transações com cartão de crédito|débito, onde trabalhou até 2014. Com uma estratégia muito bem sucedida, em pouco tempo a empresa alcançou números expressivos e processou mais de R$ 500 milhões em transações com cartão no varejo / mês.