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Impressões sobre o mercado de Venture Capital

Publicado em

26/08/2021 07h50

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Nunca houve tanta disponibilidade de capital para investimentos em startups no Brasil e no mundo. É o que nos mostram os números dos últimos relatórios do mercado de venturecapital. Entretanto, a indústria apresenta desafios de concentração, maturidade e gênero que precisam ser evidenciados e discutidos.

Recentemente, liderei um evento de um mês e meio sobre o tema, chamado Conexão & Capital. Foram quatro painéis sobre temas diversos e duas bancas com investidores. No total, participaram 20 profissionais ligados diretamente à indústria, sejam como analistas de investimento em grandes fundos, anjos investidores ou CEOs de startups que articularam rodadas de captação.

A primeira impressão logo se apresentou: onde estão as mulheres nesse mercado? Ao questionar uma instituição se poderia indicar representantes femininas para o evento, recebi a seguinte resposta: “gostaríamos muito de contratar mulheres, mas ainda não tivemos sucesso.” Sim, isso mesmo! Outros apenas informaram: “não temos mulheres na equipe.” E me pergunto: ninguém percebeu isso antes? Alguém está empenhado em transformar essa realidade?

Essa constatação, apesar de não ser uma informação relativamente nova, reforça o quanto aigualdade de gênero ainda é uma realidade distante nesse contexto. A boa ótima? Durante essa jornada, encontrei mulheres organizadas em prol dessa mudança, liderando grupos de fomento à ocupação feminina nesses espaços. Chequem a página da Wishe ou da Elas & VC.

Outro desafio que motivou a abertura do primeiro painel da temporada foi a concentração dos investimentos em venture capital no Brasil. Segundo o Distrito, um dos principais hubs de inovação do Brasil, 83% do volume de dinheiro investido está em São Paulo. O Nordeste recebe menos de 1% do montante alocado. E parece que a questão não está somente na maturidade do ecossistema, pois por outro lado, especialistas apontam a região como a grande promessa de empreendedorismo e inovação do Brasil com cases como: Inloco, Agenda Edu, Autoforce, entre outros.

Olhando especificamente para o ecossistema cearense, a impressão é que este cenário vem melhorando e startups potenciais vêm recebendo aportes. Contudo, a maior parte dos investidores são de fora do Estado. Reduzimos a concentração, mas perpetuamos um modelo de comércio que tira o lucro do seu local de origem? Será que o capital local não poderia ser alocado no desenvolvimento de mais negócios e tecnologias para o Estado?

Por fim, o desafio da maturidade. O volume de capital de risco investido no Brasil e no mundo em startups maduras chega a ser 10 vezes maior do que o montante destinado àquelas em estágio inicial. É natural que aportes maiores sejam feitos em fases mais avançadas, mas a questão é que ainda temos um ecossistema em construção que precisa de fomento inicial para não correr o risco de desincentivar e/ou inviabilizar negócios nascentes. Será que os montantes destinados às fases iniciais estão chegando até os empreendedores? E/ou será que os empreendedores estão se preparando para buscar e receber esse tipo de aporte disponível?

No geral, os dados mostram um cenário de venture capital promissor e um ciclo de inovação que se acelera no Brasil. Crescemos em empresas unicórnios, em aquisições e fusões e em rodadas de investimentos. A impressão é que mesmo com o ambiente caótico, o fomento à tecnologia emerge como solução. E, é por meio de um empreendedorismo inovador que poderemos ver impactos positivos na saúde, na inclusão financeira, digital e na educação da sociedade. Então, é importante tratarmos os desafios da indústria que incentiva esse crescimento para termos mais diversidade e igualdade da concepção até o investimento.

 


 

Sara Aragão

Coordenadora de Relacionamentos e Parcerias do Programa Corredores Digitais